𝐏𝐫ó𝐥𝐨𝐠𝐨 - 𝙰𝚕𝚟𝚘𝚛𝚊𝚍𝚊

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["Como nos perdoamos pelas coisas das quais não nos tornamos?"]

[AVISO! Essa história contém:

— Violência explícita (física e verbal).

— Cenas de sexo explícitas.

Leia por sua própria conta e risco.]

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Eu assassinei minha família.

Eu compreendo... Compreendo o que pode estar a passar pela sua cabecinha desordenada no momento, e sei bem o que deve estar a pensar de mim. Mas entenda que há uma razão para tudo isso, e uma boa razão para estarem mortos.

Eles não eram pessoas boas. Cada um deles mereceu a morte que recebeu. Foi uma punição divina pelas suas ações, uma consequência dos seus atos; algo que tanto me diziam. Costumavam passar horas e horas falando que eu receberia uma punição apenas por ser quem sou, apesar de terem-me aceito.

Aconteceu em um fim de tarde. Eu já planejava há meses, sempre observando os detalhes, toda a rotina de cada um deles para que eu enfim conseguisse executar o plano perfeito e ser livre desta prisão.

Estava sentado sobre os galhos de um dos nossos pomares, em uma das poucas vezes que a saída da morada me foi permitida, mas havia garantido essa escapadela temporária sendo o bom garoto que deveria ser. Cuidei dos animais, ajudei na plantação, fui bondoso com os meus irmãos, apesar de estar evidente em suas expressões o quanto achavam que eu era uma aberração a ser escondida em um quarto escuro.

E então, assim que o último raio de sol sumiu da minha vista, eu desci. Um sorriso orgulhoso pairava no meu rosto enquanto eu caminhava pela fachada, olhando através da janela e percorrendo calmamente até o estábulo, abrindo sem qualquer dificuldade a porta. Andei até o final, olhando para o Storm, um dos nossos cavalos que soltaria de volta à natureza uma vez que tudo estivesse pronto. Se eu o deixasse lá, morreria de fome.

Nos fundos do estábulo, também havia um pequeno cômodo onde várias ferramentas eram descartadas até o seu devido uso. E me aproveitaria desse pequeno descuido para pegar a arma que eu sabia melhor manejar. O machado.

Me agachei, pegando-o em um único gesto e passando minha mão pelas orelhas do cavalo, que ainda lá permanecia, antes de sair do local, fechando as portas. Fui então até a minha morada, abri a passagem e encarei cada canto daquele lugar. Daquela maldita prisão.

Eu poderia tê-los chamado e enfrentado, mas eu sabia que perderia assim que o meu pai se metesse na discussão. Portanto, em vez disso, eu fui até o quarto do meu irmão caçula, o preferido dos meus pais, o garoto perfeito e provavelmente o que eles nunca esperariam de mim.

Ainda assim, era apenas uma criança de nove anos. Não merecia sofrer tanto assim, por isso aproximei-me do garotinho que estava deitado de bruços na cama. Antes de me acercar do seu corpo, eu encostei a porta, e assim que dei um passo, ele percebeu a minha presença, me reconhecendo até pela forma que eu caminhava.

Mas eu não respondi-o, e ele também não se virou. Por isso imagino que não tenha sido tão doloroso quando eu, com toda a força que adquiri com esses trabalhos manuais, levantei o machado e o despenquei sobre a sua nuca. Tampouco gritou. O seu corpo apenas teve um espasmo, um susto, e depois imóvel novamente, exatamente do jeito que o encontrei.

Almas ContaminadasOnde histórias criam vida. Descubra agora