𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟓 - 𝘗𝘦𝘯𝘶𝘮𝘣𝘳𝘢

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["Ser livre é muitas vezes sentir-se só.'']

...

Interior de Londres, Setembro de 1725.

Gabriel entreolhava-se com Manuel, ambos sentados no pequeno sofá da aconchegante e improvisada sala de estar enquanto ansiosamente aguardavam pela resposta de Aaron quanto ao pedido arriscado. Mais uma semana havia se passado com Nicolas preso naquele quarto, mais uma semana sem qualquer informação nova e, mais importante, mais uma semana sem agir.

Acho que tu enlouqueceste, Gabriel. — E é tudo que escapa da boca do homem em um profundo suspiro, pressionando os dedos entre as sobrancelhas grossas.

— Ele não disse-nos mais nenhuma informação importante e também não encontramos mais nada a respeito dele. Precisamos nos aproximar dele. Tu sabes que ele é honesto, senhor. E eu não imagino que ele tentaria fugir...

— Seu imbecil, te lembras exatamente da situação em que o encontramos? Ele estava fugindo. — Aaron levanta-se da sua poltrona, já farto daquela conversa.

— Mas senhor... precisamos que ele se junte à nossa causa. — Manuel então toma a palavra, igualmente levantando-se e segurando calmamente na manga do homem, que vira-se em um semblante atencioso. — De que outra forma conseguiremos que ele se compadeça senão nos aproximando dele? Precisamos que ele se importe conosco para que considere nos ajudar. Andrés está fora de questão nisso, e Gabriel possui as suas dificuldades... Necessitamos de mais um.

Aaron encara o rapaz à sua frente, como se considerasse por mais alguns segundos a proposta insana que lhe fora feita. Bem, ele não estava totalmente errado. Realmente precisavam encontrar uma forma de angariar a confiança de Nicolas de uma forma ou de outra e, se aquele quarto confortável, as refeições e agora os eventuais banhos não estavam sendo o suficiente, então, quem sabe, precisaria ceder mais cedo do que pensara quanto à sua proposta original.

— Façam o que quiserem. — Ele então diz seguido de uma respirada profunda, passando as mãos pelos seus cabelos escuros e virando-se à direção da janela que exibe uma belíssima noite. — Se ele fugir, saiba que ambos serão responsabilizados com a devida punição.

— Sim, senhor. — Ambos dizem ao mesmo tempo, baixando ligeiramente a cabeça em sinal de respeito e observando-o enquanto subia as escadarias pesadamente, provavelmente indo para o seu quarto.

Os rapazes aguardam mais alguns minutos para sequer ousarem abrir a boca, temendo que Aaron pudesse ouvi-los se ainda estivesse marchando pelo corredor. Portanto, apenas soltaram o ar dos pulmões ao escutarem a batida da porta e subir alguns degraus para verificar se ele estava mesmo em seus aposentos.

— Eu acho que está na hora de dizer a verdade a ele. — Manuel então fala primeiramente, encostando-se ao lado das escadarias. — É a única forma. Já não vale mais a pena lhe esconder a verdade, até porque ele possui tanta certeza de que está certo de que o nosso teatro nunca obteve qualquer resultado.

— Eu concordo. — Gabriel foi sucinto com a sua resposta, encarando-o por breves segundos antes de respirar fundo. — Eu irei buscá-lo.

— Espera, tu irás sozinho? — Manuel arregala os olhos, aproximando-se instantaneamente do amigo e segurando-o pelos ombros. — Eu pensei que iríamos juntos nessa.

Almas ContaminadasOnde histórias criam vida. Descubra agora