𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐 - 𝘏ó𝘴𝘱𝘦𝘥𝘦

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["Você está com vergonha do seu sangue, do seu vermelho, da forma que apenas está escorrendo de você sem consideração pelo sentimento de ninguém. Você está com vergonha de estar vivo."]

...

Interior de Londres, Agosto de 1725.

Nicolas não tinha ideia de quanto tempo passou completamente desacordado. Porém, de uma coisa teve certeza ao finalmente abrir os seus olhos outra vez: pelo menos não estava morto. Ainda que uma dor aguda lhe tenha dado bom dia antes de ouvir qualquer voz familiar, ao menos estava vivo. Não sabia como, e as memórias demoravam para voltar completamente.

Porém, mesmo assim, buscou reconhecer o lugar estranho em que se encontrava. Os olhos cansados percorreram cada centímetro do suposto quarto. Era mediano e bem simples, apesar da cama ser ligeiramente confortável e haver umas boas camadas de pó sobre qualquer outro móvel. Não parecia um quarto que era utilizado por muita gente, se é que era utilizado.

Mas... isso não importava tanto assim. A pergunta que não parava de rondar a sua mente era: quem me salvou? Sem dúvidas não poderia ter sido aquelas criaturas. Todavia, se não tivessem sido elas, então quem mais poderia ser? Não achava crível que mais uma sentinela tivesse aparecido e, mesmo que esse fosse o caso, seria ainda menos possível que o tivesse salvo. Então, quem sabe, um local? Não, também não. A casa mais próxima após a sua era há pelo menos alguns quilômetros.

Nicolas negou a possibilidade com a cabeça, suspirando pesadamente e ousando mover-se um pouco na cama em que estava. E é apenas nesse momento em que ele percebe um detalhe tão crucial que, até o momento, passou despercebido.

As suas mãos estavam presas.

Franziu o cenho, dirigindo o olhar para o único espelho empoeirado do quarto e notando, através dele, que alguém tinha contido as suas mãos na cabeceira da cama, como se fosse um prisioneiro. Ótimo, saiu de uma prisão para entrar em outra.

E não apenas isso, mas descendo o olhar pelo seu corpo, era perceptível que o seu ferimento pela bala tinha sido tratado até que muito bem. Agora o seu estômago estava completamente enfaixado, ainda com um pouco de sangue manchando as faixas amareladas. Espera. Se alguém fez esse curativo e tratou-o enquanto estava desacordado, isso significava que havia sido tocado.

Os seus olhos se arregalaram em surpresa, dando o seu melhor para tentar soltar-se daquelas amarras em suas mãos. Porém, toda a força que detinha na noite passada simplesmente desvaneceu-se por completo. Não sabia ao certo o que havia acontecido, mas algo despertou-se no seu interior enquanto matava a sua família, algo que agora novamente estava muito bem adormecido.

Grunhiu, desistindo de escapar por alguns segundos ao sentir a sua ferida doer ainda mais pelos movimentos bruscos. Assim, apenas deitou-se derrotado, encarando diretamente à porta, esperando que alguém a abrisse de uma vez, para assim lhe explicar o que realmente aconteceu na noite passada.

E, como se alguém lesse os seus pensamentos, não muito tempo depois de ter voltado com o seu olhar para a entrada, ela enfim abre-se, revelando não apenas uma pessoa, mas cinco. O primeiro a entrar já é o suficiente para lhe comprovar a teoria mais maluca que havia dito.

Sim, foram aquelas criaturas que o tinham salvo.

E, ao notar o primeiro entrar, o desespero tomou tamanha conta do seu corpo que tampouco se importou com os demais, que foram se ajeitando em diversos cantos do quarto.

Almas ContaminadasOnde histórias criam vida. Descubra agora