🦋 Diez 🦋

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Sasuke estava no meio do caminho pra casa quando recebeu a carta de Sai. Seu coração acelerou conforme lia cada palavra, e ao chegar ao fim, suas mãos tremiam. O ar pareceu sumir de seus pulmões.

Ele disparou na direção de Konoha, sem se importar com quem ou o que estava em seu caminho. Ele ignorou todos os seres vivos em sua frente, enquanto ia em alta velocidade até o hospital quando finalmente cruzou os portões de Konoha. E quando finalmente chegou, encontrou todos os seus amigos e os do loiro, junto aos sensei, em um corredor.

Ele estava ofegante, um pouco de suor escorria de sua testa e era perceptível o desespero em seu olhar. Todos que estavam lá apenas o encaravam em compreensão, e após Sakura o cumprimentar com um abraço enquanto chorava, o guiou até o quarto do loiro.

Ao abrir a porta do quarto, encontrou Kakashi e Iruka. Ambos estavam parados ao lado da cama do loiro, seus rostos marcados pelo sofrimento. Iruka, em especial, segurava as próprias lágrimas, sendo amparado pelo abraço de Kakashi.

O loiro deitado na maca parecia pequeno demais, sua respiração lenta, o peito subindo e descendo com esforço, auxiliado pelos aparelhos.

O casal percebeu sua presença e, sem precisar de palavras, decidiram sair. Kakashi foi o único a fazer algo antes de partir; —aproximou-se, bagunçou os cabelos negros de Sasuke e pousou uma mão firme sobre seu ombro. Um gesto silencioso de apoio, antes de sair junto ao noivo.

Sasuke ficou ali, parado, tentando acalmar sua respiração descompassada. Aos poucos, deu alguns passos hesitantes até se sentar ao lado da cama. Observou o rosto pálido do loiro, os fios dourados bagunçados como sempre.

Com certa relutância, pegou a mão dele. Ainda estava quente. Ainda era Naruto.

Foi nesse instante que os olhos azul-safira se abriram, preguiçosos, pesados, encontrando os negros universo do Uchiha quase no mesmo segundo. Naruto piscou algumas vezes, como se tentasse dissipar uma ilusão, e então sorriu, fraco, mas sincero.

— Teme... você veio... — Sussurrou.

O coração de Sasuke apertou.

— Naruto... por quê? — Sua voz falhou. — Por que não disse nada?

O loiro respirou fundo, reunindo forças para responder.

Não queria...preocupar vocês. Não queria ser... uma flor de vidro.

Os olhos negros brilharam com algo indefinível, e ele apertou um pouco mais os dedos entrelaçados.

— Idiota... — Sua voz era quase um murmúrio. — Eu achei que tinha tempo. Achei que poderia consertar tudo antes de vir até você e dizer o quanto...

Ele se interrompeu, as palavras presas na garganta.

Naruto sorriu de canto.

— O quanto me ama? — Brincou, rindo fraquinho. — Eu sei... sou incrível, impossível não se apaixonar...

Sasuke soltou um riso nasalado, balançando a cabeça.

— Idiota...

— ...Eu também te amo, teme. — Disse com um sorriso, o moreno levantou a cabeça pra o olhar.

Ele sorriu de lado, frágil.

Eu sei...sou irresistível. — Falou com um pequeno sorriso, o loiro riu fraco.

Nem um pouco convencido... — Falou, tirando a máscara que o ajudava a respirar.

Naruto?

O quê? Tô fazendo uma coisa que deveria ter feito antes mas fiquei esperando o bocó aí e me fudi.

Antes que Sasuke pudesse questioná-lo mais, Naruto puxou a gola de sua roupa e colou seus lábios nos dele.

Foi um toque suave no início. Um selinho desajeitado e breve. Mas quando Sasuke sentiu o calor familiar da boca do loiro, seu corpo se moveu por conta própria. Ele aprofundou o beijo, segurando o rosto dele com suas mãos tremulas, como se quisesse segurá-lo ali para sempre.

Uma lágrima quente escorreu por seu rosto. Eles se separaram lentamente, ofegantes.

Naruto levantou a mão trêmula, enxugando a lágrima solitária — Não chora teme...

O Uchiha colocou suavemente sua máscara respiratória, assentindo em concordância mesmo sabendo que não conseguiria se segurar por muito tempo.

O silêncio caiu entre eles por alguns segundos, até que Naruto voltou a falar, sua voz mais fraca do que antes.

— Nee, depois... quero que vá no meu quarto, na casa dos meus pais... dentro do meu guarda-roupa, tem um fundo falso... um cofre.

Sasuke franziu o cenho.

— O que tem lá?

Naruto sorriu, mas seus olhos já começavam a perder o brilho.

— A senha é... sua data de aniversário...

O aperto em sua mão ficou mais fraco.

— Naruto...?

O sorriso dele se suavizou.

— ...Eu te amo, teme.

Sasuke sentiu o peito apertar de um jeito insuportável.

— Naruto? Ei...ei dobe olha pra mim! — Se levantou, seus dedos seguraram o rosto dele com desespero, tentando fazê-lo abrir os olhos de novo.

— Naruto, me ouve! Não me deixa também!! Por favor! Por favor Naruto!!! E-eu.. eu te amo! Me escuta!!!

O som do bip contínuo da máquina cortou o ar.

O mundo de Sasuke parou.

Ele sentiu as vozes ao seu redor. Sentiu os passos apressados, os gritos, os soluços.

Mas nada daquilo importava.

Naruto não voltava.

Ele nunca voltava.

Sasuke ficou ali, imóvel, segurando o rosto dele, esperando que abrisse os olhos. Esperando que sorrisse de novo. Que zombasse dele mais uma vez.

Mas isso nunca acontecia.

Mesmo com suas preces sussurradas, mesmo com seu choro, mesmo com seu aperto, mesmo com suas promessas de que dessa vez ele ficaria então por favor, por favor volte, nada o fazia acordar. Nada o fazia levantar, nada o fazia dizer algo ou, muito menos, fazia seu coração voltar a bater.

Não se vá, Naruto. Era o que mais pediam, mas ele nunca voltava. Nunca voltava pra eles, pra ele.

Sasuke já fez muita burrada na vida, sim, ele entende isso. E uma das mais dolorosas era ter deixado pra trás uma das pessoas que ele mais amou na vida, que ele sempre amou, só não sabia dizer, expressar, mostrar.

Como se já não bastasse seu clã, seu irmão, havia perdido Naruto também. O sol de sua vida. A pessoa que o fazia sorrir sem esforço. Que o fazia querer levantar da cama. Que o fazia sentir que havia um motivo para seguir em frente, que o motivava a querer concertar as coisas que destruiu.

Como viver agora, sabendo que o amor de sua vida se foi sem ao menos ouvir que o amava, o amava de verdade? Que não tinha nada, nada haver com a lua e as estrelas, o sol e a lua, Hashirama ou Madara, Ashura ou Indra?

Sim, não tinha nada haver com isso, apenas com eles. Eles e o destino. O filho da puta do destino que os separou mais uma vez.

O destino que sempre brincou com ele. Sempre tirou tudo que ele amava.

Sasuke sentiu uma risada amarga escapar de seus lábios.

Ele queria morrer.

Ele só queria morrer agora, mas viveria. Não só para manter a memória da pessoa que amou mais do que a si mesmo, como para se torturar.

Se torturar pensando que poderia ter sido diferente, se não tivesse feito tudo errado, como sempre.

Cardiopatia congênita Onde histórias criam vida. Descubra agora