Desejos mais sombrios • Caliban

Dois

A areia se moveu sob os pés de Caliban enquanto o sol pairava baixo no horizonte, iluminando o espaço ao seu redor. Ele olhou para a cena encantadora, luz etérea lavando cada superfície da terra, pintando-a com pinceladas de ouro puro. A combinação de roxo, dourado e azul que destacava o céu provou a Caliban ainda mais que ele estava exatamente onde precisava estar. O calor escaldante formigou contra sua pele. Ele passou, interrompendo a paisagem pitoresca com uma névoa ondulante. Apesar do calor quase insuportável, Caliban ainda podia sentir a magia que permanecia no ar abafado que roçava sua pele.

Examinando seus arredores com reverência, Caliban absorveu o vazio ao seu redor. Dunas montanhosas subiam e desciam a perder de vista, e ele não teve dúvidas de que foi o primeiro a pisar esta terra em muito tempo. O portal que ele convocou o colocou longe de qualquer civilização moderna, deixando-o sozinho no terreno deserto. Era seguro assumir que nenhum mortal vivo guardava a memória deste lugar. Mas, apesar de seu milênio de negligência, sua beleza perdura até hoje.

Os cachos de Caliban sussurravam na brisa sutil que não fazia nada para subjugar o calor sufocante, atraindo gotas de suor para sua pele. Logo a noite cairia e sua tarefa se tornaria muito mais tediosa na escuridão. Recusando-se a perder mais tempo, Caliban continuou sua jornada. Ele finalmente estava a apenas alguns minutos de encontrar o que havia passado dias procurando. Nada o impediria de deixar o deserto sem ele - nem o calor, nem a escuridão opressiva que logo viria. Este exato momento significava tudo. Poderia resolver todos os seus problemas, torná-lo mais poderoso do que nunca. Nada poderia ficar em seu caminho. Cada passo que dava solidificava sua certeza de que aquele era de fato o lugar que procurava. Cada texto, cada feitiço, cada sussurro, culminou neste momento.

Paredes de pedra meio desmoronadas e colunas erodidas olhavam para ele com séculos de sabedoria. Uma vez, este lugar pode ter sido um espetáculo para ser visto, mas agora não era nada mais do que um terreno baldio abandonado. Mas sob as camadas de areia e entulho, algo estava há muito esquecido. Caliban parou bem no centro da estrutura esquelética e inclinou a cabeça para o lado.

Algo estava diferente aqui. Um rastro fantasmagórico de energia desceu por sua espinha como se alguém tivesse pegado um dedo e pressionado contra sua pele. Estava aqui.

Ele visitou muitos locais, seguiu pista após pista, todos eles becos sem saída. Mas agora ele sentia. O sussurro de poder apenas esperando para ser despertado, esperando para ser exercido, e Caliban seria o único a fazê-lo. Um sorriso subconscientemente curvou seus lábios enquanto seu peito se enchia de satisfação, sabendo o quão perto ele estava de conseguir tudo o que sempre sonhou.

Caliban enterrou os dedos na areia. Sua pele gritou em protesto quando os grãos queimaram com o contato. Mas mesmo que seus dedos queimassem até o centro, mesmo que o calor o deixasse com nada além de seus ossos nus, ele não abandonaria sua busca.

Então, quando seus dedos fizeram contato com o que ele poderia ter imaginado estar fisicamente no próprio sol, Caliban não fez nada além de se encolher. Ele mordeu a língua com a queimação crescente que sentia na ponta dos dedos, mas se recusou a retirar as mãos.

"Nudant thesaurum istum" sua voz cortou o silêncio em uma língua antiga. O vento a levou pelo deserto, onde jamais seria ouvida por outra alma. A areia sob suas mãos começou a se mover e se agitar com inquietação. Um ruivo surgiu do movimento quando a areia começou a fugir para o lado, e ele ficou cada vez mais perto de alcançar seu prêmio.

A excitação borbulhava em seu peito enquanto a agitação diminuía e a areia se acomodava em sua nova posição. Ele olhou para o poço raso que havia criado e seus olhos captaram um brilho dourado. O brilho refletido em seus olhos cheios de ganância, transformando o azul suave em um conjunto de brasas ardentes.