POR SORTE, Amanda conseguiu descer para o segundo andar sem ser vista. Uma coisa era entrar furtivamente durante a noite, quando a escuridão ajudava a esconder seus movimentos, outra era fazê-lo com a luz do Sol entrando por todas as janelas abertas e cortinas claras, aquilo demandava muito mais cuidado de sua parte.
Ao chegar no térreo da residência, passou por uma janela que, pela rua, estava coberta por uma carroça e começou a caminhar normalmente. Havia prendido os cabelos num coque simples, porém, bem feito. Segurava em sua mão direita, uma sombrinha clara, acessório obrigatório para toda senhorita. Andou até o fim da rua e virou para atravessá-la. Do outro lado, encontrava-se a mercearia, local onde grande parte dos moradores da cidade compravam suas verduras e legumes. Amanda esperava conseguir alguma informação.
— Bom dia, senhorita — cumprimentou o vendedor.
— Bom dia — Amanda respondeu. — O escravo do Conde de Castro já passou por aqui hoje?
O homem riu.
— Não deixe que o filho dele lhe escute falando dessa forma, são todos homens livres agora. Foram alforriados. Agora são empregados.
A ladra sorriu. A fama da família do Conde de Castro era conhecida na cidade. Sempre trataram seus escravos de forma peculiar e isso causava estranheza em outros fazendeiros.
— Então, já veio alguém? — insistiu na pergunta que fez.
— Não, madame, mas estão para chegar. — O homem olhou para fora, como se analisasse a sombra do Sol.
— Obrigada, senhor — Amanda respondeu, virando-se. Não tinha para onde ir e corria o risco de ser reconhecida, caso deixasse a segurança de um teto. Não poderia ficar caminhando na rua, precisava de uma desculpa para continuar no estabelecimento.
Analisou o movimento do lado de fora; nenhum agente da Força Pública à vista. Voltou-se para dentro e sorriu para o homem atrás do balcão.
— Se importa se eu aguardar aqui?
O homem apenas sacudiu a cabeça e Amanda moveu-se para dentro do estabelecimento. Estava com fome, com sede e cansada, contudo, deixou tudo no casarão quando fugiu e não tinha nada para oferecer ao comerciante em troca de alimento. Fez uma prece rápida para que não demorassem em chegar.
***
Já passava do meio dia quando uma carruagem se aproximou da mercearia e uma robusta mulher desceu dela, sendo seguida por um negro forte que estava em um carro de boi logo atrás.
— Não poderia ter sido melhor atendida — Amanda sussurrou para si mesma, lembrando-se de que rezou para que conseguisse sair da cidade.
A mulher era Lurdes. Uma antiga conhecida da mãe da ladra e de quem tinha um favor para cobrar. Era nela que Amanda queria chegar, era dela que a jovem precisava.
— Olá, Cláudio — Lurdes cumprimentou o comerciante. — Preciso de uma saca de café.
— Dona Lurdes? — Amanda a chamou, com falsa delicadeza, do fundo do corredor.
A mulher olhou para trás e franziu a testa, tentando ver quem a chamava. Então, a jovem saiu das sombras em que se escondia e foi para a luz, sorrindo.
— Sou Amanda... — Por um momento engasgou. Ela sabia que se falasse seu sobrenome, o homem por trás do balcão saberia que era a ladra mais procurada da província. Então, optou por usar o sobrenome da mãe, Belshoff, que foi deserdada por se casar com um homem que o pai não aprovava.
— Amanda Belshoff. — Sorriu docemente.
— Oh! — Lurdes exclamou, surpresa. — Vosmecê cresceu, menina. Não esperava vê-la por essas bandas.
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Desejo e Honra
Ficción histórica*Capítulos para degustação* Amanda precisa fugir. Os guardas da Força Pública estão em seu encalço e ela não quer perder sua adorada liberdade. Para não ser presa, precisará pedir auxílio a Lurdes, uma antiga amiga de sua falecida mãe, e terá que t...