𝙵𝚘𝚛 𝚢𝚘𝚞𝚛 𝚕𝚘𝚟𝚎 | 𝐏𝐚𝐛𝐥𝐨 𝐆𝐚𝐯𝐢𝐫𝐚 ☘︎♡︎

03. 𝐎𝐧𝐞 𝐓𝐡𝐢𝐧𝐠

Jade Gonzalez

Canto algumas músicas mas evito olhar para toda aquela gente me encarando.

Chego ao final da última canção chamada "Baila conmigo" quando meu olhar se cruza com o de um garoto de cabelos escuros e olhos bem castanhos, quase pretos. Nos encaramos por alguns minutos mas sou interrompida quando a batida do violão acaba.

As palmas puxadas por Tina começam, sinalizando que eu havia finalizado a apresentação ali.

- Arrasou, como sempre faz. Tina vem até mim me abraçando.
- Obrigada Tina. Estava nervosa. A olho.
- Percebi, mas acho que alguém em especial fez você perder a noção do que estava fazendo. Ela diz apontando de canto com a cabeça me fazendo olhar.

Um garoto se aproxima de Tina e fala algo indecifrável em seu ouvido:
- Já volto. Ela fala um pouco alto pelo barulho.
- Tá bom. Respondo no mesmo tom e a vejo sair.

Observo o lugar e resolvo ir pedir um suco. Preciso dizer que não sou fã de bebidas com álcool.

Sento em um dos bancos.

- Posso me sentar aqui? Viro e vejo que se trata do garoto de minutos atrás.

Ele está falando com você, Jade. Responde.

- Bom, não tem ninguém aí, então sim. Respondo enquanto o olho.
- Preciso dizer que você tem uma bela voz. Ele diz me olhando de volta.
- Agradeço mas nem começa, não tenho tempo pro seu papo furado e suas cantadas bestas. Respondo e agradeço ao barman que me entrega o suco.
- Eu nem iria dizer nada disso. Era realmente só um elogio. Ele pareceu honesto.
- Porque eu acreditaria na sua boa intenção? Fico frente a ele.
- Provavelmente porque nunca tenho más intenções com garotas como você. Ele diz parecendo seguro.

Como assim garotas como eu? O que eu tenho de diferente das outras? Será porque eu não me exibo como essas garotas que não se dão o respeito?

- Não sei o que você quis dizer com isso, mas muito obrigada pela sua opinião. Realmente serviu para que eu não caia nos papinhos de garotos como você. Pego minha bolsa e me levanto.
- Você entendeu errado... Ele levanta também.
- Acho que entendi muito bem, obrigada. Me afasto dele e saio pisando fundo.

Procuro meu celular para ligar pra Tina mas não o acho. Continuo andando e percebo que já estava na saída do restaurante. No relógio em meu pulso marcam 23:41 p.m.

- Merda!

Estava com a cabeça abaixada procurando o telefone na bolsa quando sinto uma mão tocar minha cintura. Involuntariamente sinto um arrepio tomar de conta do meu corpo.

Levanto o olhar e me viro dando de cara com um homem, de aparentemente 27 anos e barba.

- Dá pra me soltar? Bato em sua cara o fazendo soltar meus quadris.
- Calma docinho, pra quê a agressividade? Ele se aproxima de mim tentando beijar meu pescoço. Esquivo pra trás o batendo compulsivamente.
- Seu nojento, me larga. Algumas lágrimas ameaçam descer mas eu as seguro com força.

Sinto alguns beijos molhados em meu pescoço, o que me faz querer vomitar de tanto nojo. Suas mãos me segurando com força e quanto mais eu tentava me soltar, mas forte ele apertava meu corpo contra o dele.

Já estava chorando quando percebo o homem cambalear após levar um soco nas costas.

- Larga ela agora, seu cretino! A voz atrás do homem fala com autoridade e cheia de raiva.

Era ele.

Os dois trocam tapas e murros, até que o abusador cai desacordado no chão.

Olho o rapaz.

- Eu...quero ir embora! Falo chorando enquanto abraço meu corpo.
- Fica calma, eu vou te levar em casa. Ele ousa se aproximar mas eu dou um passo atrás. - Vem, vamos sair daqui.

Ele me puxa pela mão e me leva até um carro. O mesmo abre a porta pra mim, eu entro e em seguida ele também.

Ele dá partida.

- Coloque a localização no GPS. Ele me olha mas volta a atenção na rua.

Me aproximo e coloco o endereço da minha casa.

O caminho todo vamos em silêncio até que ele diz:

- Me desculpe pelo que disse no bar. Ao contrário do que você entendeu, quis dizer que você é diferente de um jeito bom. O tom de sua voz continha sinceridade e arrependimento.

- Tá tudo bem. O encaro.

O silêncio se instala novamente e permanece até chegarmos em minha casa.