Capítulo II

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É tão estranho a forma como a morte age, a avalanche que as vezes vem com ela, o efeito dominó de tragédias. Faz três meses que Rubens Collins se suicidou e isso parece ter desencadeado uma onda de suicídios em Corbin. Seis, em um mês e meio sem contar o dele. Mary Kate, se enforcou na árvore que fazia de balanço em casa. Christoph Vermet, bateu o próprio carro em uma árvore. Júlia Bess, cortou os pulsos dentro de uma banheira. Gloria Clave e Margareth Colton se mataram juntas, uma estourando os miolos da outra. E Morgan Flynt, namorada de Christoph fez o mesmo que o Sr. Collins fez, se jogou da ponte Grumam. Nunca fui em tantos enterros na vida, nunca vi tanta gente triste e também nunca vi Corbin tão apagada. Não tanto quanto já era. Agora todos estão desesperados, os pais estão mais atentos aos filhos, a escola quase todo dia tem uma reunião em grupo de terapia coletiva. É engraçado em como só depois que vira notícia as pessoas começam a realmente se preocupar. Duvido muito que estaria assim se apenas Collins tivesse se matado.

"Ele estava louco."

"Foi um infeliz acidente."

"Ele não estava feliz."

Essas e mais outras desculpas inventadas que eu escutei depois do enterro dele. Eu não gostava de Collins, havia algo nele que me fazia querer gritar e correr, ele era estranho sim. Mas eu não desejaria que minha dor fosse resumida em um episódio de histeria ou loucura. Então agora quase todo dia tenho que me sentar na arquibancada depois da aula e escutar um terapeuta fajuto dizer que suicídio virou moda na cidade e que devemos tentar não nos influenciar, para pensar em nossa família acima de tudo, em como eles vão ficar.

É claro, pensar na família, e não em nós, afinal seria muito egoísmo.

Eu finjo que presto atenção na maioria das vezes, pisco, aceno, murmuro fingindo que concordo. Eu e quase todos os outros adolescentes. Porém ultimamente ando prestando atenção, tentando encontrar alguma coisa que preste nas falas do terapeuta, alguma coisa que ajude a jovem ruiva parada a seis metros de mim conversando com um grupo de meninas do outro lado da clareira

Thea.

Eu a encarava com o cenho franzido enquanto estalava os dedos respirando fundo, tentando tomar coragem para começar a interrogação. Havia tentando conversar com ela a quase um mês, sem sucesso. Thea sempre dava alguma desculpa, mudava de assunto, me distraía ou simplesmente... Sumia. Quando eu ia em sua casa a mãe dela sempre dizia que ela havia saído com a tia, Lina. Ou então que estava dormindo ou que tinha ido ao trabalho do pai que ficava na cidade vizinha. Tudo isso era estranho, primeiro que Thea odiava sair com a tia, que era uma daquelas senhoras conservadoras e super religiosas. Segundo que ela também odiava estar no trabalho do pai, a agitação que havia lá a incomodava. E terceiro, ela não dormia a tarde, sempre preferia se ocupar com qualquer coisa do que "ficar no ócio" como costumava dizer.

Então, claramente, ela estava fugindo. Fugindo de mim. E essa era uma das raras vezes que eu estava perto dela no último mês e, bem, é claro que eu iria aproveitar a oportunidade e arrancar o que quer que ela estivesse me escondendo.

- Pessoal, vamos começar. Logo logo vai chover. - gritou o treinador, William Way. Ou Way como os alunos costumavam chamar. Ele assoprou o apito fortemente ao meu lado, me dando um puta susto. Fazendo careta para ele, eu fui para perto de Thea.

- E ai. - a cumprimentei dando um aceno.

- E ai. - Ela devolveu, mal me encarando. Fechei a cara enquanto encarava o treinador que sacudia histéricamente as mãos e dava pulinhos para se aquecer. Como se fosse ele a correr quase três quilômetros e voltar, no frio e na chuva.

- Certo galera, todos estão aqui? - perguntou o homem olhando em volta. - Não? Meu Deus Scott, venha logo aqui rapaz, não tenho o dia inteiro.

Scott Norris era um garoto grande, mas sedentário. Moreno, meio forte, super alto. Seria perfeito para o time de futebol americano se não corresse o risco de desmaiar a cada quinze minutos. O que já havia acontecido. Ele caiu bem em cima de mim uma vez em uma aula de educação física, eu quebrei o braço, foi horrível. Ter um cara gigante que pesa quase cem quilos desmaiado em cima de você não é muito legal.

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⏰ Última atualização: Jul 18, 2023 ⏰

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