Present

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— 2034 —

Keiko acordou no dia seguinte com uma ressaca horrível.

A dor de cabeça era tanta que, mesmo que tivesse vontade de dormir por mais algumas horas, não conseguiu aguentar e levantou para lavar o rosto no banheiro. Não fazia ideia de que horas eram, e suas memórias de ontem eram bem confusas.

Lembrava de chegar em casa e chorar na frente de Keigo, de ser obrigada à tomar banho — era eternamente grata à ele por isso — e também de... Conversar com um estranho no bar?

Tudo estava meio fora de ordem, e mesmo jogando água gelada na cara, nada parecia melhorar. Ela largou um suspiro cansado no ar, saindo do banheiro e indo rumo à cozinha em busca de comprimidos para ajudar com a ressaca.

A casa estava totalmente silenciosa e vazia, o que fez-a recordar de que Keigo avisou que iria trabalhar o dia inteiro.

Desde que ele se tornou o herói número dois, sua popularidade subiu de maneira exorbitante de um dia para o outro. E como consequência disso, os pedidos da agência triplicaram. Desde então, Keigo vinha se mantendo mais e mais ocupado. Quase não passavam momentos juntos, o que consequentemente lhe fazia lembrar da infância de ambos.

Mesmo naquela época, a comissão de heróis os separava para treinar-lo individualmente. Apesar de terem aceitado levar Keiko junto para limpar totalmente o nome da matriarca, Tomie Takami, eles sempre viram-na como uma cópia com menos potencial do irmão.

Uma sombra, fraca e sem utilidade.

Com o tempo, todos os comentários negativos e comparativos acabaram fazendo a garota duvidar do próprio potencial. Duvidar da própria capacidade de virar uma heroína e de proteger Keigo.

Grande parte disso por culpa de uma pequena diferença entre suas individualidades.

A individualidade da caçula, embora parecida com a dele, era bem menos eficiente. Nunca conseguiu controlar suas penas individualmente igual Keigo fazia, apenas endurecer-las.

E isso foi uma decepção e tanto para os treinadores da comissão. Fora o fato de ser uma mulher, é claro. Só isso já era razão o suficiente para deixarem-na para trás.

Assim sendo, ficavam longe um do outro na maior parte do tempo, sem nem terem chance de viver como irmãos de verdade.

Keiko era colocada de lado e treinava sozinha na maior parte do tempo, frequentava a escola regularmente e tentava à todo custo não chamar atenção. Já que, de acordo com seus superiores, a má fama do sobrenome que carregava poderia assustar as pessoas.

Diante dessas circunstâncias, quanto mais ela crescia num ambiente raso em questões de amor e cuidado emocional, mais se tornava carente de atenção e de amigos. Queria à todo custo formar laços com alguém para suprir a falta que o irmão fazia, mas nunca teve a oportunidade — e a coragem.

Naquela altura do campeonato, todos na escolinha já tinham seus amigos e grupos formados. Apenas a pequena Takami que não conseguia — e também não podia — se encaixar.

Até que, no auge dos doze anos, seus superiores a mudaram de escola mais uma vez.

Era bem normal naquela época ficarem lhe jogando para várias instituições diferentes no decorrer do ano, assim, ninguém nunca poderia descobrir à fundo suas origens. Querendo ou não, teve que se acostumar com aquilo.

E para ser sincera, achou super fácil superar as "mudanças" depois que decidiu usar tudo aquilo ao seu favor.

Já que logo logo iriam trocar-la de colégio mais uma vez, por que não aproveitar e fazer alguma amizade nova sem ter medo de levar bronca depois?

Fairytale - Dabi (Toya Todoroki)Onde histórias criam vida. Descubra agora