CAPÍTULO 2

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~}Dias Atuais, São Paulo{~

•Evenin•

   Morar sozinha no interior foi um grande passo em minha vida, meus pais não queriam que eu seguisse meus sonhos, queriam que eu fosse médica, enfermeira, advogada, veterinária, essas coisas que todo mundo sonha em ser por causa do dinheiro, mas eu quero ser uma pianistas famosa e uma pintora também. Claro que não consigo expôr nenhuma arte minha pois acho que nunca está boa o suficiente, e nem consigo tocar para ninguém após passar a maior vergonha por causa de uma garota imbecil de minha sala que gostava de humilhar a todos, aquele dia foi terrível. Mas eu me mudei para o interior justamente para me concentrar em meus sonhos, mesmo eu sabendo que provavelmente vou trabalhar como balcanista de uma lanchonete para sempre, não me entenda mal, eu acredito que algum dia eu chegue em algum lugar com minha arte e minha música, mas quando até seus pais praticamente te expulsam de sua casa quando você acabou de passar por um trauma, é meio impossível pensar em outra coisa a não ser isso. Hoje moro em uma casa pequena com apenas um quarto e outros dois cômodos, junto com meus gatos Jinx e Gatuno, sim nomes horríveis para gatos, mas eu nunca tive criatividade para nomes, já tive um peixe que chamei de dourado e não, ele não era um peixinho dourado, era apenas amarelo. Sou feliz sozinha, não preciso ouvir ninguém gritando em meu ouvido, sou boa como balconista e a cidade é tão calma que as vezes parece vazia se você não sai de casa para vê as pessoas passando, é tudo tão mais leve aqui, na cidade grande parecia que tudo estava sob mim, como se cada pessoa, que eram muitas, me julgassem, mas aqui eu consigo respirar um ar puro e consigo pensar.

   Após sair do meu trabalho, eu ainda estava tentando tirar uma migalha de algo que estava no meu sutiã, seja lá quem foi que inventou sutiã eu amaldiçoou, estou andando para meu parque favorito, ele não é tão popular por ser bem no fim da cidade mas eu gosto assim, além do mais tem uma estátua em uma parte do parque que parecia abandonada pelo parque, gostava de ficar lá para conseguir pensar em letras de músicas e desenhar, além de claro tirar toda minha mágoa que guardo a anos para mim mesma. Chegando naquela parte do parque vejo a estátua, sempre me pego pensando no que elas querem dizer, não estão em cima de uma plataforma com uma placa escrita quem foram e quando nasceu, apenas eles, uma garota e um garoto de mãos dadas, a garota menor que ele porém maior que eu, talvez por conta de seu sapato que mesmo de pedra parecia deslumbrante, mas o que mais me cativa é o jeito que eles se olham, como se tivessem determinados a ficarem para sempre juntos, e sinceramente eu daria de tudo para ter alguém para olhar assim para mim, não era um olhar apaixonado mas era de amor, algo muito mais forte do que vemos naqueles livros de romance bobos de adolescente, um amor forte que é capaz de mudar tudo, um amor onde os dois se apoiam mesmo que se tudo tiver acabando. Quando vejo estou sentada encostando nas pernas do rapaz chorando, ninguém jamais olhou para mim, olhar com aquele olhar então era pior ainda, eu sentia que estava fardada a ficar para sempre sozinha, com meus gatos com nomes horríveis e um trabalho onde não me levaria a lugar algum.

   Então sinto algo se mexer atrás de mim, percebo que o rapaz que estava encostada se afasta, então lembro que o rapaz era feito de pedra e me viro tão rápido na grama para o olhar que sinto como se meu pescoço pudesse ter deslocado, na minha frente não tem uma estátua de pedra de duas pessoas cheias de amor, tem dois humanos que não estão mais de mãos dadas e que agora com as cores percebo que são irmãos, talvez gêmeos, os cabelos deles eram tão escuros que acho que se tivesse de noite nem ia conseguir os vê, os olhos arregalados ao me olhar eram um castanho intenso, ambos eram definição de beleza. Eles param de olhar para mim e se olham, pareciam se comunicar apenas se olhando, e quando voltam a me olhar eu simplesmente travo minha respiração, o olhar deles não é mais assustado como o meu, é de curiosidade, ainda mais quando olham ao redor.

Legends never dieOnde histórias criam vida. Descubra agora