Capítulo dois

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TALES

Tenho certeza que alguma coisa conspirou contra mim hoje, um quase atropelamento e aquele banho de suco não é uma coisa que acontece no dia a dia das pessoas, e ainda mais quando foi cometido pela mesma pessoa, chega a ser engraçado.
Chegando no ap, subi as escadas correndo porque estava necessitado de um banho, se eu passasse por alguma abelha capaz que o enxame me seguiria até em casa e eu teria uma confusão enorme. Peguei as chaves e abri a porta, e lá estava Rui sentado no sofá, vendo sua novela da tarde como sempre. Conheço Rui desde quando tínhamos dezesseis anos, ele morava na mesma rua que eu, e com o passar dos anos nos tornamos melhores amigos e por causa da faculdade tivemos que arrumar um meio de ficar mais perto, convenhamos que pegar dois ônibus para ir pra ter aula é horrível e cansativo. Achamos esse apartamento e decidimos morar juntos, no início foi tão estranho era muita coisa só para dois jovens adultos de vinte anos.

— O'Que aconteceu com você? — Rui disse enquanto apontava para minha roupa toda manchada .

— Longa história — Falei rindo, lembrando de Ariel com aquela cara de quem queria desaparecer de tanta vergonha.

Deixei Rui na sala com a curiosidade dele e corri para o banho, coloquei as roupas manchadas em um cesto separado porque teria que lavar o mais rápido possível antes que as formigas resolvessem fazer uma casa nelas. Entrei no box e finalmente era aquilo que eu estava precisando de um banho, não estava me sentindo grudento mais.
Terminei o banho, e fiquei me olhando no espelho e me perguntando, oque tem de estranho em mim, aparência ou jeito de ser, não sei, mas sempre vejo todo mundo sendo chamado para sair ou até mesmo aparecem naquela página da faculdade onde as pessoas te fotografam e postam te procurando, talvez seja um pouco estranho isso mas as pessoas são cheias de surpresas.
Me sequei e me vesti e fui para cozinha preparar um lanche e conversar com Rui já que nossa sala e cozinha era divididas apenas por um balcão o'que facilitava demais, enquanto preparava meu lanche fiquei pensando em conversar com Rui sobre o'que fiquei refletindo no banheiro.

— Rui! — chamei ele. — Você me acha tão feio assim? Ele me olhou querendo rir da minha pergunta.

— Tales, como posso dizer amigo, feio você não e ta bem obvio para todo mundo. — disse ele. — Porque a pergunta?

— Sei la, eu ja tenho 24 anos e não achei ninguém ainda, estou começando a achar que tenha algo errado comigo. — Falei fazendo minha atuação de drama colocando a mão no peito.

— Amigo por experiência própria, às vezes o'que temos que fazer e deixar o tempo fazer as coisas no tempo dele, não podemos querer acelerar as coisas só porque queremos aquilo. — Rui era um bom conselheiro, suas palavras entravam em mim e me faziam abrir os olhos.

Fiquei pensando no que Rui disse e ele estava certo, as vezes eu acho que por mais que eu queira ser igual todas as pessoas eu jamais seria todo mundo, aquela famosa frase de toda mãe que parece que vem no dicionário delas. Ser um jovem adulto e gay era uma coisa bem explosiva para a sociedade e ainda mais para o mundo gay, onde as pessoas só querem curtir, onde um relacionamento não dura dois ou três meses e os que duram eu tenho certeza que esses sim são almas gêmeas.

....

Naquela noite, estava no meu quarto terminando alguns cálculos que o professor tinha passado na aula de hoje, assim que terminei resolvi checar meu celular e como já era de se esperar nenhuma notificação só os grupos da sala, com o pessoal falando da semana de trabalhos. Fui mecher no instagram me atualizar do que está acontecendo no mundo, e por obra do destino lá estava ele, o garoto de cabelos vermelhos de mais cedo, nas minhas sugestões de seguidores, fui stalkear ele, coisa que qualquer pessoa faria.
Seu nome era Ariel, isso eu já sabia por ter ouvido daquela garota que estava com ele hoje, tem 21 anos, está cursando artes, suas fotos são lindas, tem muitas cores e maioria sempre mostrando seu gato. Estava rolando as fotos dele e sem querer acabei curtindo uma foto sua sem querer, naquele momento eu tirei a curtida como se fosse a coisa que definiria o destino dos humanos neste planeta, fiquei até sem ar, que desespero, por isso que stalkear as pessoas é tão perigoso, desliguei a tela e joguei o celular debaixo do travesseiro, queria desaparecer naquela escuridão que estava meu quarto.
Fiquei fitando o teto do quarto por mais difícil que fosse enxergá-lo, à luz da rua ajudava um pouco, e fiquei rindo comigo mesmo, às vezes as coisas que acontecem comigo são tão sem sentido. Já estava quase pegando no sono quando lembrei.

— A roupa! — Falei e levantei correndo para colocar a roupa toda suja de suco para lavar.

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