Ah, Seul. A cidade das grandes conquistas! Seria a Nova York da Coreia, porém melhor.
O dia é sempre belo, mesmo quando não é a época em que as cerejeiras florescem, e a noite é sempre iluminada e badalada. Como qualquer cidade, têm os seus problemas, mas não troco minha querida Coreia por nada, tampouco minha vida como filha única e herdeira do dono da maior Companhia de cosméticos do país.
A vida é simplesmente boa para mim e, chegando o Natal, eu só posso agradecer por ser tão afortunada, porém tenho uma tradição de fazer minha lista de agradecimentos só quando cai a primeira neve. Tenho a crença de que se eu mostrar minha gratidão ao primeiro floco de neve que cai sobre minha pele, até o próximo ano coisas boas irão acontecer, ainda que eu nem sempre as compreenda.
Do meu escritório, não tiro os olhos da janela, esperançosa de que logo as ruas fiquem brancas como as nuvens do céu no verão.
― Senhorita Oh. ― a voz da secretária me desperta de meus devaneios.
― Diga, senhorita Park.
― O presidente ligou. Pediu para a senhorita almoçar com ele amanhã.
― Estranho. ― fitei a parede cor magenta ― Meu pai não é de entrar em contato por terceiros. Ele parecia bem?
― Não sei dizer, senhorita. ― respondeu receosa.
― Tudo bem. Era só isso? ― perguntei com um sorriso.
― Sim.
― Então pode ir para casa. O motorista já está me esperando lá embaixo.
― Sim, senhorita Oh. ― curvou-se antes de sair e se retirou da sala.
Quando minha secretária saiu, arrumei minha bolsa, desliguei o computador e segui para o elevador. No estacionamento, meu motorista já me aguardava como eu havia dito. O senhor Dong abriu a porta de trás para mim e ao se acomodar no banco do motorista, saiu do prédio.
― Para onde esta noite, senhorita Oh?
― Pode me deixar no bar de sempre, em Itaewon. ― respondi.
― Sim senhora.
Dezembro estava só começando, mas as ruas já estavam enfeitadas e ver aquilo aquecia meu coração, lembrando de uma infância e adolescência muito feliz.
Nos painéis de Seul, se via vários comerciais da empresa da minha família, todas com a temática do Natal e com rostos dos artistas mais queridos da Coreia.
Em várias esquinas, já se via enfeites e luzes de Natal, homens vestidos de Papai Noel pegando os bilhetes das crianças, só faltava a neve para que tudo ficasse perfeito.
― Chegamos, senhorita Oh. ― meu motorista disse após algum tempo de viagem.
― Obrigada. Me espere aqui, por favor. Não devo demorar. ― pedi saindo do carro.
Entrei no bar que costumo me encontrar com as minhas duas únicas e melhores amigas, Ha-ri e Eun-ji.
― Min-Young! ― gritou Eun-ji assim que me viu e acenei.
Fui até a mesa em que elas estavam, as cumprimentei com beijos no rosto e me juntei a elas.
― Uma garrafa de soju, por gentileza. ― pedi ao barista e ele assentiu.
― Oh Min-Young bebendo no meio da semana? ― Ha-ri se surpreendeu.
― Estou de bom humor. ― sorri ― Ah, e aproveitando...
Abri a minha bolsa e entreguei para cada uma delas o novo hidratante facial noturno da Oh Cosméticos.
― Amiga, você é a melhor! ― Eun-ji me abraçou.
― Quero ver dizer isso se eu ficar pobre um dia.
Elas bateram na madeira.
― Nem brinca com isso. ― Ha-ri, supersticiosa como sempre, disse ― Mas somos amigas desde o jardim, quando seu pai era vendedor de esquina. Nossa amizade nunca se baseou no dinheiro.
― Verdade. ― sorri, grata.
O barista trouxe o meu soju e me encarou profundamente, fazendo meu rosto corar.
― Que gatinho. ― Ha-ri comentou, mas sem emoção.
― E pareceu gostar da Min-young. ― Eun-ji brincou.
― Para!
― O que foi? Só disse a verdade, nada além da verdade. ― argumentou.
― Eun-ji sai dos julgamentos, mas os julgamentos não saem dela. ― Ha-ri brincou e eu ri.
Fiquei mais alguns minutos conversando com as meninas e até flertando com o barista bonitinho, mas eu não tinha tempo para passar disso e ficar namorando. Bebi apenas metade da garrafa e depois me despedi delas pois como Ha-ri sabiamente disse, ainda era meio de semana e no dia seguinte havia trabalho a ser feito.
― Vamos, senhor Dong. ― falei batendo levemente no vidro do carro pois notei que este cochilava ― O senhor está bem para dirigir?
― Estou sim, senhorita.
― Não vá colocar-se em perigo por minha causa!
― Fique tranquila. ― ele sorriu ― Só estava descansando os olhos.
― Vou acreditar. ― semicerrei os olhos e entrei no veículo ― Para casa agora.
Me acomodei no banco e fechei os olhos sabendo que, com a confiança de anos que minha família tem no senhor Dong e seu profissionalismo, eu chegaria em casa bem e segura.
🎄
Como sempre gostei, cheguei na empresa antes de todos e fui para a minha sala começar a trabalhar. Entrei no fórum da empresa para me atualizar dos relatórios de nossos gerentes das lojas Oh Cosméticos, identificando se estavam precisando de algum suporte e até mesmo de mais produtos.
Fiz uma lista de todos que estavam solicitando mais cosméticos e percebi que estávamos tendo pouquíssimas saídas naquela semana, o que era muito estranho para uma época festiva.
Mandei um e-mail no fórum querendo saber o que estava acontecendo para as vendas caírem tanto, e tão de repente. Fui respondida em poucos segundos pelo gerente da loja em Gangnam.
"Veja os noticiários, senhorita".
Procurei o controle da televisão, aflita. Será que houve algum roubo na empresa? Será que o dólar estava em queda? Havia muitos fatores influentes para o mercado.
Liguei a TV no canal de notícias e a manchete me chocou tanto, que deixei o controle cair.
"Oh Ji-hoon, presidente da Oh Cosméticos, acusado de lavagem de dinheiro e Caixa Dois".
Caí sentada na poltrona, sem acreditar.
Quando o raciocínio voltou, belisquei minha mão na esperança de ser um sonho, um pesadelo na verdade, mas a dor foi real e as cenas do meu pai sendo escoltado para o escritório da promotoria também.
― Há uma semana, surgiram rumores na internet de que Oh Ji-hoon, fundador e atual presidente da Oh Cosméticos, vem desviando fundos da sua empresa e realizando lavagem de dinheiro no decorrer dos últimos sete anos. A fonte que publicou foi anônima, mas as investigações da promotoria apontaram para provas de que tudo foi mais do que um mero boato. ― disse a repórter.
Meu coração batia tão forte e tão rápido, era como se eu pudesse ouvi-lo.
A imagem abriu para o meu pai, cercado de seguranças tentando afastar os fotógrafos e a voz da jornalista soava ao fundo:
― O senhor Oh foi indiciado e passará por um julgamento daqui a um mês. A única declaração que ele deu foi que seus funcionários não estão envolvidos, mas é algo que ainda está sob investigação.
Minhas mãos pingavam suor e meu corpo ficou gelado de repente, enquanto a vista escurecia e tudo ficou negro como a noite.
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Arranjo de Natal - DEGUSTAÇÃO
RomanceOh Min-Young é a CEO da empresa de cosméticos de sua família. Os negócios estáveis começam a ir mal quando o sobrenome Oh é envolvido em um escândalo e, para salvar seus funcionários e a honra do nome de sua mãe, Min-Young precisa se casar com o dir...