UM

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❄️☃️❄️

O sinal acabou de tocar e todos meus alunos fazem barulho comemorando o fim da última aula do semestre. Vamos entrar de recesso escolar porque em poucos dias teremos as festas de fim de ano onde a maioria dos alunos viajam para festejar com suas famílias.

— Tia, onde você vai passar seu natal? — Ouço Kiraz dizer bem próxima a mim.

Enquanto todos alunos estão empenhados em organizar as próprias pastas e irem embora, essa pequena garotinha está do meu lado.

Bem, eu adoraria ter uma resposta positiva para dar...

— Não sei, querida. — Na verdade eu sei. Meu natal será em casa, sozinha.

— Você vai ficar sozinha? — ela faz uma expressão de choque, que chega a ser fofo se não fosse um pouco triste ela ter notado a verdade por trás das minhas palavras.

— Fiquei muito ocupada — eu minto —, não tive tempo de planejar nada — eu minto de novo —, e todas as pessoas que conheço já viajaram.

Bem, esse último caso é apenas meia mentira, já que eu não conheço tanta gente assim, mas minha melhor amiga está viajando com o namorado, então claro que eu não iria atrapalhar a viagem dela.

— Você não deveria ficar sozinha no natal! — ela faz um biquinho fofo — Eu amo o natal! Meu papai diz que é a melhor época do ano e ele sempre faz biscoitos para mim!

Kiraz tem apenas seis anos, mas é uma das alunas mais inteligentes da minha turma e seu pai é um empresário importante na cidade, mas todos os dias é ele que vem buscá-la depois das aulas, sempre que o encontro ele está sério e com seu terno preto bem alinhado, não consigo imaginar ele em uma cozinha fazendo biscoitos.

— Que legal! — eu fico tocada com a empolgação dela e pela importância que ela dá ao natal, eu também já fui assim. — Eu também amo o natal, também é minha época favorita!

— Vou pedir ao meu papai para te enviar um pacote dos biscoitos dele, é muuuuuuito bom! — ela exagera no que fala e eu mais uma vez me vejo encantada pelo seu carisma.

— Vem aqui — eu acho ela para mais perto de mim e me inclino no seu ouvido — Vou te dar algo, mas você vai ter que manter em segredo, ok?

Ela assentiu, animada com a expectativa do que poderia ser. Vou até a minha mochila e pego o pequeno objeto que vou dar a ela como presente. Não estava nos meus planos fazer isso, esse broche é meu desde quando eu tinha a mesma idade que Kiraz, mas vê-la tão empolgada com o natal me fez sentir que era hora dele ganhar uma nova dona.

O broche é pequeno, no formato de um pequeno boneco de neve, eu o carrego sempre comigo na minha mochila. Foi um presente que recebi da minha mãe, junto com os outros que ainda permanecem na minha mochila. Mas agora esse pequeno bonequinho precisa de um novo lar e não vejo alguém melhor que Kiraz para recebê-lo, ela ama o natal tanto quanto eu já amei um dia.

— Isso aqui agora é seu. — Eu coloco o pequeno broche preso a sua camisa e seus olhos brilham. — Ele merece estar com alguém que ame o natal tanto como eu.

Ou tanto quanto eu já amei um dia...

Kiraz toca o pequeno pingente e quando olha pra mim seus olhos estão marejados. Antes que eu possa falar mais alguma coisa, ela apenas me abraça forte e quando vejo ela está enxugando os olhos com a manga do casaco.

— Obrigada, tia Eda! — ela me abraça de novo — E eu vou sentir saudades de você!

Ah, ela é tão fofa...

— Kiraz... — a inspetora chama da porta e eu pego minha mochila — Seu pai já chegou.

— Eu a levo. — Aviso a inspetora enquanto pego um livro e minha mochila, e sigo uma Kiraz saltitante pelo corredor até a porta da saída.

Faltam apenas alguns passos para chegarmos na saída da escola quando Kiraz para de repente.

— Sabia que meu pai te acha muito linda?

Sua fala me pega desprevenida e eu não sei o que responder.

Nos poucos momentos que tive com ele, nossa conversa foi reduzida somente ao desenvolvimento escolar da sua filha. Ele sempre sério a maior parte do tempo, sorrindo apenas quando Kiraz aparece no seu campo de visão. Não sei como pôde surgir esse elogio a mim em uma conversa com ela.

— Err... uh... Eu também acho seu pai lindo.

É isso que as pessoas falam quando são elogiadas, não é?

Kiraz não diz mais nada e seguimos em direção ao portão. E como eu havia dito, Serkan está lá, com suas mãos nos bolsos em seu terno milimetricamente feito para encaixar e valorizar cada parte do corpo dele. Quando ele vê sua filha chegando, o sorriso se espalha por todo seu rosto e ele abre os braços quando ela corre para abraçá-lo.

Eu sei pouco sobre ele e sobre seu status de relacionamento, sei apenas que ele é viúvo e que cuida de toda a criação da filha. Sorrio vendo ele mexer no cabelo de Kiraz e perguntar como foi o dia dela, enquanto ela responde e mostra o pequeno broche que eu a dei, fazendo com que Serkan olhe pra mim.

— Boa tarde, senhorita Yıldız — ele me cumprimenta.

— Boa tarde, senhor Bolat.

— Obrigado pela lembrança que você deu a Kiraz — ele aponta para o broche enquanto ela continua sorrindo — Ela ama o natal.

— Tia Eda também ama muito o natal, papai!

— Então a senhorita deve estar muito feliz de estarmos próximo do grande dia. — Ele me indaga.

— Claro — eu não nego — Agora se me derem licença, preciso ir ao centro da cidade, tenho alguns presentes para comprar.

Não é mentira o que estou dizendo. Eu realmente estou indo ao centro, mas diferente do que podem imaginar, diante de toda a tradição do natal, eu não estou indo comprar presentes para familiares ou algo do tipo, estou indo comprar presentes para doar em um lar de adoção.

Desde que minha mãe faleceu e eu me vi comemorando os natais em casas de pessoas estranhas, eu prometi que reservaria meu dinheiro e meu tempo para fazer doações. Que se eu não estivesse tendo um bom natal, ao menos faria com que algumas crianças gostassem dessa época do ano.

— Papai, sabia que a senhorita Eda também te acha muito bonito? — Kiraz interrompe minha avalanche de pensamentos quando estou prestes a passar por Serkan.

Meu Deus do céu! Eu provavelmente estou tão vermelha quanto a roupa do papai Noel.

— Ela disse isso? — Serkan pergunta, mas me encara, um sorriso travesso tenta escapar no canto dos seus lábios.

— Sim! — Kiraz confirma, como se eu já não estivesse com vergonha o suficiente — Ela me contou depois que eu contei que você achava ela muuuuuito bonita!

Ah... a doce e bela inocência de uma criança!

É Serkan que agora está sem graça. Obrigada, Kiraz, você é a melhor do mundo.

— Eu só estava falando a verdade. — ele pronuncia e eu sorrio.

— E eu também — eu tento não demonstrar o quanto eu gostei de saber disso — Que vocês tenham um Feliz natal!

— Feliz natal, senhorita Yıldız.

— Feliz natal, tia Eda!

Kiraz acena um adeus desajeitado enquanto entra no carro do pai, Serkan apenas me dá um último olhar antes de também entrar em seu carro.

Então eu sigo meu caminho, pensando na lista de presentes que eu preciso comprar.

LONELIEST TIME OF YEAROnde histórias criam vida. Descubra agora