QUATRO

706 89 4
                                    

Quando Serkan volta cerca de trinta minutos depois, ele tem um novo suéter de natal em seu corpo, seu cabelo perfeitamente alinhado e o perfume amadeirado preenchendo o lugar. É revoltante que alguém seja tão atraente mesmo que agora tenha um boneco de neve gigante estampado na própria roupa.

Ele vem até a mesa de jantar que Kiraz me ajudou a organizar, parecendo satisfeito pelo trabalho que tivemos.

— Você gostou, papai? — Kiraz pergunta — Eu ajudei a tia Eda a montar tudo — ela explica.

— Ficou linda, você é a melhor ajudante! — ele toca o cabelo dela e então olha para mim — Já estão com fome?

Admito que estou ansiosa para provar a comida dele desde que coloquei os pés nesta casa. Então sua pergunta me faz sentir vontade de implorar por isso.

— Sim! — é Kiraz que grita no meu lugar, mas eu me sinto representada.

Ela levanta e vai em direção a uma das cadeiras da mesa e eu sorrio, acompanhando Serkan até a cozinha, pegando as panelas e utensílios para complementar a mesa.

Não é uma grande ceia, afinal estamos em poucos números de pessoas, mas Serkan fez o suficiente para mais. Temos arroz com passas, peru, torta, carne, fricassê... de tudo um pouco.

— Você realmente fez tudo sozinho? — pergunto quando ele, gentilmente, começa a servir o meu prato, depois de já ter servido o da própria filha.

— Sim — ele parece envergonhado — Quando não estou na empresa gosto de ficar em casa, normalmente sempre dispenso os empregados, então passo um tempo treinando na cozinha para alimentar Kiraz.

Isso é... uau.
Surpreendente.

— Isso é... uh... atencioso da sua parte, a comida parece deliciosa.

Ele sorri e então eu percebo que Kiraz ainda não tocou na comida, apenas observa minha pequena troca com o seu pai.

— Posso falar dessa vez, pai?

Ela pergunta ao Serkan, só então eu me dou conta que eles também devem ter a tradição de antes da ceia agradecerem pelo ano que tiveram e fazer novos pedidos e desejos para o ano que está por vir.

— Claro, meu amor — ele sorri para ela. E eu toco sua mão a incentivando também.

— Eu não sei como começar... — ela diz, tímida pela primeira vez, e eu sou dominada por memórias antigas, onde eu estava no lugar de Kiraz, onde eu repeti essas mesmas palavras antes de fazer meu primeiro agradecimento de natal, sinto minha garganta travar. — Mas eu estou muito feliz! Eu quero agradecer pela vida do meu pai, por ele ter cuidado tão bem de mim, também quero agradecer a tia Eda por sempre ter sido legal comigo na escola e também agradecer por ela ter aceitado vir passar o natal com a gente.

Eu sinto meus olhos encherem de lágrimas, mas pela primeira vez no dia são lágrimas de paz, de uma felicidade que eu não sabia ser possível sentir no dia de hoje.

— Eu amo natal, eu gosto de ver a cidade bonita, mesmo que eu sempre fique resfriada por causa da neve — ela sorri, o que deixa em evidência o enrugar fofo do seu nariz — Então meu desejo para o próximo ano é que todo mundo tenha um ano muuuuuito bom, para que também possam ter um natal muito legal como o que eu estou tendo.

Não percebo que estou chorando até ver Serkan se levantar e me entregar um pequeno lenço de papel.

— Você está chorando, tia Eda? Eu falei algo errado?

— Não, querida — eu a tranquilizo, enxugando minhas lágrimas — Eu só estou muito feliz de estar aqui. Eu falei que fico emocional durante o natal, não falei?

LONELIEST TIME OF YEAROnde histórias criam vida. Descubra agora