𝙐𝙣𝙧𝙚𝙦𝙪𝙞𝙩𝙚𝙙 𝙇𝙤𝙫𝙚 -𝙓𝙖𝙣𝙯𝙤

~ 4 ~

Na manhã do dia seguinte, Guizo acorda primeiro, apesar de estar dolorido por ter dormido no sofá, estava feliz pois não teve nenhum pesadelo dessa vez.

Passou a mão nos olhos a fim de limpá-los e, quando finalmente adaptou sua visão, percebeu a posição em que estava.
Xande estava abaixo de si, dormindo como se fosse um anjo, segurando a cintura de Guizo que havia dormido no peito do garoto de cabelos enrolados.

O falso ruivo passou algum tempo quieto, se perguntando como haviam acabado daquele jeito, até finalmente se pronunciar:

— MEU DEUS! — O garoto estava tão surpreso que, numa tentativa de sair dos braços de Xande, acabou fazendo muito barulho ao cair com as costas no chão — Ai, caralho... eu mereço mesmo.

— O QUE? ONDE? QUEM INVADIU A CASA?! — Berrou, havia acordado no susto com a confusão e começou a olhar em volta, até perceber o amigo se levantando do chão com uma mão na coluna, parecia um idoso. — Ufa! Que alívio, é só você... — O loiro deu um suspiro longo, colocando a mão direita no lado esquerdo de seu peito. — Pera, o que você tava fazendo no chão?

— Apenas um acidente, não vou entrar em detalhes! — Falou emburrado.

— Se você diz... vou fingir que acredito! — Disse, com um sorriso ladino.

— Acordou engraçadinho hoje ein, Xande? — Perguntou, de maneira irônica, enquanto se levantava totalmente do chão.

— Você deveria agradecer pelo meu bom humor, considerando que fui acordado com você se espatifando no chão!

— Ei, que grosseria! Não vai ganhar café da manhã! — Declarou, seguindo em direção da cozinha

— Eu tava só brincando, Gui! Vai mesmo deixar seu querido amiguinho sem comida? — Seguia o falso ruivo, fazendo sua carinha de cachorro abandonado.

— Olha, eu só vou deixar você comer porque eu sou uma pessoa incrível e humilde!

— Por isso que você é meu garoto favorito, Gui!

Garoto favorito?

Ele era o garoto favorito de Xande?

Guilherme tentou ao máximo conter sua empolgação diante da nova descoberta e começou a arrumar as coisas para o café.
Após preparar tudo, chamou Xande e começaram a se alimentar.

Não era à toa que Guilherme era o melhor amigo de Alexandre, adorava a companhia do falso ruivo. Com Guizo, Xande poderia ser ele mesmo e, por esse motivo, não escondia nada dele.

Mas Guizo estava escondendo algo.

Xande não havia esquecido que seu amigo tentou se afastar dele. Além disso, o cansaço e o desânimo do ruivo estavam nítidos, portanto, tiraria o dia para tentar animá-lo.

— Guizo, o que você acha de sairmos hoje? Apenas nós dois. — Sugeriu.

— Ah, pode ser, tem algo em mente?

— Não exatamente, só quero passar um tempo com você! — Expressou, fitando os olhos do mais velho. — Fora de casa, é claro. Aposto que você não sai há dias!

— Uhmm, deixa eu pensar na sua proposta... eu topo!

— Ótimo! Come isso logo pra gente ir! — Ordenou, ouvindo uma risada do mais velho.

— O seu desejo é uma ordem, princesa! — Acatou o pedido, direcionando ao loiro uma piscadinha.

Princesa.

Céus,
Xande poderia surtar a qualquer momento.

Algum tempo depois, estavam andando nas ruas da cidade, Xande, que não esqueceu o skate em casa, estava muito distraído para perceber que, de vez em quando, Guizo tirava fotos dele.

— Eai, quer fazer o que primeiro? — O de cabelos enrolados perguntou.

— E se a gente fosse naquela lojinha de CDs que abriu recentemente? Ouvi dizer que tem alguns da Ahlevo!

— É uma ótima ideia! Vamos!

Ao entrarem na lojinha, viram como o lugar era bem organizado e estéticamente agradável, além disso, tinha uma variedade muito grande de CDs, passariam um bom tempo vendo todos.

Os olhos de Guizo estavam com um brilho extraordinário, Xande poderia passar horas hipnotizado pela íris do amigo.

Passaram pelo menos uma meia hora ali, andavam de um lado pro outro vendo as capas de CDs e discutiam sobre alguns grupos e qualidade suas músicas. Guizo não comprou nenhum CD por causa do alto preço mas mesmo assim, havia se divertido e tudo graças a companhia do amigo, Xande lhe faz bem.

Sem dúvidas, esse era o veneno favorito de Guizo.

— E agora, princesa? Qual o próximo lugar?

— Uhmm, que tal o parque? Lá tem uma pista de skate e aposto que vai render filmagens boas!

— Boa ideia!

O parque realmente era uma boa ideia. Guizo iria fazer uma de suas coisas favoritas: filmar Xande andando de skate.

E a fez muito bem quando chegaram na pista, as habilidades do falso ruivo com a câmera eram excepcionais e sua concentração na hora de filmar algo era impecável.

Xande também não era nada mal andando de skate, muito pelo contrário, ele demonstrava ter maestria no assunto e uma confiança radiante.

Ambos tem autoconhecimento de suas habilidades, sabem que não vão falhar nem com eles mesmos e muito menos um com o outro.

A realidade é que foi dessa forma que eles se conheceram, Guilherme filmando um skatista desconhecido fazendo manobras para postar no blog. O falso ruivo teve certa dificuldade para convencer o outro a permitir que publicasse o vídeo mas, no final, teve sucesso. Acabaram conversando sobre assuntos banais e, nesse processo, descobriu que o nome do tal skatista era Alexandre mas que preferia ser chamado pelo apelido. Além disso, Xande simpatizou muito com o falso ruivo no momento em que o garoto conseguiu entender facilmente a estampa "Oculto" em sua camiseta.

Então, sim, o parque foi uma ótima ideia

Ficaram no parque até o horário do almoço e, quando a fome bateu, não optaram por um almoço saudável, decidiram que preferiam um hambúrguer.

— Obrigado, Xan.

— Pelo que?

— Por estar comigo hoje.

— Capaz, amigos servem pra isso! Sem contar que eu adoro passar o tempo com você!

Amigos.

Guizo havia esquecido desse detalhe.

Seriam pra sempre só amigos.

— Esqueci de te perguntar, né? Você chamou a Dara pra um encontro? — Questionou, evitando olhar nos olhos do amigo

— Ah, chamei. Foi divertido mas ela nem sequer percebeu que era um encontro. — Disse, começando a rir.

— Que pena, parece que você vai ter que tentar de novo... — Respondeu, junto de uma risada fraca.

— Não acho que vai ter uma próxima vez. — Sussurrou.

Guizo não ouviu essa parte.

Mesmo se Xande tivesse falado alto, não teria escutado.

As vozes da sua cabeça falavam mais alto.

Muito alto.

Só não mais alto que sua repentina falta de ar.
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— GUIZO!