Capítulo 3 - Minha presidenta

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Chegáramos na sala atrasados. Todo o ensino médio já estava lá.

Menos Marinere.

Busquei-a por toda a sala, mas nada achei. A apresentação começara sem ela. Sentamo-nos nos confins daquele recinto, junto a um alienado do segundo ano.

O ambiente estava escuro, com apenas um refletor giratório que iluminava a sala por partes. Eis que, virando-se esse refletor à porta, empurrou-a a Srta. Marinete. A luz lhe alumiara enquanto ela jogava seus cachos ao alto, voando pelos giros do ventilador. Sorria em cintilar ímpar. Observou o ambiente. Gostava de grande público. Se não gostava, ao menos sabia como cativá-los. Era uma artista por matureza.

Chegou bem em sua hora de apresentar. Fê-lo perfeitamente. Aliás, quem organizara tudo fora ela. Sempre teve essa essência de liderança, e o fazia muito bem. Falou sobre Getúlio Vargas, Médici, Itamar Franco e até comentou sozinha sobre a ditadura militar. Eis sua parte favorita. Neste tema, pôde abordar não só os presidentes, mas também os artistas a quem tinha tamanho apreço. Falou de Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina.

Vários artistas que nós escutáramos juntos no cursinho.

Não sei o porquê, mas esses momentos que passei junto a ela me cresceram o repertório musical. Conheci músicas, musicistas, melodias e várias outras coisas. Sem ela, eu não tomaria conhecimento dos graves do Martinho da Vila, não me interessaria pelos mistérios noturnos de Zé Ramalho ou sequer criaria minhas próprias harmonias, minhas próprias letras, dado que não teria a minha musa inspiração, a quem fiz dezenas de composições.

Um detalhe que deixei escapar era que aquela apresentação do terceiro ano seria a última de todo o ano. Não só por ser a última da turma, mas por ser a última apresentação feita no último dia de aula de toda a escola. Os professores terminaram seus assuntos, os alunos já se esgotaram por completo, a diretora preparava os anúncios das recuperações e eu, em meu aterrado, orava para que se demorasse mais aquele dia. Que não se findasse. Que eu o vivesse e revivesse quantas vezes fosse preciso. Contudo, tudo que é bom, queira ou não queira, findar-se-á em certo dia. E eis ali o momento tão rude que me veio visitar...

Foi-se Em Uma KombiOnde histórias criam vida. Descubra agora