𝖛

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Pierre e Yuki eram verdadeiros opostos na maior parte dos aspectos que os compunham. Quando a noite se mostrou muito escura e os beijos muito longos, o francês não precisou de muito além de um "dorme aqui" sussurrado para deixar a viagem de volta a Madri para a manhã do dia seguinte. Ou até um pouco mais tarde, talvez.

Quando o sol começou a se espreitar pelas brechas das cortinas brancas do mais baixo, Gasly abriu os olhos lentamente, ajustando-os à toda a claridade e ao braço de Yuki que fazia um peso confortável sobre sua barriga, sua mão estando agarrada à lateral de seu corpo, na altura de suas costelas. Com o rosto um pouco inchado da noite de sono e a boca levemente aberta, o japonês ressonava tão delicadamente que o loiro só o ouvia fazendo porque estava perto o suficiente.

E em suas grandes diferenças, lá se mostrava toda a preguiça que Tsunoda demonstrava sentir na hora de levantar. Noel comentava vez ou outra, quando dividiam treinos, do quão insistente precisava ser para fazê-lo acordar e ali, enquanto observava sua paz sem quaisquer interrupções, nem mesmo suas próprias.

A noite anterior não havia tido tantas explicações, por mais necessárias que elas pudessem parecer. Yuki havia passado por seu processo de compreender quem ele era sozinho e isso lhe foi muito bom, não havia uma paixão arrebatadora no meio de tudo aquilo e ele teve um espaço muito positivo que o abraçou de verdade, ainda que normalmente as coisas não acontecessem daquela forma.

Pierre o fez algumas simples perguntas, nada tão sério assim. Descobriu que as primeiras pessoas a saber foram os pais do japonês, os três passaram algumas horas abraçados. Yuki tinha treze anos, eles conversaram sobre as dificuldades e sobre a sociedade que o filho precisaria enfrentar. Soube que ele foi excluído na escola por alguns grupos que ficaram sabendo com o tempo e também que ele não parecia assim tão afetado por nenhuma daquelas coisas.

"As pessoas escolhem ser cruéis assim, Pierre." Ele disse, em uma feição bem mais séria do que costumava ter. As mãos brincavam com uns fiapos do jeans rasgado que vestia agora que estavam sentados no sofá, de frente um para o outro. "Eu sou como sou, não é uma escolha minha... mesmo que fosse até, não cabe a ninguém julgar que está certo ou errado. Mas esse comportamento de repulsa, essa exclusão... isso é deles, não meu." Deu de ombros, com um sorriso meio triste. "Dói muito lidar com o ódio, mas se esconder é tão mais dolorido que nunca valeu à pena." Concluiu.

Aquela fala ecoou por cada parte de Gasly desde que se deitaram na noite anterior e agora, que estava novamente acordado.

Muita coisa precisava ser organizada em sua cabeça, de repente, e ao mesmo tempo... ao mesmo tempo assistir o peito descoberto de Yuki subir e descer delicadamente, em contato com sua própria pele parecia tão bom que não podia ser real. Tão certo que não havia sobre o que pensar, nada sobre o que precisasse se preocupar. Seus dedos se deixaram correr pelo cabelo negro que contrastava tão fortemente com a pele do mais baixo. E sabe-se lá quanto tempo passou até que Pierre finalmente precisou levantar.

Ir ao banheiro, querer verificar se estava tudo ok com a própria aparência. Enquanto lavava as mãos, ouviu um grunhido sonolento que o fez sorrir, voltando para o campo de visão de Tsunoda, assistindo-o espreguiçar-se antes de finalmente olhar em sua direção.

"Já vai?" A pergunta soou sutilmente desesperada, evidenciada principalmente quando Yuki sentou-se na cama quase num pulo.

Pierre somente sorriu, negando com a cabeça enquanto voltava em passos tranquilos para sentar-se ao lado dele. "Não." Respondeu, baixinho, observando o peito do outro mover-se numa expiração longa, cheia de alívio.

"Bom dia, então." Yuki disse, sorrindo finalmente.

"Bom dia." Gasly respondeu, colocando a mão na bochecha dele enquanto o puxava para um beijo. Uns beijos. Que acabaram se estendendo para alguns amassos matinais, deixando os dois bastante animados.

De um momento para o outro, Yuki encontrava-se no colo de Pierre, beijando-o com os peitorais colados, sentados sem se preocupar com mais nada que não fosse aquele desejo por mais. As mãos do francês corriam por cada parte do corpo do outro, como se já o conhecesse em totalidade, querendo saber mais, querendo ver mais, como se o japonês pudesse ser arrancado de si antes do tempo. Qualquer coisa menos que para sempre parecia antes do tempo agora.

"Nem quero mais ir." Pierre falou de repente. Partiu um beijo, ainda com as bochechas entre as mãos de Yuki, desesperado e com o cenho franzido. "Não quero mais ir embora daqui, de você."

Tsunoda pareceu querer dizer algo, talvez questioná-lo sobre cada uma das coisas que aquela afirmação implicava porque havia muito a se pensar numa decisão assim tão grande, mas concluiu sozinho que poderiam delimitar as circunstâncias juntos e que não importava o que fosse, contanto que tentassem juntos, poderiam fazer aquilo funcionar. Fosse aquilo o que fosse.

Então se contentou somente em balançar a cabeça positivamente, sorrindo em felicidade plena enquanto assistia Pierre fazer o mesmo, voltando a beijá-lo, agora sem pensar em mais nada. O que era essencial, estava dito e quem era essencial... estava bem ali, parecendo mais seu do que nunca.

THE END


olá! de presente de natal, finalizamos essa short fic tão lindinha e especial (: espero que tenham gostado! eu adorei fazer algo tão delicado. comentem o que acharam. vejo vocês em outras aventuras :D obrigada por lerem!

you ⁕ yukierreOnde histórias criam vida. Descubra agora