𝖎𝖛

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Se alguém os perguntasse como o almoço havia se estendido para uma tarde de filmes com os dois companheiros de equipe jogados lado a lado no sofá enquanto dividiam suas impressões da sequência que haviam decidido assistir, eles não saberiam explicar, nem muito menos por que abriram a primeira garrafa de vinho quando Yuki se ofereceu para aprontar um jantar, já que só perceberam que havia anoitecido quando levantaram desorientados que pareceu um cochilo mais longo do que o esperado.

A verdade é que o dia estava tão divertido de repente e as risadas eram sempre tão fáceis quando Pierre estava com o mais baixo que, apesar de saber que talvez fosse a hora de ir e que se estaria bebendo, não deveria mais dirigir, seu corpo não parecia deixá-lo externar quaisquer possibilidade de anunciar a própria partida... não quando estava tão bom ficar ali. Yuki tinha um quarto reserva, ele sabia disso... talvez não fosse um problema ficar por uma noite, dormir até que o álcool deixasse seu corpo.

Foi pensando nisso que não lhe custou muitos segundos pensamentos para decidir abrir a segunda garrafa enquanto Tsunoda servia os pratos com uma carbonara bem preparada. Gasly também não admitiria, mas adorava quando o parceiro cozinhava, o japonês era extremamente habilidoso e até mesmo quando não parecia ter muito conhecido do que iria fazer, as coisas funcionavam de uma forma que parecia impossível fazê-lo.

"Esse vinho é um dos meus preferidos para tomar com massas, Charles comentou quando jantamos juntos..." O francês soltou a frase no ar, enquanto comiam em silêncio.

"É?" Yuki respondeu, em busca da confirmação, que veio somente como um aceno de cabeça, já que, o outro parecia ocupado demais em engolir a comida que tinha no próprio prato como se ela fosse fugir. "Alguém de fato me recomendou, mas só acabei cedendo depois de tomar em um restaurante quando fomos ao circuito da França esse ano." Começou a explicar, pausando para terminar de mastigar. "Fui num café com um amigo e acabamos indo numa direção diferente." Completou, dando uma risada sozinho enquanto pensava no absurdo que era a ingestão de vinho não somente num café, como pela manhã e ainda mais, num fim de semana de corrida.

Pierre entretanto, parou alguns segundos antes... e outros depois. Amigo... acabamos indo numa direção diferente? Que direção? E que amigo? Iria caminhar nessa direção com Pierre também?, este se questionou, deixando os olhos caírem longamente na garrafa que os servia agora.

A mesa ficou quieta em seguida, Gasly estava perdido demais no próprio desespero para poder dizer qualquer coisa e Tsunoda concentrou-se somente em terminar sua comida, não notando muito habilmente que o francês a sua frente vivenciava provavelmente um dos maiores dilemas de sua existência.

Queria beijá-lo, era isso? Ou era o vinho?

Ao concluir, o japonês recolheu os pratos, estranhando que o outro deixara quase metade da comida, mesmo que inicialmente, parecesse adorá-la. 'Talvez eu tenha exagerado na hora de servir...', pensou sozinho enquanto deixava as coisas relativamente organizadas no balcão da cozinha. Não seria um erro inédito para Yuki, comida era um assunto sério em todos os momentos, às vezes, ele acabava indo um pouco além.

Então, quando virou-se de volta para o companheiro, seu coração descompassou e perdeu uma ou duas batidas ao encontrá-lo quase encostado a si mesmo. "Pierre..." O sussurro escapou de seus lábios, quase tão baixo que o loiro não o teria ouvido se não estivesse dividindo com ele as mesmas lufadas de ar que inspiravam. A diferença de altura fazia com que os dois ajustassem a direção em que olhavam para sustentar o contato. Yuki sentia as mãos um pouco úmidas de repente, o coração gritando na caixa torácica e o francês mantinha a mesma serenidade com que existia, como se aquela pequena distância que os definia como dois e não um só, não o afetasse em qualquer instância.

Mas era mentira. Suas mãos queriam estar passeando pelo japonês em sua frente. Queriam erguer-se e segurá-lo pela mandíbula, uma de cada lado de sua cabeça, trazendo-o para si. Para mais perto, seus lábios. Trazer os lábios dele para os seus.

E então o pensamento lhe fez dar um passo para trás, pigarreando. "Queria te perguntar uma coisa..." Começou, enfiando as mãos nos bolsos, dando as costas para o menor.

"Fique à vontade..." Yuki respondeu, ainda meio baixo e confuso, tentando organizar a si mesmo e ao amontoado de sentimentos que de repente o bagunçaram de forma integral.

"Vi você beijando um cara, naquela noite que saímos com Pyry e Noel." Pierre começou sem saber direito em que direção estava indo, de repente ele só sentia a própria cabeça com bem menos limites e muito mais leveza, então era fácil deixar que as palavras saíssem sem seu controle. "Não sabia que você... beijava homens. Você nunca falou nada sobre isso."

"Não pensei que precisava, Pierre... você também nunca perguntou." Tsunoda deu de ombros, meio inseguro com a possibilidade do companheiro ter uma reação diferente do que ele imaginou que teria.

"Sim, mas é porque eu presumi que você fosse hétero." O francês devolveu, quase que automaticamente, como se estivesse se defendendo de alguma coisa. Yuki somente sorriu, arrastando-o para sorrir junto consigo.

"Bem, não sou."

"E o que você é?"

"Sou bi."

"Hm."

O silêncio caiu sobre o lugar de um jeito um pouco tenso. Não era necessariamente o prenúncio de algo ruim, mas as energias não pareciam tão tranquilas porque Pierre queria fazer uma sequência de várias coisas que parecia segurar-se para não iniciar enquanto Yuki tentava ao máximo ler o que quer que estivesse acontecendo ali que ele simplesmente não entendia.

"Isso muda alguma coisa, Pierre?" A voz do japonês saiu ainda mais baixa do que anteriormente, se é que era possível que o fizesse. Suas mãos tremiam um pouco por todo o nervosismo que corria sua baixa extensão, era uma situação cega demais — conseguia ver que o outro tinha mil pensamentos correndo pela própria cabeça e sua infinidade de possibilidades lhe deixava preocupado.

Queria tanto que a infinidade fosse relacionada às formas de beijá-lo. Queria tanto que não se cabia de expectativa. Ao mesmo tempo que tentava se lembrar do quão improvável seria.

"Sim, muda tudo, aparentemente."

Pierre não demorou um segundo depois daquilo. Suas mãos, de repente, estavam segurando a nuca de Yuki enquanto ele havia se aproximado o suficiente para capturar os lábios do mais baixo nos seus, num desespero de que talvez, eles desaparecessem se não o fizesse rápido o suficiente. E aquela era a última coisa que o francês aguentaria: perder Tsunoda no momento em que o havia finalmente alcançado.


finalmente de volta, com um capítulo que adorei! espero que vocês tenham ficado se mordendo de expectativa também heheh deixem comentários me contando o que acharam disso aqui. vejo vocês em breve para nosso último capítulo (:

you ⁕ yukierreOnde histórias criam vida. Descubra agora