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Flora

Eu me sentia sozinha, mas eu nunca contaria isso para ninguém. Quando uma pessoa que admite se sentir sozinha, outras ficam com pena e acham que algo está errado. Mas na verdade não está.

A mídia fala sobre uma epidemia de solidão, mas admitir que se sentia assim, era como dizer que é um fracassado.

Fazia poucos meses que eu tinha desistido de tudo no Brasil e vindo morar em Madrid, e nada é um mar de rosas. Não tenho muitos amigos aqui, e é meio difícil de se comunicar!

Era um dia frio em Madrid, que fazia sua respiração se transformar em uma nuvem branca e fofa. Muitas pessoas passavam pela vitrine com a cabeça baixa e com o passo apertado, mas ele não. Havia um moço olhando as flores pela janela, estava concentrado e sem nenhuma expressão.

Diferente dos outros, ele não tinha entrado rápido na loja para se proteger do frio, ele estava com os olhos estreitos e com o nariz vermelho, havia um chocolate quente, ou um café, que o mesmo segurava com as duas mãos, na tentativa de aquecê-las. Ele analisava cada detalhe de cada flor.

Lorena trabalhava comigo, não sei se podia considerá-la como amiga, já que nós nos conhecemos a menos de um mês, porém ela é a única pessoa que eu "conheço" aqui, ao não ser minha chefe, é claro.

— Será que ele traiu a namorada? - a frase de Lorena me tirou do meu transe.

— Que? Como assim? - Eu ouvi a frase dela, mas não entendi sobre o que ela se referia.

— Será que o homem lá fora traiu a mulher? Digo, ele está olhando a vitrine a tanto tempo, acho que está tentando fazer a escolha perfeita para um pedido de desculpas. — Nos duas estávamos olhando para o homem de fora. — Até que ele é bem bonito. — Fiz um sinal concordando com a cabeça.

— Você não acha que ele está perdido? — Ela continuou a falar — Cometeu um erro tão grande que está pensando no tamanho do buquê que pode fazê-la esquecer.

— Ou fazê-lo.

— Ou fazê-lo. — Lorena se inclinou para frente para sua visão ter mais espaço — Você não acha que ele parece estressado? Cansado talvez, ele poderia estar aqui dentro, ou até mesmo na casa dele, no quentinho, mas não, ele está congelando diante da nossa vitrine.

Paramos de conversar quando um terminei os arranjos que estava fazendo, coloquei em um vaso e sai do balcão para colocar na prateleira de arranjos.

Quando voltei acabamos não tocando no assunto, ja que o homem que passava um olhar misterioso foi embora.

Quebra do tempo.

Depois de alguns clientes, o sol começou a se por, e já estava chegando a hora de fechar. Fui descer a porta de aço que precisávamos descer antes de sair da loja, enquanto Lorena ia terminando de limpar a bancada.

— Ele vai voltar — Lorena acaba quebrando o silêncio que permanecia pela loja — Quero dizer, o homem que estava na vitrine, eu sei que ele vai voltar.

— Por que você tem tanta certeza? — Questionei e olhei para Lorena

— Eu não sei — Ela parou por segundos o que estava fazendo

— Para de bobeira — Ri — Ele é só mais um cara que se interessou pelas flores mas acabou achando cara, ou não era exatamente o que ele queria.

— Hm, tanto faz. — Falou voltando ao seu afazeres.

Será que ele ia voltar mesmo? Sempre ouvi que cada flor tem uma história, e talvez Lorena estivesse certa, talvez esse estivesse querendo algo para compensar uma burrada que ele fez, ou.. Ai por que eu estou pensando nisso? Nem faz sentido. A Lorena está me deixando cada vez mais doida.

Terminei o expediente e fui direto para casa, estava cansada já que tinha acordado 5:00 da manhã para poder ir comprar flores do outro lado da cidade.

Amém hoje era quinta! Sexta está chegando, isso significa que sábado também, então talvez eu possa sair para me divertir.
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Feliz natal a todosss
Palavras: 672

𝐀𝐋𝐋 𝐎𝐅 𝐌𝐄 || João FélixOnde histórias criam vida. Descubra agora