🎨Dante tinha tudo: Uma carreira reconhecida como pintor; uma noiva linda e apaixonada. Estava conquistando território internacional com suas obras.
Tudo parecia perfeito. Mas dias antes de seu casamento o mundo desabou.
O amor de sua vida é arranca...
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Sete em ponto pulo da cama. Agitada começo meus exercícios de *Qigong, maneira que encontrei de equilibrar meu corpo e alma. Energizada vou até a cozinha, preparo um café de coador, separo algumas frutas e bato todas no liquidificar com leite de amêndoas. — Caramba, Lú. — Rafa resmunga, arrastando os chinelos até a cozinha. Senta na bancada a minha frente. Boceja esfregando o coque bagunçado de quem dormiu com o cabelo preso para não ter que pentear depois. — Logo cedo fazendo todo esse barulho. Entrego um copo de vitamina para ela, dou uma golada de olhos fechados no meu, saboreio feliz com o resultado. — Delícia! Ela toma o dela e faz careta. — Eca, Lú! — estremece em um arrepio, solta o copo e empurra para longe — O quê colocou nessa vitamina? — Frutas e leite de amêndoas. — Argh! Odeio leite de amêndoas — caminha fazendo um barulho irritante com os chinelos. Pega o leite de vaca na geladeira e toma na garrafa. — Isso que está fazendo sim é nojento. — a reprovo, ela não liga, meneia os ombros deixando claro. — Você não vai tomar. Se é só meu, posso tomar como quiser. Nego com a cabeça, sorrindo. — Quer comer algo? Uma tapioca? Quem sabe podemos ir caminhar no calçadão antes de abrir a loja. Rafa me olha verdadeiramente perplexa. Abro às mãos querendo entender o que falei de tão anormal. — Como você consegue acordar assim todos os dias? Não entendo. Não vou para nenhum outro lugar que não seja minha cama. — ela sai se espreguiçando. — Abre a loja você hoje. Vou só na parte da tarde. — Ah que legal. — resmungo sozinha. Termino meu suco, lavo os copos e vou me arrumar para caminhar na orla e depois trabalhar. *** Algumas crianças entram agitadas para brincar com os filhotes que resgatamos e estão para adoção. Se Rafa estivesse aqui, daria uma bronca nelas, no entanto eu, adoro ver os filhotes balançando os rabinhos e pulando para lamber os rostos sorridentes. Me aproximo pois sei que irão embora e os cachorrinhos chorar. Assim acontece. Passo a mão dentro do cercado, acariciando-os. — Não fiquem tristes, logo alguém virá e se apaixonará por vocês. Será inevitável. E cada um será feliz em seu novo lar. Essa é a melhor parte do meu trabalho. Ver o amor nascer. Quando alguém chega e se apaixona pelo bichinho é mágico, palpável. Sentimos o elo se formar, os olhos brilharem. Nesse momento eu sei que um fará o outro feliz. Irônico como vejo esse sentimento nascer nas pessoas, mas em mim nunca aconteceu. Nunca tive um pet. Nem soube o que é olhar para alguém e sentir uma conexão. Então quando assisto me impressiono. — Bom dia! — Rafa diz se posicionando ao meu lado, atrás do balcão. — Boa tarde! — A corrijo. — Que bom que chegou. Estamos cheias de afazeres. E a senhora, dona Veterinária, tem dois pacientes hoje. — Eu sei. — Ela separa as fichas. — Uma limpeza dentaria, da qual você prometeu me ajudar — me olha piscando os olhos como asas de beija-flor. Só concordo. — E o retorno da Lady. Acho que tiraremos seus pontos. — Assinto. Rafa é minha amiga há mais de 7 anos. Nós conhecemos na faculdade. Ambas fazíamos veterinária. Mas por motivos de saúde fechei o curso e nunca mais retomei. Acabei partindo para área de estética animal e há dois anos abrimos um petshop. A localização ajuda muito, estamos em um dos melhores bairros do Rio, Ipanema. Rafa herdou a localização da mãe que faleceu um ano antes. Era proprietária do ponto. Quando ela morreu deixou o lugar para a filha. No inicio Rafa pensou em alugar ou vender. Mas a convenci a embarcar em abrir um pet nosso. Já que ambas trabalhávamos no ramo, só que para outras pessoas. E nenhuma estava realmente feliz no trabalho. Foi a melhor coisa que fizemos na vida. Estamos indo maravilhosamente bem. E se continuar assim, pensamos em expandir, abrindo um hotel canino. O primeiro paciente chega. Um pequeno Maltês, que mesmo sendo fofo dá um trabalho lascado. O cachorrinho é nervoso, nos causa um tempão para domá-lo e enfim fazer a anestesia. Somos contra traumatizar o animal, tentamos fazer tudo com carinho, para que eles se adaptem a nós. Quando enfim conquisto a confiança do pequeno peludo, Rafa o coloca para dormir. A limpeza dura pouco tempo, os dentes são bem cuidados com pouco tártaro. Logo nosso amigo estará deitadinho se recuperando do efeito da anestesia. Só esperando sua dona buscá-lo. Lady, já está acostumada conosco. Vem sem problema algum, embora esteja ressabiada pela cirurgia, dois minutos de cafuné a conforta. Tiramos os pontos e ainda ganho umas lambidas de gratidão. Eu realmente amo meu trabalho! O dia passa sem grande agitação. Os filhotes latem para cada pessoa que passa na rua. Alguns entram para saber sobre eles. Mas até agora nada de magia para esses bebês. — Será que serão adotados logo? — pergunto à Rafa. — Claro que sim. — ela levanta o olhar do computador encarando os filhotes — São fofos.— Concordo.— Volta a mexer em suas fichas, sem muita emoção diz: — Tenho convites para um show no *Circo Voador, será sábado agora. Vamos? — mordo a bochecha — Ah! Qual é Lú, você não sai desde que terminou com o babaca do Sérgio. Vamos! — Sorrio, pensando que não tem nada a ver com o termino, mas se eu disser, ela não vai acreditar. — Vamos só nós duas. Podemos dar uma volta na Lapa, se acharmos algo legal, nem entramos no show. — começo a considerar. Dançar é agradável. Adoro isso, também não tem mal algum paquerar. — Tá bom. Mas você sabe às regras. — Ela revira os olhos. — Sem álcool ou batatas fritas. — Sorrimos. — Eu sei. — Sabe que não é por mal. Não posso arriscar. — Eu sei. Não brincaria com sua saúde. — Me cutuca com o cotovelo. —Embora uma frita lá de vez em quando, não te faria mal. — Nada disso... — arregalo os olhos. A fazendo rir. Ficamos analisando um caso de um gatinho que apareceu na rua cheio de sarna. Fazemos um trabalho social, para ajudar animais resgatados por maus-tratos. Cuidamos e tentamos ajudar a dar-lhes um novo lar. Esse gatinho está morando aqui na clínica, seu estado é grave. Tem tantas feridas que nem se aguenta em pé. Por isso estamos pensando em enviá-lo para uma clínica maior, onde possam tratá-lo com mais conforto. Mas nosso coração se apegou ao bicho. — E se ficarmos com ele? — Rafa expõe o pensamento que sei que a ronda desde que o bichinho chegou. — E o Hércules? — Indago, pensando que o gato servirá de palito de dentes, para um Dogue Alemão. — Ele só fica comigo de 15 em 15 dias. Damos um jeito. Converso com o Lucas. Hércules, também é fruto de um resgate. Foi pego filhote, de um criador clandestino que vendia animais de raça de maneira irregular. Os deixavam largados na sujeira, sem alimentação adequada. As fêmeas, só serviam para reprodução, morriam por não ter qualidade de vida e estar sempre parindo. Acharam uma cova rasa onde eles jogavam os animais que morriam. O cheiro do lugar era insuportável, me contou Rafa. Rafa na época namorava Lucas. Ainda não tínhamos o pet, ambas estávamos nesse projeto, mas eu havia me afastado. Hércules tinha só 20 dias de vida, mas estava desnutrido. Provavelmente morreria em dias se o canil, não fosse denunciado. Rafa cuidou dele, quando estava pronto para ir para adoção, ela não teve coragem. Decidiram adotar juntos. Lucas e Rafa terminaram, mesmo separados eles continuaram a cuidar de Hércules juntos. Só que moramos em um apartamento pequeno, enquanto Lucas em uma chácara. Lógico que para melhor qualidade de vida o cão ficou com ele. Mesmo assim vem nos visitar um final de semana sim outro não. — Bom, sabe que teremos que pensar bem sobre isso. — Franzo a testa para ela — Vamos primeiro ajudá-lo a se curar, depois pensamos no próximo passo. Ela concorda, pensativa. Acho que não terei escapatória, conhecendo bem minha amiga, ela vai me azucrinar até eu ser vencida pelo cansaço. A campainha da porta toca, anunciando a entrada de alguém. Olho por cima das prateleiras tentando ver a pessoa. Meu coração acelera! O mesmo cara que Hércules pulou no calçadão há dois dias atrás está aqui. Cutuco Rafa. — Olha é o mal-educado — sussurro para ela. Ambas ficamos o analisando, duras. Ele passa pelas prateleiras, pega um frango de borracha faz uma careta e devolve no lugar. Reparo que traz uma sacola. Imagino ser a camiseta. Ele trouxe mesmo para eu lavar. Seguro a vontade de rir, mordendo os lábios. — Quando enfim chega no balcão nos olha com a cara fechada. — Pois não? — finjo não o reconhecer. Mas nunca esqueceria aquela carranca. Ele coloca a sacola no balcão, com desdenho começa a falar: — Não consegui tirar a mancha. — Olha bem no fundo dos meus olhos, me deixando desconcertada — Quer saber? Não sou eu quem deve pagar a lavandeira... Rafa dá uma risada sarcástica. A cutuco discretamente com o pé. — Tudo bem... eu lavo. — ele meneia a cabeça, aperta a sacola, como se a protegesse. — Não eu. A lavandeira, levo até lá hoje mesmo. Te devolvo assim que estiver pronto. — Ótimo! Espero que realmente conserte a merda que fez. Baixo a cabeça, passando a língua nos dentes. Suspiro para conter a vontade de xingá-lo. Antes de ter coragem de encará-lo ouço Rafa desabafar: — Cara! Você é muito babaca. — Rafa! — a repreendo. — Que foi? Ele é mesmo. O cara sorri, nada incomodado com a acusação. — Não ligo para o que pensam de mim. Só quero minha camiseta como era antes de você estragá-la com uma mancha roxa. — Você poderia ao mesmos ser agradável. Não precisa falar assim. Parece que gosta de ser amargo. — Rafa continua, seguro seu pulso para que pare. Afinal de contas, foi culpa minha Hércules ter escapado e pulado nele. — Eu não tenho culpa, que sua amiga é irresponsável e sai por ai com uma fera que não pode controlar... — Epa! — O interrompo — Não é assim. Hércules não te fez nenhum mal. Ele pega a camiseta dentro da sacola e mostra. — Não fez? — Suspiro — Olha não me importa. Só me devolve ela branca novamente. E nunca mais cruzamos o caminho um do outro. Não me importa se será presa por andar por ai com um cachorro do tamanho de um cavalo, que ataca às pessoas na rua. Rafa levanta o indicar, pronta para protestar. Seguro a mão dela, obrigando-a baixar o dedo. — Beleza! — digo com um falso sorriso. Entrego um papel e uma caneta a ele. — Escreve seu nome e endereço ai. Vou deixar na lavandeira junto a camiseta e mandar entregar direto à você. — ele franze o cenho — Já pago. — Acrescento. Ele faz o que peço. Me entrega o papel. Coloco na embalagem de papelão e lacro com grampos. — Até breve. — digo me despedindo, para que ele se toque e vá embora. — Até nunca! — responde amargo e sai com as mãos no bolso. Quando passa pelos filhotes, todos latem. Ele é tão frio que nem vira a cabeça para olhar a fofurice o chamando. Faço uma careta, decepcionada com nem sei o que. — Que cara grosso! — Rafa exclama. — Eu disse. — Ela pega o saco e analisa o papel.— O quê está fazendo? — Quero ver quem é esse idiota. Ela pega o papel, abre o google e digita o nome e sobrenome dele. — Para com isso, Rafa. Do jeito que esse cara é, nem deve ter redes sociais. Deve ser um indigente digital... Inexistente... — Cassete! — me irrompe. — Que foi? — me agito, curiosa. — Você não poderia estar mais enganada. Ela vira a tela para mim. Meu queixo cai no chão. "Como o homem dessa foto pode ser o mesmo que estava aqui a pouco." __________________________________ *Qigong, Chi Kung ou Kikō é um termo de origem chinesa que se refere ao trabalho ou exercício de cultivo da energia. Estes exercícios têm a finalidade de estimular e promover uma melhor circulação de energia Qi no corpo. *Circo Voador: é uma casa de shows localizado na Lapa, bairro tradicional do Rio de Janeiro. __________________________________ Espero que estejam gostando. Contem para mim. Continuo ou paro? Quero saber a opinião de vocês. Bjos e um ótimo início de ano.