Capítulo 1

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Rie sabia que, uma hora ou outra, teria que voltar para casa... mas quando estava na praia, parecia que todos os seus pensamentos mais preocupantes sumiam.

Desde que era pequeno, fazia aquilo.

Isso depois de seu trauma pelo mar diminuir. Chegou uma época em que ele nem ao menos pisava na areia... certas cicatrizes podiam demorar anos para ficarem boas, mas, querendo ou não, elas ainda estão lá.

Já estava de noite e a única coisa que fazia era observar o vasto oceano a sua frente. Estava frio por causa daquela época do ano, mas nada que pudesse ser desconfortável.

Quando menos esperou, sentiu alguém se sentar ao seu lado e reclamar, como adorava fazer.

── Procurei você pela ilha inteira, já estava desistindo de levar você ── Nine diz, querendo que o melhor amigo o notasse ── Hey, estou falando com você.

── Eu escuto com os ouvidos, Nine.

── Mas eu quero que olhe para mim, por favor? ── revira os olhos e olha para o mais novo ── Agradecido.

── O que você quer?

── Desistiu de ir a festa do Mill? Yoojung e Kyubin já estão lá ── diz, balanço o amigo ── Vamos Rie, você quase nunca saí dessa praia.

── Eu gosto de ficar aqui, algum problema?

── Mas você não pisava aqui já ia fazer anos ── comenta, um tanto surpreso ── Por isso esse foi o último lugar que pensei que estaria.

── Eu também não sei... mas sinto que devo ficar aqui, nem que seja para observar o mar. É como se... estivesse me chamando para cá.

── A Ilha de Jeju é linda mesmo... mas uma hora ou outra, todos vamos nos mudar para Seoul ── comenta, vendo que o amigo não prestava atenção ── Sabe de uma coisa? Eu vou esperar você na festa. Não quero que o Mill coma tudo sem mim.

── Prometo que irei logo, só vou ficar mais um tempinho aqui...

Nine acaba se levantando, limpando a areia da roupa.

── Você quem sabe. Eu tô' me mandando daqui.

Nine acaba indo embora no seu carro e deixando o amigo para trás. Em um ponto o mais novo tinha razão: a praia seria o último lugar a Rie ir. Depois do acidente de anos atrás, quando o barco onde estava afundou e ele afundou, nunca mais tocou os pés na água.

Mas ele estava vivo por algum motivo e não sabia como. Era muito novo na época... só se lembra de uma mancha escura passar por ele antes de apagar, como um enorme peixe. Até hoje Rie não sabia o que era...

Ele apenas e levantou de onde estava e acabou indo até mais perto, vendo as ondas chegarem aos seus pés. Sentiu seu coração apertar, mas acabou entrando até a altura do tornozelo...

Estava frio pelo simples fato de Rie está com medo, afastando-se quase de imediato e respirando fundo pelo seu corpo em pânico. Olhou novamente para aquelas águas escuras e se afastou aos poucos.

── Eu não quero ter medo, eu não que–

Acabou se calando de imediato quando escutou algo, não muito longe de onde estava. Achou que só fosse o mar, mas foi ganhando intensidade até Rie se sentir atraído por o que parecia ser... um canto?

Olhou para os lados, mas estava sozinho naquela praia.

Olhou para frente e sentiu seu coração parar ao ver que, não muito longe dele, havia alguém na água — não fazia a mínima ideia de quando havia entrado — olhando para ele. Era assustador, mas Rie apenas não conseguia se mexer.

Estava preso enquanto aquela pessoa se aproximava aos poucos da beira da praia, apenas Rie sentindo seu corpo se atraído aos poucos, voltando a entrar na água, porém atravessando o seu próprio limite.

Quando menos notou, a água batia em sua cintura.

Enquanto estava preso, sentiu o rapaz tocar em seu rosto enquanto notava melhor o seu redor. Algo atrás dele daquele cara fez a água se mover em onda... e era grande.

Grande no nível de ser parte de uma cauda gigante.

── M-Mas...

O rapaz apenas cobriu a boca dele a sua e se permitiu aquele beijo. Rie queria sair dali, queria sair da água a ponto de querer chorar — era apavorante demais — o que o fez quebrar o que quer que estivesse prendendo o seu corpo e empurrar o outro.

Rie correu para sair da água e caiu na areia, rastejando para fora enquanto chorava.

Ele não queria afogar.

Ele não queria sentir aquela falta de fôlego quando afogou e quase morreu.

Seu coração estava a mil, mas voltou a olhar o mar. Achava que o homem havia ido embora, mas ele apenas se aproximou do raso e saiu, Rie podendo notar que não era apenas um humano comum...

...também era parte peixe, uma sereia.

Ficou sem entender o motivo dele estar saindo da água — querendo ir até Rie — e achava que não ia conseguir. Mas, quando toda aquela enorme cauda estava na areia, foi como se tivesse se transformado em um líquido viscoso e dando espaço ao par de pernas que se originou.

Ele estava pé... indo na direção do mais velho.

── F-Fique longe... me escutou?! F-Fique longe!

Não parecia entender, pois acabou se abaixando onde Rie estava e segurando o seu rosto, com ambas as mãos, novamente. Aproveitou para enxugar as lágrimas de Rie a medida que iam caindo.

Com uma simples expressão, continuou a cantar.

A voz dele era linda... algo que fez o coração de Rie acabar ficando mais calmo e sua cabeça um tanto tonta, como se não fosse a primeira vez que estivesse escutando aquilo.

E ele adormeceu até lembrar...

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Notas finais

Até o próximo capítulo!

SIREN'S SONG || JunRieOnde histórias criam vida. Descubra agora