V | Benny

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Bernard era filho dos vizinhos da frente, os Laffite. Eu fiquei tão feliz quando ele se mudou que pedi a papai para que me deixasse casar com ele. Só tinha oito anos, então não entendia que ômegas e ômegas não ficavam juntos {1}, eu só realmente achei fantástico que Benny fosse como eu.

De repente, o mundo era maior. Era colorido e feliz. Nós andávamos de bicicleta e jogávamos videogame. Roubávamos moedas da fonte da praça central e tocávamos campainhas na surdina. No resto do tempo, fazíamos uma verdadeira bagunça na escola e estávamos sempre de castigo.

Os adultos achavam intrigante que Benny e eu, como ômegas, não fossemos tímidos ou doces. Ao contrário, éramos cães de rua, sempre provocando o caos.

Nos meus treze anos, eu fiz uma festa de aniversário, e o Benny não foi. Perguntei ao meu pai por que ele não tinha nem mandado um cartão e John explicou que Benny estava em seu primeiro cio, resguardado no porão de casa, em seu calor.

Fui visitar Benny na manhã seguinte. Ele estava péssimo e com medo, se recusando a comer. Eu fiz torradas com a mãe dele e o forcei a comer, senão não jogaríamos videogame. E aí ele ficou bem.

Só que, ao longo dos anos, quando nos mandaram para uma escola especial para ômegas, porque conviver com alfas era "potencialmente perigoso", segundo o que diziam, Benny mudou.

Algo havia acontecido com ele. Eu sabia que algo ruim. Ele se fechou e se tornou distante, mas nunca deixou de ser meu amigo. Só era um adolescente mais recuado, quieto, que não fazia amizade com nenhum dos ômegas da nossa escola.

Éramos apenas Benny, eu, e outros sete alunos machos naquele lugar. Éramos raros. Ainda somos.

Sinto falta do Benny. Ele sempre dizia a coisa certa. Pra qualquer um. Sempre fazia a coisa certa, também. A sensatez dele é algo que eu sempre invejei. Eu gostaria de saber se ele está vivo. Eu gostaria de saber porque assim eu teria mais esperança. Ele era como uma fonte de energia e otimismo pra qualquer um.

> > Ω <<

"Deixem suas capas na entrada, ômegas", a aia-tia nos diz, enquanto estamos entrando na mansão-maternidade onde os lacaios e aias vão para terem seus bebês com acompanhamento e saudavelmente. Um mar vermelho enchendo a entrada da mansão, nossas capas deixadas nos cabides no hall de entrada e as abas maiores deixadas sobre uma mesa.

As senhoras ômegas estão em uma sala somente para elas.

As senhoras ômegas usam azul, porque elas são ricas e inférteis.

Nós usamos vermelho, porque somos pobres e férteis.

E as aias-mães, pais e tias usam cinza ou bege, porque são pobres e inférteis.

Não há nenhuma fêmea ou macho ômega que seja rica e fértil. É proibido. Se seu útero funciona, então você pertence ao Estado. 

"Veja", Charlie sussurra no meu ouvido, mirando a sala onde as senhoras ômegas estão.

Todas no chão, sobre almofadas, entoando "Respire", "Respire", para uma das senhoras, deitada ali, usando uma camisola, respirando o tipo cachorrinho, como se estivesse...

"A aia deve estar parindo seu filhote lá em cima", Charlie deduz. "Jo está tendo um bebê, não é maravilhoso?"

Olho para as senhoras ômegas. O ritual é: elas se reúnem e fingem que a senhora Bradoc está dando à luz, ela usa as vestes de parto e respira como num parto, como se estivesse tendo contrações, como se estivesse mesmo tendo um bebê.

É uma encenação, porque quem está realmente parindo é Jo, em algum lugar lá em cima. A senhora ômega não sente dor alguma, Jo sim. Mas, no ritual, ela precisa encenar para que, como resultado da cerimônia, o filhote pertença, teoricamente, a ela. E não a Jo.

the omega's tale [destiel fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora