Os "Daimons"

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Quando chegaram no local, presenciaram muito sangue, corpos sem braços e pernas e duas mulheres sentadas com as bocas e mãos amarradas a uma árvore.
Todos eles, menos Paulo ficaram de cabeças baixas, não conseguiam mais olhar tanta selvageria. Ana então, levanta sua cabeça e olha a aparência dos causadores de todo aquele derramamento de sangue.
Eles eram bem altos, sua pele parecia ser ausente de sangue, não tinham pelos ou cabelos, olhos fundos com cor de sangue, dentes podres e suas bochechas eram crispadas, assim como o restante do seu corpo. Seus braços e ombros haviam tatuagens em forma de vinhas. Estavam descalços e só usavam algo que parecia ser couro para cobrir sua parte da frente. Suas expressões eram nada humana, parecendo assim ter um intenso desejo por sangue e carne.
O mais forte entre os selvagens e também o que tinha mais tatuagens estava conversando com Paulo em uma língua, que Jonas, Julia e Ana não conseguiam entender.
O experiente aventureiro começou a gesticular com os braços apontando em direção a cachoeira, que eles tinham passado um tempo atrás.
Então o selvagem olha para o seu grupo e fala algo que parece desagradar o restante, pois começaram a levantar suas lanças, fazendo também um barulho intenso.
Ele que parecia ser o líder do grupo dos inumanos bradou palavras intensas, logo o restante ficou em silêncio e abaixaram suas lanças.
Paulo abaixa a cabeça e de joelho parece suplicar algo. O líder com a cabeça pareceu concordar.
— Não se preocupem. Vamos ficar bem — disse ele aos seus amigos, após o término de sua conversa com o selvagem.
Ana, Julia e Jonas simplesmente não entendem nada do que estava acontecendo, mas por hora ficaram aliviados, pois não iriam morrer daquela forma brutal.
Os selvagens então começaram a coletar os corpos no chão, os amaram em uma vara longa, as pernas e  braços mutilados colocaram em uma cesta que parecia ser feita de cipó. As mulheres foram amarradas em uma corda que também parecia ser de cipó.
— Temos que ir com eles por enquanto — disse Paulo temeroso.
— O que está acontecendo? — perguntou Ana desesperada. Jonas e Julia também o questionaram.
Haviam muitas perguntas a serem feitas: Como você sabe falar essa língua estranha? Você os conhece? Aonde estamos indo? Vamos morrer? Por que eles estão levando os corpos? Por que eles não mataram as mulheres?
Paulo respondeu de uma forma que eles pudessem entender, mas ele também não sabia responder todas as preocupações de seus amigos.

Ele disse que já tinha vindo até a África antes, à época dos seus vinte e cinco anos. Ainda não tinha conhecido a Julia. Por impulso salvou a vida de um homem que estava sendo atacado por um animal selvagem, contou que sua aparência era bem incomum, já que não tinha pelos ou cabelos, seus braços e ombros tinham tatuagens com vinhas, igualmente aos selvagens ali presentes.
Após isso, esse homem falou algumas palavras que ele não entendia, só apenas compreendeu seu nome, Az, que em um piscar de olhos tinha sumido em meio a floresta.
— “Uma vida, por uma vida” — traduziu o guia que o acompanhava, ele sabia falar aquela intrigante língua, Adisa, era o seu nome.
Naquela época Paulo estava em uma busca de um tipo estranho de animal que só se encontrava por aquela região. Acabou ficando curioso sobre a aparência daquele homem, mas o guia falou que era má ideia e que foi erro ter salvado a vida dele.
Explicou que eles se chamavam “daimons”: descendentes do demônio. Esses selvagens eram canibais, detalhe esse que Paulo escondeu do seu grupo, os poupando momentaneamente de mais preocupação.
— Tivemos sorte de não encontrar um grupo deles — suspirou aliviado Adisa.
Paulo perguntou ao guia como ele sabia de tudo isso e como sabia falar sua língua.
Adisa contou que seus bisavós andando naquela floresta encontraram uma mulher mutilada, não tinha um braço e nem seus dedos das mãos e dos pés, eles pensaram que ela estava morta, mas por um milagre não estava.
Meus bisavós cuidaram dela e perguntaram oque tinha acontecido, ela falou que tinha fugido de pessoas de aparência pálida, como se não possuíssem sangue em seu corpo.
O nome dela era Ayo, ela tinha ficado com essa tribo na qual chamava de “daimons” por anos e com isso tinha aprendido a falar a língua deles.
Ayo também os ensinou sua língua, que ensinaram aos seus netos, que ensinaram aos seus filhos e agora Adisa iria ensinar aos filhos dele.
O guia achava que era uma história de terror contada pelos seus pais para ele não ficar andando sozinho na floresta. Foi a primeira vez dele encontrando um “daimons”, e seria a última também, pois afirmou para Paulo que não voltaria a andar naquela floresta nunca mais.
Poucas coisas assustavam o bravo aventureiro e aquela história tinha sido uma delas.
No caminho de volta para casa, Paulo insistiu tanto para Adisa o ensinar aquela língua estranha que ele acabou cedendo.

Quando terminou de contar sua história, disse que estavam indo para a tribo dos “daimons”.
Paulo ficou surpreso quando descobriu que o homem que ele havia salvado onze anos atrás tinha se tornado o líder deles.
— Mas eles acreditaram em você? — Jonas perguntou inquieto.
Paulo achava e acreditava que sim, se não o final deles teria sido igual ao do outro grupo, mas ele ainda parecia estar escondendo segredos, pois sua expressão preocupada indicava isso. Ele ainda disse que não sabia do porque eles estavam levando os corpos e nem sabia o porquê deles pouparem as mulheres, mas na verdade estava mentindo.
— Então por que não deixam a gente ir? — perguntou chorando Julia.
— Eu não sei... mas é melhor a gente tentar não fugir — disse precavido.
Ana, que sempre foi muito observadora, notava que Paulo escondia coisas deles, mas pensava também que se o apertassem ainda mais ele acabaria causando um caos, maior ainda na qual eles se encontravam.

Lentamente continuaram andando floresta adentro, estavam cansados, inquietos, abalados e ansiosos porque não sabiam oque iria acontecer com eles. A floresta ia ficando silenciosa por onde eles iam passando.
Volta e meia um dos “daimons” olhava para Ana e Julia com a língua que era totalmente escura, passando entre os lábios ressecados. Isso as deixava inquietas e inseguras, uma se agrava no braço da outra buscando força para continuar.

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