A Lua Sombria

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Um bom tempo se passou e, após isso, elas estavam extremamente cansadas, mas não pararam.
— Será que já se passou uma hora? — perguntou Julia ansiosa e temendo pelo pior.
— Acredito que sim — respondeu ofegante pelo forte ritmo que estava.
Ana por não ter um corpo atlético igual Julia estava sofrendo bastante, além do que às duas estavam com vários cortes causados por galhos secos e tinham sido drasticamente ferradas por mosquitos.
Por um segundo pensaram em desistir, mas não seria justo pelo sacrifício de Paulo, então permaneceram firmes no seu objetivo em sobreviver.
Já bem floresta adentro, resolveram parar e beber um pouco de água em um pequeno lago.
Era luar e a água estava refletindo a imagem da lua cheia.
Ana notou que a floresta tinha ficado em um silêncio absoluto. Ela então lembrou que quando estavam indo para a aldeia a floresta também não fazia barulho por causa dos “daimons”.
Desesperada suplicou a Julia:
— Corre agora!
Mas foi tarde demais, porque sua amiga estava com seus olhos arregalados e de sua boca jorrava sangue. Sangue esse causado por uma lança cravada em sua costa, que atravessou até seu peito.
Ana se levantou rapidamente e correu chorando, apenas correu. Seu instinto de sobrevivência suplicava por isso.
Em seu desespero ela abriu um corte enorme em seu braço em um galho seco, mas nem tinha notado por causa da forte adrenalina.
Naquele momento só se lembrava dos seus falecidos pais e de uma época que talvez tivesse sido feliz.
Então ela tropeça em um tronco caído no chão e cai dentro de um grande buraco com água.
A água estava brilhando de uma forma tão vivida que parecia ser dia naquele local, e também logo começou a mudar sua cor por causa do sangue que saía do seu braço.
Ela ficou encantada quando notou pequenos peixes dourados flutuando ao seu redor, logo fechou seus olhos e pensou estar sonhando.
Estava tão em paz, pois não havia mais perseguição e nem dor.
Nesse momento escutou uma voz, uma doce voz que ecoava no profundo buraco.
— Oh, minha pequena Ana. Tanto sofrimento. Tanta dor — dizia a voz misteriosa em tons de lamentação.
Ana após escutar a voz começou a se lembrar de um passado distante, época do ensino médio onde teve que morar com seus tios. João era seu tio por parte de pai, um homem com sérios problemas com álcool, que faziam dele uma pessoa violenta, ele frequentemente batia nela. Sua mulher Laura, não podia fazer nada para ajudar Ana, pois tinha muito medo dele. Foi um período de três anos doloroso.
Um dia cansada e desesperada fugiu de casa. Julia, sua única amiga da escola foi quem a ajudou a superar essa fase escura da sua vida, mas profundas marcas ficaram.
— Dor e sofrimento. Oh, minha pequena Ana. Eu acompanhei toda sua vida, toda sua história, todas suas lágrimas — falou novamente a voz misteriosa.
- Quem é você? Por acaso você é a morte? – ela perguntou estar morta, já que nunca esteve tão em paz.
— Oh, minha pequena Ana. Abra seus olhos e você então me verá!
Ela abriu os olhos lentamente em direção ao céu e viu a Lua, na qual naquele exato momento estava totalmente negra, nuvens com cor de sangue a cercavam e às estrelas ao seu redor brilhavam como nunca antes visto.
— Então é você! — disse sorrindo com lágrimas de felicidade em seus olhos.
— Sim... a Imperatriz da noite, luz para os perdidos, regente das estrelas, inspiração para os apaixonados e a fonte de desejos para os desamparados. Oh, minha pequena Ana. Eu estive esperando por você.
— Me esperando? — uma surpresa surgiu de suas palavras.
— Sempre estive te chamando, desde quando fechava seus pequenos olhos e pedia com toda força para ser uma estrela. Oh, minha pequena Ana. Você enfim me encontrou.
Aquela voz suave tranquilizou seu coração e acalmou seus pensamentos.
— Oh, minha pequena Ana. Faça seu desejo e eu o realizei.
Ela estava tão cansada da vida, que pensou não querer mais sofrer, nem sentir mais dor, seu coração e alma precisavam repousar. Então desejou com toda sua força ser uma estrela.
— Oh, minha pequena Ana, assim farei… — disse a voz se esvaindo.
Seu corpo começou a se desfazer em pequenas faíscas de luzes, e naquela noite o céu ganhou uma nova estrela, e lhe foi concedido o nome de Serena; à estrela mais brilhante do céu.

Fim.
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Agradecimentos

Queria agradecer a todas as pessoas que tiraram um pouco do seu valioso tempo para acompanhar essa história.

Instagram: enio_esd

Dark LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora