Eu e tu, tu e eu

Uma Nova Chance

Candoca acorda com um sentimento de paz e contentamento, a luz do sol das primeiras horas da manhã entram pela janela e ela logo se situa e entende o que a fez se sentir assim. Zé Paulino ainda estava dormindo, mas a estava abraçando forte, como ela ama. Um abraço que ela sentiu falta por 10 anos, mas que rapidamente se acostumou novamente. Ela olha para ele, que está com expressão serena, calma. Parece um dos sonhos que ela tinha diariamente mas agora era tudo verdade. Ela sentia o abraço dele na sua pele, sentia o cheiro dele, ouvia sua respiração leve e estava vendo ele deitado do lado dela. Diante de tanta emoção, Candoca não conseguiu conter as lágrimas.

Nos últimos dias, com o casamento cada vez mais próximo, ela tem ficado mais emotiva; uma combinação da felicidade de finalmente estar realizando o sonho de uma vida e a ansiedade do trauma que ela viveu da última vez. Ela tem escondido bem esse sentimento de Zé e das meninas, que estão correndo para ajudar nos últimos detalhes. Porém, no pouco tempo que ela tem para si mesma, algumas lágrimas escapam e os sentimentos mistos aparecem em sua cabeça.

Foi o que aconteceu naquele momento. O sentimento de felicidade por estar com seu amor unido ao medo de perder ele para sempre mais uma vez. Um medo aparentemente irracional. Perdida em seus pensamentos, Candoca não percebe que Zé estava despertando do sono, ela não teve tempo de disfarçar o choro e ele logo notou, mudando a expressão para uma de preocupação e voltando toda a atenção para ela.

"Candoca... o que aconteceu? Tu tais bem?" A voz ainda mais rouca que o normal. Candoca respira antes de responder

"Tô bem meu amor. Só tava aqui pensando na vida". Tenta minimizar ela. Porém Zé não se contenta com a resposta.

"Tu sabe que pode me falar qualquer coisa, né? Tô aqui contigo". Diz ele, a abraçando um pouco mais forte. Ela olha nos olhos dele e dá um leve sorriso.

"Tu me conhece tão bem. Eu tô ansiosa pro nosso casamento, Zé Paulino"

"Mas num é só isso não, Candoca. O que tá te preocupando?". E ele não desiste! Pensa ela, respirando fundo.

"Quanto mais perto do dia chega, mais eu lembro de como eu fiquei da última vez que a gente ia casar..." ela

"Oh meu amor, olhe pra mim". Diz ele, se sentando na cama.

"Dessa vez é diferente, visse." Inicia ele, com uma voz firme. "Dessa vez eu vou estar naquela igreja, dessa vez eu vou dizer "aceito", Candoca..."". Ele começa a se emocionar enquanto fala. "Dessa vez eu vou estar do teu lado todos os dias Candoca, eu prometo, visse?" Assegurando sua amada. "Num vou perder nem mais um dia da vida de Manduca, tô aqui pra sempre". Os dois então se abraçam e se deixam levar pelas emoções, enquanto Candoca sente um peso saindo de suas costas. Ela não tinha percebido o quão traumatizante a perda de Zé Paulino tinha sido até aquele momento. Ela havia trancado todos os sentimentos ruins para poder continuar sua vida.

Depois de alguns minutos abraçados sem praticamente se mover, Candoca sai do abraço e olha para Zé, com um olhar evidentemente mais leve.

"Eu precisava ouvir isso de tu, Zé Paulino. Te amo tanto". Ele sorri e eles se beijam apaixonadamente.

Mais tarde, depois do café da manhã, Candoca se prepara para mais um dia no consultório.

"Vai fazer o que hoje, Zé Paulino? Pensei em vir pra casa almoçar contigo"

"Eita meu amor, hoje num vai dar, vou lá nas terras de Timbó ajudar ele e dona Tereza. Até Manduca vai comigo, né menino?" Pedindo a confirmação dele, que está acabando de comer.

"Aham! A gente vai passar o dia todinho lá!" Completa Manduca, mais animado que o normal.

"Ah entendi! Então se der tempo eu passo lá pra almoçar com vocês" Diz ela rapidamente. Zé e Manduca trocam olhares preocupados e ela pega no ar.