Capítulo 2

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No escritório, o conde encontrou o médico conversando com a condessa

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No escritório, o conde encontrou o médico conversando com a condessa. Sua mãe voltara a estampar a postura pétrea e a fisionomia neutra, enquanto o médico parecia ligeiramente alarmado.

-- Alguém pode me explicar o que foi isso? – o conde perguntou ao entrar no cômodo.

-- Não posso afirmar nada sem examiná-la antes. – o médico respondeu. – Posso vê-la?

-- Se tivesse chegado antes, teria presenciado o ocorrido. Agora ela está dormindo.

-- Não foi possível chegar antes, senhor. – o médico retrucou ofendido. – E vê-la agora me ajudara e ver qualquer sequela do que possa ter acontecido.

O conde consentiu e o dispensou com um movimento de mão.

O médico foi conduzido por Alfred até o quarto de Alice, e o conde atravessou o cômodo para se servir de uma dose de conhaque.

-- Você sabe o que aconteceu. – Erick acusou a mãe sem se virar.

A condessa não respondeu e seu silêncio encorajou o filho.

-- Sabia! – ele se virou e encarou a mãe. – O que foi isso?

-- Não tenho certeza... – a condessa respondeu cautelosa. – Pode ser só uma gripe.

-- Mamãe... Pelo amor de Deus! Aquilo pareceu uma gripe para a senhora? Não me trate como um idiota!

-- Não seja impertinente! – a condessa esticou a coluna, indignada.

-- Serei mais do que impertinente se a senhora não for sincera comigo. – o conde respondeu com os dentes trincados. – É da minha filha que estamos falando!

A condessa ameaçou responder, mas recuou. Ele estava certo. Nada o faria parar quando se tratava de Alice. A velha senhora encarou o rosto irritado do filho por um tempo e então suspirou.

-- Não tenho certeza, mas tenho medo que seja algo mais difícil de tratar com a medicina moderna.

-- O que a senhora quer dizer?

-- Isso assemelha-se ao que aconteceu com você quando era criança.

-- O que houve comigo? – o conde arqueou as sobrancelhas.

A condessa hesitou novamente. Ela sabia que não poderia dizer tudo. Não se não quisesse quebrar a promessa. E ela sabia que não poderia quebrá-la. Mas seu filho era teimoso e obstinado. Não sairia daquele escritório sem uma resposta.

-- Você era só um pouco mais velho que Alice, talvez um ano, quando ficou muito doente. Os médicos não conseguiam te diagnosticar e você teve episódios horríveis, parecidos com o que Alice passou hoje.

-- E o que você fez?

-- Nada funcionou até... até contratarmos uma curandeira.

-- Uma curandeira?! A senhora está dizendo que chamou uma pessoa que fingia fazer poções e rezas para me ajudar? – Erick caiu na poltrona à frente da mãe e a encarou boquiaberto.

A condessa não respondeu, limitando-se a travar a boca, ofendida.

O conde ficou em silêncio por um tempo, tentando digerir a informação. Sua mãe era uma mulher cética e prática. Certamente não procuraria uma charlatã correndo o risco de ser chacota de toda a alta sociedade. Ainda assim, as palavras soavam muito verdadeiras para Erick. Ele sentia que havia mais informações que a mãe não estava contando, mas sabia que ela certamente estava sendo sincera na maior parte.

-- A senhora sugere que eu faça o mesmo? – Erick torceu a boca em um sorriso incrédulo.

-- Não disse nada disso! Não seja bobo. – a condessa se empertigou na cadeira. – Certamente Alice não tem nada de tão grave. A medicina avançou bastante nos dias atuais.

-- Não consigo ser tão otimista quanto a senhora. – o rosto do conde assumiu uma expressão sombria.

-- Vamos esperar o que o médico tem... – a condessa começou a dizer, mas parou de falar ao ouvir a campainha. – Quem chegaria à essa hora?

O conde olhou o relógio para conferir a hora. Passava das 22h.

A campainha tocou novamente e o conde saiu do escritório, esperando ver Alfred abrindo a porta. No entanto, o hall estava vazio. Erick lembrou que Alfred estava com o médico no quarto de Alice e os demais criados estavam na cozinha, preparando uma refeição tardia para ele e a condessa.

Antes do terceiro toque da campainha, Erick já estava na entrada e abriu a porta por si mesmo. Ele não estava preparado para o que viu.

Na sua frente estava uma mulher diminuta, com grandes olhos verdes e o cabelo dourado mais iluminado que já vira na vida. A neblina da noite parecia envolvê-la como um casaco transparente e o vestido branco parecia efêmero sobre o corpo esguio e etéreo.

-- É aqui onde se encontra uma criança muito doente? -- a voz fina soou preocupada.

O conde demorou para achar a sua voz e quando o fez, ela soou um pouco apalermada.

-- É... sim. É minha filha... – e lembrando-se que estava mantendo a visitante do lado de fora no frio, completou. – Por favor, entre. Quem é você?

A garota deu um passo para frente e entrou no vestíbulo, ficando ao lado do conde, permitindo que ele fechasse a porta atrás de si.

-- Meu nome é Ayla.

-- O que está havendo, Erick? – a voz da condessa soou atrás deles e eles a encararam.

A Condessa Viúva passou pela porta do escritório e estancou no meio do corredor, encarando Ayla assustada.

-- Não... – a condessa deixou escapar um murmúrio, levando a mão aos lábios.

-- Boa noite, senhora. – Ayla fez uma reverência e completou rapidamente. – Perdão por vir tão tarde, mas fui enviada para ajudar uma criança enferma. Acredito que esse seja o local correto.

-- Você é assistente do médico? – o conde perguntou.

Antes de Ayla conseguir responder, um grito foi escutado no castelo. O lamurio de uma criança com dor.

-- Alice! – o conde e a condessa gritaram ao mesmo tempo.

Erick correu pelas escadas sem se importar com qualquer decoro que sua mãe pudesse imaginar necessário, e foi seguido de perto pela estranha mulher que acabara de conhecer.

O conde abriu a porta e viu o médico debruçado sobre sua filha, tentando imobilizá-la, enquanto Alice gritava e chutava tudo a sua volta, de olhos fechado

-- O que está acontecendo?! – Erick vociferou.

-- Não sei! – o médico disse assustado. – Eu estava coletando um pouco de sangue para análise e ela começou a convulsionar.

-- Tire suas mãos dela. Agora! – o conde deu dois passos e arrastou o médico pela gola do jaleco.

O homem atarracado de quarenta anos perdeu o equilíbrio e quase caiu de costas no chão. Erick o colocou de pé novamente, ainda agarrado em sua gola, e Alfred tentou apaziguar a situação, mas um olhar do conde o fez ficar quieto.

Ocupado demais expulsando o médico do quarto, Erick não percebeu quando Ayla se aproximou da cama de Alice. Ela fez um gesto delicado com as mãos, formando um desenho circular no ar e fechou os olhos por um instante. Em seguida, ajoelhou-se em frente a cama e disse suavemente, cantarolando baixinho:

-- Alice... Você precisa acordar... Estamos aqui...

O corpo de Alice imediatamente começou a relaxar e sua respiração tornou-se regular. Lentamente, os olhos inocentes foram se abrindo, com dificuldade e sua voz doce perguntou: "Mamãe?"

A curaOnde histórias criam vida. Descubra agora