Já do lado de fora do castelo, o conde continuava a escutar os gritos de sua filha. A sensação de impotência parecia rasgar seu coração a cada minuto, e seu corpo andava de um lado para o outro quase inconscientemente, tentando ao mesmo tempo ir ao encontro da filha e se afastar dela.
Ele não sabia o quanto de proximidade era permitido, o quanto ele a estaria pondo em perigo. As palavras de sua mãe voltavam à sua mente constantemente e ele caía em dúvida sempre que decidia atender aos gritos que Alice dirigia a ele, clamando por sua presença.
Mas, então, algo aconteceu! Da janela do quarto de sua filha ele viu um grande clarão de luz clara e imediatamente os gritos cessaram.
Por algum tempo Erick ficou olhando para a janela. Esperando enquanto seu coração se acalmava. Ele sabia que Alice estava bem... Simplesmente sabia. Nossos sangues estão conectados. Ele se lembrou do que a mãe disse.
Então ele se lembrou de outras coisas. De como ele também se sentia conectado à Ayla. Nos últimos dias, Erick notara que a mãe transparecia muito mais suas emoções do que o fez em anos. No começo ele achava que era por conta da doença, ou maldição – agora ele sabia – de Alice, mas talvez fosse algo mais. Talvez fosse Ayla.
Ayla é a única que pode ajudá-la. A mãe havia dito.
Ele despertou de seus pensamentos quando começou a ouvir uma canção vinda do quarto da filha. Um murmúrio lento e ritmado, sem palavras, mas estranhamente familiar. A música foi ficando cada vez mais alta e, logo. o conde não era o único a ouvir a canção. De dentro do castelo, os criados também a ouviam encantados e na aldeia, seus habitantes pararam seus afazeres para poder prestar mais atenção na melodia. Até mesmo a Srta. Clara, que ainda se sentia tão ultrajada, parara para ouvir a canção.
Nossos sangues estão conectados... Erick lembrou novamente do que a mãe dissera. Isso queria dizer que magia presente no sangue dos seres da floresta e seus descendentes podiam perceber a presença um do outro... se encaixavam...
O conde olhou mais uma vez para a janela e se distanciou.
No interior do quarto, Ayla embalava Alice nos braços. Aos poucos a criança se recuperava da crise recente, ainda chorando de medo.
-- Você vai embora. Sei que vai embora, Srta. Ayla. – disse a criança soluçando. – Por favor, não vai.
-- Eu preciso ir, querida. Você sabe disso.
-- Mas e se ele voltar?
-- O Duroia não voltará. Ele está dormindo agora.
-- Mas... Por quanto tempo ele vai dormir?
-- Por muito e muito tempo.
Alice escondeu o rosto no peito de Ayla e a abraçou com força.
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A cura
FantasíaUm conto de fantasia e mistério, no qual a vida de uma criança dependerá das visitas misteriosas de uma estranha. Quem é essa mulher, assombrosamente bela e aparentemente inofensiva que se aproxima do castelo quando todos temem pela vida de Alice...