Se entregar

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Maratona 3/3

Maratona 3/3

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***

Acordei na manhã seguinte pouco depois do amanhecer sentindo um aroma maravilhoso para aquele horário. O cheiro do café fresco me fez pensar em Kate, embora eu soubesse que ela não estava em casa. Mas quando levantei, me deparei com uma bandeja de café da manhã completo aos pés da minha cama.

Nela havia um bule por onde saía fumaça e junto o cheiro do café preto, pequenos pãezinhos numa cesta forrada, fatias de frios, algumas frutas e um copo de suco de laranja. Ao lado, num canto da bandeja, o jornal de domingo estava enrolado numa fita vermelha, preso junto com um pequeno pedaço de papel.


E foi esse papel que eu peguei primeiro, antes mesmo de matar a fome que já sentia.

Pensei que seria mais um dos poemas rasgados do meu livro, mas era um simples papel branco — ao contrário da folha velha e amarelada do livro — com a caligrafia peculiar de Wanda.

"Teu rosto, teu corpo, teu fogo
Se te escolhi, não foi por desgosto
Se menti, não foi por querer
Menti para não te perder
Menti pois queria te ter
Mesmo que por um instante
Ou talvez por um instante maior
Escolhi teu rosto, teu corpo, teu fogo
Mas te escolhi também porque tenho certeza
Que mesmo por um instante
Ou talvez um instante maior
Você também escolheu a mim
Seja por meu rosto, meu corpo, meu fogo
Você escolheu a mim
."

Li e reli aquele poema desconhecido dezenas de vezes enquanto comia devagar, sem pressa de sair do quarto para enfrentar o que me esperava lá fora.

Sim, Wanda tinha me escolhido para ser a sua primeira. Mas da mesma forma, eu tinha escolhido-a também para ficar ao meu lado. Simplesmente porque eu a queria ali. Não tinha um motivo específico para querer isso. Sem dúvida Wanda era linda, encantadora, divertida, e sensual até um ponto que poderia ser considerado ilegal. Mas não era porque eu a amava que queria ficar com ela. Queria apenas porque queria. E talvez ela me quisesse pelo mesmo motivo.

Escovei os dentes com certa impaciência e fui direto para o quarto de Wanda, encontrando a porta aberta, de onde eu podia vê-la na cama. Ela estava deitada de bruços lendo um livro, ainda com a mesma camisola transparente de ontem, e eu tentei não reagir àquela imagem.


Bati de leve à porta para anunciar minha presença e ela me olhou por sobre o ombro, voltando logo a folhear o livro.

— Bom dia — cumprimentei, entrando sem esperar que ela autorizasse, e sentei ao seu lado na cama. — Obrigada pelo café da manhã. Estava tudo delicioso.

Mas Wanda continuou em silêncio, me ignorando de propósito.

— Você comeu alguma coisa? — perguntei, insistindo em fazê-la falar comigo, mas tudo que ela fez foi assentir, sem abrir a boca. Sem saber bem como agir diante daquele silêncio, deitei na cama, de costas, de forma que nossos rostos ficaram lado a lado, permitindo que Wanda me encarasse se quisesse. Mas ela não parecia querer. — Por que você me escolheu, Wanda? — perguntei indo direto ao assunto. — Por que eu, que nada tenho a te oferecer?

Doce Pecado | WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora