Quando o sol se põe
e um vento soturno começa a soprar,
tudo pode acontecer.
E é bem provável que logo se descubra
o verdadeiro sentido da palavra desespero. — Stephen King
Preciso me esforçar bastante para não vomitar a cada passo que dou no corredor, o cheiro de ferro, vômito e remédio é o bastante para mexer com o meu intestino. Se eu fosse levar em consideração o cheiro horrível do zinabre que as portas de metal estavam soltando, eu realmente teria colocado todo o meu café da manhã naquele chão imundo e aí sim, ficaria mais perfeito. Tento me concentrar nas palavras do diretor John Garry, o homem responsável por esse sanatório.
— Então, os pacientes têm seus horários. Uma dieta baseada em seus problemas. Nada mais, nada menos. — Ele é bem firme quando fala isso e eu afirmo com a cabeça. Com certeza não quero quebrar nenhuma regra daqui, esse lugar me dá arrepios. Quando fui escalado para fazer o estágio aqui precisei repensar muitas vezes, isso me levou a quase dois meses. Um sanatório no fim do mundo, entre as montanhas e com um frio escalado a menos de 15 graus. Por mais que o sanatório nos dias atuais esteja em uma situação precária, ainda conta como bons pontos no meu currículo e foi isso que me fez aceitar a proposta. — Atualmente temos um total de quarenta e três pacientes.
Nós voltamos a caminhar pelo corredor e enquanto ele falava eu ouvia as vozes dos pacientes, algumas risadinhas, outras apenas conversando e um que me chamou atenção era um homem e ele estava cantando. Parecia vir do último quarto do corredor, de número 53.
— Você ficará responsável por essa ala. colocamos codinomes em cores para cada Ala em questão, a sua por exemplo é cinza, assim como seu uniforme. — Escuto um assobio e depois uma porta de metal arrastar no chão e bater, soando um click pelo corredor. — Ah, aqui está o seu companheiro. — Eu me viro e vejo um garoto com um uniforme cinza, ele usava fones de ouvidos e quando nos viu retirou os fones e sorriu.
— Olá, bom dia, sou o Hook Ono. — Se reverencia e nós fazemos o mesmo.
— Bom dia, muito prazer, David Wang. — Maneio com a cabeça levemente.
— Esse é o seu novo companheiro. — O diretor John nos apresenta e o que Hook Ono diz logo em seguida me surpreende.
— Espero que você dure mais que os outros. O último transferido conseguiu ainda duas semanas, depois disso ele estava enlouquecendo e roendo as unhas até sangrar. — Eu não sei nem o que responder, estou tão impactado que fico calado. Ambos percebem e dão uma risadinha. — Não se preocupe, tivemos alguns funcionários despreparados e você veio de um lugar onde preparam ótimos profissionais qualificados.
Sinceramente agora estou me questionando sobre o quão qualificado eu devo ser.
— Não assuste-o, seja bom com ele. Ajude-o no que ele precisar. Já o apresentei a alguns pontos importantes do sanatório, de resto peço que você o introduza. Faça o de sempre, será melhor. — John lhe dá instruções que aparentemente Hook Ono já tinha de decorado. O mais velho se despede e vai embora, em passos longos, parecia que ele também queria fugir dali. Vejo Hook Ono revirar os olhos entediado.
— Ele é um mala. Não faz porra nenhuma e quer nos ensinar a como trabalhar. — Explica seu revirar de olhos, sem eu nem sequer o questionar, então eu apenas fico em silêncio. Não estava afim de me envolver na confusão de ninguém, principalmente por hoje ser o meu primeiro dia. — Eu já cuidei de todos, só falta o quarto 53. Você vai gostar dele, é um dos melhores pacientes, exceto quando está em crise.
— Por que um dos melhores?
— É mais fácil de lidar, eu acho. — Ele diz, e nós começamos a caminhar pelo corredor largo indo em direção ao quarto, e eu me dei conta de que era o quarto que eu havia notado alguns minutos atrás. — Ouvi uma voz cantando, era ele?
— Sim! Exatamente. Uma voz incrível, ele costuma cantar enquanto eu arrumo seu quarto e cuido dele. — Explicou e eu me sinto ansioso, quero chegar e ver esse tal paciente. — Infelizmente é um que carrega uma péssima história.
— Qual sua história? — Não posso negar que sou extremamente curioso. Hook Ono engole um pouco de saliva e faz uma pausa, parece buscar a história no fundo do seu subconsciente ou a versão menos desprezível dela.
— Os Phillips eram super religiosos, praticamente viviam dentro de uma igreja. Em um desses cultos uma tragédia horrível aconteceu, a igreja pegou fogo e jogaram a culpa no Theo.
— Simples assim? Só jogaram a culpa?
— Nesse dia ele havia ficado responsável pela organização da igreja, e como ele era o alvo mais fácil. — Deu de ombros como se fosse óbvio demais. — Mas sabe… no fundo tenho absoluta certeza de que ele nunca fez nada disso.
— Qual é. — Eu riu. — Ele é um paciente, internado em um sanatório. Se alguém o colocou aqui ele provavelmente tem um problema.
— Um não, vários. Theo Phillips foi diagnosticado com psicopatia, após chegar aqui. Mas isso não é necessariamente o que eu queria dizer, sabe? Theo pode ser alguém perigoso, realmente isso não podemos questionar. Mas… ele não causou aquele incêndio. Ele foi abandonado aqui, com uma alta carga de droga nas suas veias. Cadê a família? Theo nunca falou sobre aquele dia, durante o tempo em que esteve aqui. — Sinto que Hook Ono queria me dizer alguma coisa com aquilo, como se ele quisesse passar a informação adiante para que outra pessoa desvendasse o caso. — Sabe, deixa essa merda pra lá. Não sei, nem por que te falei isso. — Ele me dá as costas e volta a caminhar como se não tivesse me falado nada revelador. — Vamos, não podemos nos atrasar, ele tem remédios com horários marcados.
Hook Ono vai até a porta e puxa um molho de chaves do bolso, procura a chave certa com paciência e quando a encontra enfia pela fechadura. Ele puxa a porta causando aquele barulho insuportável, e me olha.
— Vamos? — Ele diz entrando, e eu posso ouvir a sua voz quando ele some entrando no quarto. — Oi, Theo. Desculpe o atraso. — Vou entrando com cautela no quarto para não assustar o paciente, afinal não nos conhecemos e ele poderia reagir mal a minha chegada. O quarto era pequeno, tinha uma cama e algumas telas e tintas espalhadas pelo quarto. A janela estava aberta e poucos raios solares entravam pelas brechas da mesma. Era tudo de metal, impossível sair dali. Theo estava sentado no chão, com as pernas cruzadas e os dedos em uma tela. Quando Hook Ono me olha, Phillips faz o mesmo. E eu sinto seus olhos frios me penetrar com curiosidade. — Oh, deixe-me apresentar nosso mais novo enfermeiro.
— Olá, Theo. — Apenas lhe dei um sorriso singelo e um manear de cabeça. Ele apenas me ignora, e se vira para o quadro novamente.
— Ele é um pouquinho difícil. — Respirou fundo. — Bem, esses aqui são os remédios dele. Um agora, e dois à noite. — Franzi o cenho, era uma grande quantidade de sedativos. Por isso ele não reage tão bem. — É necessário, ultimamente Theo estava nervoso e acabou acertando o último enfermeiro.
— Acertando?
— Com o pincel. Por isso retiramos todos os pincéis do quarto. Ele tentou cegar o coitado em uma visita de rotina. — Ele diz enquanto prepara um copo de água, entrega os comprimidos ao paciente e depois lhe entrega a água.
— Ele está tendo algum acompanhamento? Digo, com um psicólogo?
— Todos os dias. Mas parece que nada adianta, cada dia vemos um regresso dele. — Ele confere a boca de Theo, se realmente engoliu os remédios e depois diz olhando nos olhos do paciente como se estivesse me respondendo. — Você precisa se ajudar, tudo depende de você amigo. — Hook Ono levanta-se novamente e me olha como quem diz “aprendeu alguma coisa?” e eu apenas faço um sinal com a cabeça em concordância quase que imovél. Eu estava devidamente curioso, queria saber mais sobre aquela história, mas precisávamos ir em outros quartos, os pacientes precisavam me conhecer. Quando nos dirigimos até a porta pude ver Theo virar a cabeça lentamente em nossa direção e me olhar fixamente. Senti todos os meus pelos se eriçarem, seus olhos eram opacos e sem vida, escuro como a noite e pareciam querer dizer alguma coisa.
No fim da rota fui conhecer meu quarto, que ficava nos fundos. Parecia ser o lugar mais quente de todo o sanatório, porém era extremamente pequeno, úmido e escuro. Depositei minha mala em cima da cama de solteiro e ouço a porta se abrir atrás de mim, ela geme alto e eu reviro os olhos me questionando mentalmente sobre o rumo que a minha vida estava tomando.
— Aqui está o seu lençol, a fronha e o cobertor. — Hook Ono me entrega dois finos lençóis e eu o encaro com ironia. Por sorte, eu trouxe moletons e um lençol extremamente quente extra em uma das minhas malas. — O banheiro fica na porta ao lado à direita e o meu quarto e o do lado à esquerda, se precisar me chame. O jantar será servido às oito e meia no mesmo refeitório que você almoçou hoje cedo, mas eu passo aqui para irmos juntos.
— Ahn, certo. Muito obrigado… eu acho. — Sussurro a última parte, porque ele não merece saber que eu sou um pouco ingrato em alguns momentos. Certo que esse lugar é um labirinto, mas só pelo menos um pouco eu gostaria de estar sozinho. Hook Ono sai fechando a porta e eu respiro fundo passando a mão no rosto. Por um momento lembro-me da minha vida fora deste lugar e pego meu celular na minha bolsa menor que estava sob a cama. — Ótimo, o sinal aqui é horrível. — Mesmo assim deixei uma mensagem para amigos e parentes, para quando o sinal aparecesse já ser enviada a mensagem.
Arrumei a cama e guardei algumas roupas na cômoda que tinha no canto do quarto, era pequena e não coube todos os meus moletons. Graças a deus não precisei pegar fila para tomar banho, não tinha ninguém no corredor ou banheiro. A água não era quente e nem fria, era um meio termo que no fim me deixou com a bunda congelada e os pés quase roxos assim como os lábios. — Conheci metade dos pacientes, todos com histórias tristes e graves problemas. Alguns quase que bens e outros como Theo Phillips. Esse que vos falo não sai da minha cabeça o dia inteiro, a sua história é intrigante o seu modo em si me transmite uma curiosidade e eu queria saber mais sobre, nenhum dos pacientes me despertou isso a não ser ele.
Oito e dezesseis, o meu colega/vizinho de corredor estava na minha porta chamando-me para jantar. Eu sai e o segui pelos corredores com baixa iluminação e estreitos. Vejo o Sr. John, também se reunindo conosco para jantar, numa mesa grande com dezessete assentos. Foi nos servido uma sopa estranha, pão, café e um remédio ao fim do jantar. Olhei para Hook Ono que estava ao meu lado e ele já sabia o que eu queria.
— A maioria de nós sente muita dor ou insônia, então o sanatório disponibiliza eles no fim do jantar para dormirmos mais tranquilos. — Respondeu simples.
— E se eu não quiser tomar? — Questiono.
— Não existe isso, todo mundo toma. Todo mundo quer ter uma boa noite de sono, os dias aqui são estressantes, vai por mim. — Ele diz e empurra o remédio garganta abaixo junto com água. — Anda. — Ele diz me encorajando. Um pouco receoso coloquei o remédio na boca e o empurrei embaixo da língua e depois joguei água, fiz uma careta e depois o olhei. — Viu? Não é tão ruim.
— É. — Foi estranho. Essa cena me lembrou mais cedo, quando dávamos sedativos aos pacientes e tínhamos que verificar a boca deles. Eu rezei para que aquilo acabasse logo e eu ir para meu quarto, amanhã seria um novo dia e eu veria esse lugar com outros olhos. Aos poucos as pessoas foram se levantando e indo para o pátio, fumar e conversar, num movimento rápido cuspi o remédio no chão e com o pé forcei sobre o chão de terra do pátio.
— Então — Eu me assusto ao ouvir a voz de John, na minha cabeça ele havia visto o que eu tinha acabado de fazer, mas não. — O que achou do Sanatório? — Ele endireita seu terno e me olha curioso. Sinceramente não sei se devo mentir para agradar meu novo chefe ou ser extremamente sincero e ter uma péssima relação com ele. Não acho que seja uma posição boa, principalmente por ser novato e não ter nenhum tipo de apoio dos demais.
Então, eu resolvo mentir.
— Ótimo, exatamente como imaginei. Uma estrutura incrível, Sr. — Parece que eu sei mentir mais que o normal. Sinto que isso é preocupante demais.
— Você irá se adaptar aos poucos, todos são acolhedor por aqui. — Sorriu e eu respiro fundo lhe mostrando confiança ao estufar o peito. — Eu preciso ir. Amanhã pegamos cedo, não se atrase. Boa noite, David.
— Boa noite, Sr.
Observo ele se afastar até a entrada do refeitório e depois sumir do meu campo de visão. Quando penso que vou estar sozinho, organizando os meus pensamentos enquanto respiro um ar puro e congelante uma voz se sobressai atrás de mim.
— Novato, hum? — É uma garota, uma das enfermeiras da ala dos que tratam esquizofrênicos. Hook Ono me explicou isso quando percebi que os setores tinham faixas de cores diferentes umas das outras. A minha por exemplo era amarelo, a dela era preto. — Eu sou Cristine, muito prazer. Te vi mais cedo, mas a correria do dia não me fez lhe dar boas vindas.
Ela dá um sorriso singelo e faz reverência.
— Não tem problema, eu imagino. Muito prazer, David. — Faço o mesmo e nos encaramos. — Setor preto, né?
— Uhum, parece que já te ensinaram tudo.
— Mais ou menos, ainda estou tentando me localizar. Aqui é enorme e parece que meus pensamentos ficaram desorganizados, sabe? — Aquela estava sendo realmente uma boa conversa, era tudo o que eu precisava. Afinal, ela era psiquiatra, poderia me ajudar e não sairia espalhando por aí.
— Isso é normal. Aqui é realmente distante da nossa realidade, frio e um tanto quanto esquisito. Tratamos de pessoas com graves problemas e isso mexe com a gente. — Explicou ela. — É seu primeiro dia de um desconto. — Brincou e eu ri baixinho. A nuvem do assunto passou e ela me olha um pouquinho mais séria e volta a falar. — Então, já sabe das regras, hum?
— Regras? Hum, não. Quer dizer, não necessariamente.
— Já era de se imaginar, Hook Ono estava tão preocupado em achar alguém para cobrir seus horários que nem sequer lhe deu as boas e velhas regras. — Após a saída do antigo enfermeiro que o ajudava, Hook Ono ficou com todo o trabalho dobrado por quase dois meses então eu no lugar dele também estaria desesperado. Em nossa ala temos que cuidar de quinze pacientes e não é simplesmente chegar e enfiar o remédio na boca deles. — Regra número 1: Não fale mais do que o necessário com os pacientes. Eles não querem saber e nem precisam saber da sua vida, eles estão aqui para serem tratados. Regra número 2: Respeitar os horários do sanatório, sem atrasos. Os pacientes têm seus horários, ou seja, se a gente se atrasar isso pode contar como uma regressão no tratamento do mesmo. Os horários do sanatório também devem ser compridos, se você se atrasar para as suas refeições pode ser que não tenha mais comida. Regra número 3: Qualquer problema resolver com o seu superior, ou seja o diretor do sanatório. E a regra número 4 a última e a mais importante: Você nunca deve subir no andar dos pacientes a noite.
— Espera... subir? — Franzi o cenho.
— Alguns novatos subiram durante a noite para ver uns pacientes, e o resultado disso não foi legal. — Ela finaliza a conversa com um tom amedrontador e eu fico em silêncio tentando raciocinar tudo. — Preciso ir, minha hora se aproxima. — Ela boceja. — Boa noite, até amanhã!
— Ah, até amanhã! — Eu pego meu celular no bolso do moletom e vejo que o sinal tinha pegado e enviado as minhas mensagens. Então agora eu poderia descansar. Entrei como todo mundo e fui em direção aos corredores.
Eles pareciam mais estreitos, e eu não tinha reparado na quantidade de imagens de barros semelhantes ao Homem. Elas estavam fixas na parede, o corredor com pouca iluminação e vazio. Bizarro para caralho, os meus pelos se eriçam mesmo eu estando de casaco. Daqui de baixo podemos ouvir os pacientes chamando, batendo nas portas, falando e até mesmo cantando. Por um momento eu paro para pensar como deve estar lá em cima, numa escuridão avassaladora, um frio absurdo e a confusão da mente deles.
O silêncio pode ser desesperador, o vazio triste e sufocante, enquanto o cérebro pensa em mil coisas e nenhuma delas são boas o suficiente para acalmar eles. Subir lá em cima seria uma atração para eles, eles iriam entender que não estavam sozinhos. Meu corpo girou automaticamente, estava confiante em ir lá. Subir as escadas e caminhar pelo corredor escuro deles. Mas meu plano dá errado quando avisto Hook Ono vindo na minha direção com fones de ouvidos, mexendo a cabeça de um lado para o outro.
— Aonde vai? — Questiona.
— Te escutei! — Menti. Sinto a poeira de confusão sair da minha mente assim que eu falo, era como se eu não estivesse em mim com aqueles pensamentos. — Então, pensei que você podia me acompanhar.
— Ah, sendo assim. — Ele se junta a mim, e começamos a caminhar. — Então, gostou das pessoas? Vi, você conversando com a Christine, ela é incrível. Uma das melhores médicas do ramo da psiquiatria.
— É muito simpática, e me parece uma ótima profissional. — Balanço a cabeça em concordância e ele faz o mesmo. — É comum escutarmos eles? — Eu falo me referindo aos pacientes.
— Sim, à noite esse lugar fica extremamente silencioso, o que significa dizer que o barulho dos paciente multiplica. Mas com esses remedinhos milagrosos que o sanatório nos fornece a gente acaba dormindo e não escuta nada. — Ele diz. Sinto meu corpo congelar. Então, esse é o real propósito dos remédios que eles dão? — Você está ciente das regras, hum? Não pode subir e blábláblá. Às vezes eles gritam alto demais e isso acaba perturbando psicologicamente os enfermeiros. Eu achei uma ótima ideia.
Parece que eu me enfiei entre os loucos. Só estou aqui a algumas horas e já quero ir embora. Não acredito que me enfiei nessa droga de lugar, e sinceramente não acredito que os funcionários são mais malucos que os próprios pacientes.
— Boa noite, Hook. — Paro em frente ao meu quarto.
— Boa noite, David. — Eu entro no meu quarto e respirei fundo. Amanhã eu preciso dar um jeito em sair daqui, talvez fazer algumas ligações, entrar em contato com meu antigo departamento, e falar que eu simplesmente desisti e que não sou a melhor pessoa para o cargo. Isso parece demais pra mim. Então, lembro-me do que Christine disse. "É o seu primeiro dia, dê um desconto." penso na possibilidade de estar devidamente assustado, entretanto não aconteceu nada demais até agora para eu estar assim. Talvez, eu esteja criando uma tempestade num copo d'água.
Tiro minhas botas de frio e as deixo do lado da cama. Ando de um lado para o outro, tentando centralizar, encaixar e organizar meus pensamentos que estão mais que embaralhados.
Eu devia ter tomado aquele sedativo.
2:45
Abro meus olhos e a escuridão é o que vejo, olhei para o lado e o relógio da cabeceira indicava duas e quarenta da manhã. Meu corpo estava um pouco dolorido e fazia bastante frio, minha bexiga estava cheia e eu precisava deixar o quente da minha cama para atravessar o corredor. Deixei a preguiça de lado e me levantei quase que num pulo, e fui me arrastando até a porta. Levo uma pancada de vento frio quando abro a mesma, que me faz acordar logo de imediato.
— Porra. — Incrível ou não, minha voz ecoa pelo corredor e eu tampo a minha boca com a palma da mão. Podia ouvir as respirações pesadas vindo dos quartos, alguns roncos e suspiros. O corredor estava escuro, parecia interminável agora, parecia estreito pois tentando me achar eu batia nas paredes. Quando finalmente toquei na maçaneta da porta do banheiro, senti um sopro na minha nuca. — Mas que… — Me viro e obviamente não vejo nada. Correntes de ar malditas!
Eu abro a porta do banheiro e escuto uma voz cantarolando um tanto quanto distante. Minha respiração fica ofegante e meu coração parece querer sair pela boca.
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Rogai por nós
FanfictionNa vida só temos certeza de duas coisas, da morte e que depois dela vamos para algum lugar. Independentemente da sua fé, e do quão cético você seja. As lágrimas dos inocentes caídas, os olhos tristes mesmo com problemas esquecidos, a certeza de que...