CAPÍTULO 4 - Gatilho

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Nossas cicatrizes servem para nos lembrar que o passado foi real. — Hannibal

O apoio da minha mãe sempre foi crucial na minha vida. Não é atoa que eu estou aqui hoje. Mesmo tentado desistir quando tudo parecia impossível, hoje é um daqueles dias em que tudo parece impossível e que eu não vou conseguir. Hook continua indisposto e hoje parece pior que ontem. Mal abre os olhos e está se tremendo todo devido à febre alta. O que significa dizer que estou no comando hoje, e sinceramente acho que não consigo, porque o desespero já está batendo forte e meu coração parece querer sair do meu peito. Agora sei exatamente o que Hook passou sozinho até eu chegar e substituir o outro enfermeiro, é amedrontador passar nesse corredor sozinho. O carrinho agora parece mais barulhento que o normal, ele range mais alto como se estivesse a fim de atrair atenção para mim, como se aquele fosse o corredor da humilhação.

— Onde está Hook ? — Pergunta o paciente 876-07, uma senhora magra de baixa estatura e cabelos brancos como algodão. A senhora Meredith, está internada por enlouquecer após a neta falecer na sua casa, ouvi dizer que foi um acidente doméstico todavia ela culpa-se até hoje.

— Está ocupado no momento, Sra. Meredith. — Foi a informação que fui instruído a passar. Entrego seu café da manhã e finalmente chego na porta do Theo. Está tudo silencioso, ninguém se aproxima da porta para pegar seu café. — Bom dia, Theo. — Estou mais lhe chamando atenção, mas ele não precisava saber. Ninguém aparece ou responde. Meus instintos apenas dizem para eu colocar a bandeja de comida lá e ir embora, todavia meu lado curioso diz que eu preciso fazer um alarde e abrir a sala só pra espiar um pouquinho o que ele está fazendo.

Porém fazendo isso eu atrasaria o café da manhã dos demais.

— Droga. — Sussurro irritado e empurro o carrinho indo até os últimos quartos que esperavam por mim. Posso ouvir alguns sons de satisfação, alguns xingamentos referente a comida, outros pedindo mais e algumas refeições ainda na porta sem ser mexida. E consequentemente uma daquelas se aplicava a Theo Philipps. Deixei o carro encostado no corredor e decidido fui até seu quarto revirando o molho de chave que estava preso ao passante da calça. Quando acho a chave enfio na fechadura e girou-a, empurro a porta e me assusto quando dou de cara com Theo de olhos abertos e arregalados. — Porra. O que você está fazendo aqui, Theo ?

Claro, ele não me responde. Porém pisca algumas vezes e respira fundo. Me lança as costas e senta-se no chão ao redor de diversos quadros e tintas. Seu quarto em si tinha o cheiro forte de tinta, de qualquer forma era menos arejado, então isso explica alguns comportamentos retrógrados do paciente.

— Essas pinturas…— Fico boquiaberto vendo os quadros. Alguns psicodélicos demais, outros são limpos, alguns quase que mórbidos demais. Tinha um atrás da cama dele, com olhos grandes com uma névoa sob os meus, pareciam mais um rabisco e eram quase hipnotizantes. — Que pintura é essa ? — Questiono me aproximando. O quarto era estreito demais, então Philipps seguia-me com os olhos atentos. Eu nem percebo quando ele levanta-se e vai até a porta aproveitando meu momento de distração.

— Quem te deixou sair, seu fujão ? — Ouço a voz de Christine e a mesma me tira do transe. Meu coração acelera e eu dou alguns passos e saio do quarto encontrando com os dois no corredor. Meus ombros estão carregados de culpa.

— Me descuidei, desculpa Doutora. — Sou formal demais com ela e não entendo.

— Se você não for rápido demais, eles saem por aí badernando tudo. Mas, eu sei que o Theo é um garoto legal, não é ? — Ela o estimula mas não obtém resultado. — Vou dar uma olhada, acho que suas tintas estão acabando. — Aquilo parece despertar um interesse no fundo do âmago do rapaz, ele gira o pescoço para olhá-la na mesma hora. A Dra. Christine entra com ele em seu quarto e eu sigo os dois.

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⏰ Última atualização: Sep 30, 2023 ⏰

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