CAPÍTULO 2 - Taciturno

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Eu não devia estar aqui!

Eu não devia estar aqui!

Eu não devia estar aqui!

Eu não devia estar aqui!

Eu retorno a dizer : Eu não devia estar aqui!

Estou surpreso comigo mesmo e com a minha teimosia. Não presto atenção nos meus pés e quando eu caí na real, estou no primeiro degrau da escada que dá acesso às alas dos pacientes. A voz ainda cantava e parecia me enfeitiçar, pela forma que eu a seguia sem nem me dar conta. Estava um breu absurdo, o pouco de iluminação que existia ali, era devido a luz da lua que refletia através da janela.

Eu não devia estar aqui.

Torno a repetir como um mantra supremo na minha vida, quer dizer, não fazia nem vinte e quatro que eu estava aqui e já estava causando até demais. Posso dizer de cabeça erguida que estou profundamente arrependido de não ter tomando aquele maldito remédio. — Dou mais um passo subindo um degrau e paro quando ouço vozes, estava próxima, não vinha dos andares de cima. Merda. Penso comigo mesmo, enquanto desço um degrau fazendo o máximo de silêncio possível. Também ouço passos fortes se aproximando, e todos os músculos do meu rosto unem-se numa careta enquanto meus pensamentos insistiam em dizer o quão fodido eu estava. Desci o último degrau. Eu nem escutava mais o canto, apenas os passos, as vozes se aproximando e o medo que subiam pela minha espinha a cada som emitido.

Em passos largos eu volto pelo corredor, indo até meu quarto. Algumas madeiras rangem quando piso, e meus ombros se encolhem mais.

— Porra. — Digo entre um suspiro baixo, que eu só escuto por que foi eu que falei. Abri a porta do quarto e a fechei com cautela, quando eu finalmente estava livre de qualquer problema abri a boca e respirei fundo. Minha respiração estava descompensada e meu peito subia e descia tão rápido que parecia que meu coração ia pular fora. — Merda, David!

Até mesmo a vontade de usar o banheiro passou. Me deitei na cama, ainda ofegante e me enrolei dos pés a cabeça, fiquei encarando a janela e a luz que vinha lá de fora. Só era possível ver montanhas cobertas pelo branco da neve. — Fiquei pensando no que eu tinha ouvido, se realmente era Theo Phillips que estava cantando, ele tinha uma voz surreal, hipnotizante. Mas, por que ele estava cantando? E por que sua voz ultrapassava qualquer som? Nem pensei muito naquilo, caí no sono instantes depois, a exaustão causada pela adrenalina fez um bom trabalho.



(…)

Na manhã seguinte, coloquei meu uniforme cinza, meus sapatos brancos e pendurei meu crachá envolta do meu pescoço. Alinhei meu cabelo num topete e fui tomar café. O sanatório durante a luz do dia, tinha uma áurea diferente, era menos intimidador e confuso. Eu senti que durante a minha fuga à noite, eu não estava tomando controle de mim mesmo.

— David! Bom dia. — Hook Ono aparece assim que eu abro a porta do meu quarto. Ele me dá um sorriso simpático e eu retribuo. — Como foi sua primeira noite, aqui?

— Poderia ter sido melhor.

— Saudades de casa? — Queria dizer que sim, mas sinceramente esse era o menor dos meus problemas.

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