ANTI-HERÓI • pejão

V

Estar em uma festa onde você conhece um total de duas pessoas é uma das piores experiências que alguém pode ter. Ninguém me disse que para conhecer pessoas novas eu teria que de fato conhecer pessoas novas.

Quando voltei até a sala com as bebidas, me deparei com o Renan e a Gio de volta, sentados em uma rodinha com uma galera que estava lá, o que me deixou mais tranquilo.

Infelizmente, Pedro não era uma dessas pessoas. Provavelmente os outros amigos dele devem ter chegado, e ele acabou se distanciando do grupo onde eu estava.

Após colocar a caixinha de cerveja no centro, me sentei perto dos meus amigos, e por grande parte da conversa fiquei apenas calado e bebendo.

Eu até consigo lidar bem em conversas, mas eu realmente não estava no clima e senti que precisava me soltar. É aí que eu amo o álcool.

Não demorou muito para eu me soltar e de fato começar a interagir com as pessoas. Chegou um momento que aquela casa estava simplesmente lotada, quase impossível de se locomover lá dentro. Virou praticamente aquelas baladas super baratas de qualidade duvidosa, mas que sempre tem centenas de pessoas, afinal é impossível você ser universitário em São Paulo e não sobreviver a base de álcool (nos fins de semana pelo menos).

— Renan, sabia que o João Vitor tá afim do Pedro? — disse a Gio em meio a música alta.

Nesse momento, estávamos nós três no meio da festa, só bebendo, dançando e jogando conversa fora.

— Que Pedro? O Tofani? — respondeu Renan.

— Eu não estou interessado em ninguém, ok? — falei um pouco enrolado.

— Você tá secando o menino desde a gente chegou, cara.

De fato eu não conseguia me defender dessa afirmação, porque era verdade. Teve algo naquele garoto que me chamou atenção, mas não sei exatamente o que, geralmente só acho as pessoas bonitas e ponto, mas com ele era... diferente.

— Mas só de curiosidade — falei — Ele é...?

— Gay? — perguntou Giovana.

— Não precisa ser tão direta também, Gio.

— Olha, ele é um cara bem reservado, pelo que eu sei ele namorou uma garota por uns meses um tempo atrás, mas terminaram, e desde então ele nunca mais mostrou interesse por ninguém. Antes disso ele era um cara bem mais extrovertido e espontâneo, deve ter rolado algo bem tenso nesse relacionamento. Mas enfim, ele tá solteiro agora, mas eu não teria tanta certeza que ele é gay, por ter namorado uma mulher e tudo mais.

— Como seu primo bissexual, é meu dever te lembrar que pessoas bissexuais existem, ele ter namorado uma garota não significa nada.

— É, tem razão. Bom, você não vai descobrir nada com a gente, se quiser saber de verdade vai lá ver se ele te beija.

— Eu tô um pouco bêbado, mas não nesse nível ainda Giovana.

Toda essa conversa me deixou ainda mais pensativo, esse ar misterioso dele ficou ainda maior depois dessas informações, mas não vou simplesmente chegar no menino e começar a interrogar ele sobre tudo de sua vida (não ainda, pelo menos).

Me dei conta que eu estava pensando demais, e quando eu penso demais eu lembro dos meus problemas, então tentei me afogar no álcool na esperança de esquecer tudo isso e só me divertir, que foi o principal ponto que me fez vir até essa festa.