A Herdeira | Wenclair

01. ULTIMATO

Hoje deveria ser um dia bom, tudo deveria sair como planejado e perfeitamente bem feito, pelo menos, era o que minha mãe dizia constantemente na minha cabeça, o tempo todo. Não é que eu não goste de ser uma princesa, do meu povo ou algo do tipo, eu só acho exagerado estarmos ensaiando e agindo como se estivessemos na coroação oficial, sendo que, ela será daqui um mês. 

Um suspiro escapa de meus lábios e eu me retraio. Um mês. Um mês para eu perder totalmente minha liberdade e começar a governar como rainha de Costa Luna. Era um país pequeno e desimportante para os maiores países, mas, quando meu pai morreu, ele passou a mim o dever de governar nossa terra e ser uma boa rainha, como ele foi um bom rei. Nosso povo era importante para mim.

Ainda era difícil o fato de ele não estar mais aqui, comigo, com minha mãe. Eu sentia tanta falta dele que às vezes parecia que meu peito seria rasgado de dor. Muitas das vezes em que minha mãe começava com seu perfeccionismo em me ter tornar perfeita em cada ação minha, eu sentia falta dele intervindo com seu bom humor e dizendo para ela me deixar respirar longe de suas garrar. Era divertido. Minha mãe não era uma pessoa ruim, apenas se tornou mais fechada, mais perfeccionista e menos amorosa após a morte dele. Fazia um mês hoje que o rei Charles nos deixou e eu era obrigada a sorrir ao invés de me deixarem trancada em meu quarto com a minha evidente solidão.

Eu me olho no espelho mais uma vez antes de deixar o quarto. Meu cabelo longo está com uma coroa de tranças feita pela nossa melhor cabeleireira. A maquiagem está impecável, olhos marcados por um sombra clara e nos lábios um batom nude médio. Nada muito chamativo e nem muito extravagante, a aparência que uma raiva requintada deveria ter. A única coisa que eu gostava era a cor do vestido, vermelho vinho, com sua saia rodada e bufante balançando a cada passo meu, com suas alças caídas um pouco abaixo dos ombros. No pescoço, o colar que meu pai me deu no meu aniversário de quinze anos, a gargatilha dourada com uma pedra rubi sendo a peça principal. 

Eu ouço a música tocar, indicando que era hora da minha entrada no pátio do castelo. Arrumo minha saio e respiro fundo, essa atuação me deixa tão nervosa como se hoje fosse, de fato, o dia da coroação. 

"Sua Alteza Real," William, o general da guarda anuncia e eu passo pelas cortinas enquanto ele continua a falar.  "Enid Marie Sinclair Fiore."

Eu forço um sorriso e torço para isso acabar logo, mas ele continua a falar.

A deoração está impecável. O tapete vermelho por onde eu ando está perfeitamente bem estendida, sem nenhuma ruga. O caminho para o trono, onde está a coroa guardada pelo padre que irá me coroar está em seu devido lugar. As paredes na cor bege do castelo estão enfeitadas por fitas vermelhas, érfeitamente bem alojadas nas lacunas.

"E você está andando" ele descreve cada passo meu, me olhando com admiração. "Enquanto seus adorados súditos a recebem."

Eu o olho como se ele fosse doido. Sei que era para usar minha imaginação, mas não havia ninguém além dos trabalhadores do castelo ali.

Eu gostava de William, ele era o amigo mais velho de meu pai e seu braço direito. Ele me viu crescer e além de tudo, era meu padrinho. William era alto e tinha uma boa forma para um homem de cinquenta e dois anos. Ele tinha os olhos e cabelos castanhos, tinha um nariz grande e a boca fina. Usava um uniforme da guarda na cor cinza, que na minha opinião, combinavam com ele. Eu o adorava e o amava como se fosse da família. Sem ele, não sei se estaria lidando tão bem com a morte de meu pai.

"William, isso é realmente necessário?" eu questiono, cansada. "A coroação é só daqui um mês."

Ele suspira e coloca a mão em meu ombro. 

"Sua mãe quer que tudo saia perfeito, princesa." respondeu William. "Sei que hoje está sendo um dia extremamente difícil para você, fingir que está bem quando não está, mas faça um esforço. Em breve você se tornará a rainha e infelizmente, ter que fingir que está tudo perfeitamente bem vai se tornar algo recorrente em sua vida."