Loucura Coletiva

11 4 27
                                    

— Merda! — Luke exclamou, enquanto se sentava em uma cadeira, vendo que todos olhavam para ele assustados — começou mais cedo do que eu imaginava!

— Começou o quê, cara? — Christian perguntou, se aproximando dele, enquanto Annie e Charlie apoiavam Eve, que se sentou também e ainda estava meio desorientada.

— O motivo pelo qual eu fujo de todos os lugares — ele respondeu, enterrando o rosto nas mãos e suspirando pesadamente, parecendo estar muito cansado.

— E que motivo é esse? — Chris insistiu, colocando a mão no ombro dele, em apoio — Você pode confiar na gente!

— É muita loucura, Chris — Luke disse olhando para ele com o olhar cansado —, vai por mim. Agradeço pela força, mas é algo que não dá para acreditar. É melhor eu voltar para as ruas.

— Olha, cara — Charlie disse, se aproximando deles —, você acabou de chegar, mas se está aqui neste grupo é porque foi aceito. Se vamos ou não acreditar no que você tem a dizer, você só vai saber depois que disser, então para de ficar se martirizando e fala logo. Depois, se ainda quiser ir, ninguém vai te segurar.

— Porra, Charlie — Chris o repreendeu —, vai com calma!

— Tudo bem, Chris — Luke disse, acalmando-o —, ele tem razão. Assim que eu toquei na Eve, vi esta sala cheia de leitos como se fosse uma enfermaria. Os pacientes estavam amarrados e abandonados. As condições do lugar eram precárias. Deu pra sentir até o cheiro de urina, fezes e vômito. Era como se estivesse vendo uma película antiga em preto e branco.

— É realmente bem louco! — Chris exclamou, olhando para as meninas, que estavam assustadas com o relato.

— É possível que duas pessoas tenham a mesma alucinação? — Eve perguntou, saindo do choque — Eu também vi e tive as mesmas sensações. Exatamente como você descreveu.

— Você tá me zuando — Luke disse olhando para o olhar assustado dela.

— Eu jamais brincaria com uma coisa dessas — ela falou, levantando-se e segurando nas mãos dele —, então se não for uma loucura coletiva, eu não sei o que poderia explicar isso. Acho que devemos ir até a doutora Lauren e falar sobre isso.

— Espera um pouco, Eve! — Chris a interrompeu e olhando para o novo amigo, disse: — Mais cedo, quando eu entrei no alojamento, você estava olhando fixo para a janela, como se calculasse um modo de fugir por ela e, quando questionei, você me disse que pensou ter visto algo. O que você viu lá?

— Eu vi um garoto — ele respondeu, olhando-o nos olhos —, ele usava um uniforme escolar e estava do lado de fora da janela, com olhos assustados, como se tentasse fugir de algo ou alguém. Os pulsos dele estavam marcados por algum tipo de amarra. Já tem um tempo que vejo coisas assim, em todos os orfanatos e instituições em que estive e já estou até acostumado, mas essa de agora à pouco foi intensa demais!

— Isso é bem assustador — Annie disse, estremecendo —, você já foi a um psiquiatra?

— Já fui a vários — ele respondeu, dando de ombros.

— Fala sério, pessoal! — Chris chamou a atenção deles — Está na cara que o Luke tem dons mediúnicos assim como a Eve. Eu sempre disse que os eventos de paralisia do sono dela não eram questões psicológicas, assim como as visões dele também não são.

— Sei que é assustador pensar em eventos sobrenaturais — ele continuou, vendo que as meninas não estavam confortáveis com a conversa —, mas os dois terem a mesma visão, é algo que não dá para contestar.

— É, eu tô com o Chris nessa — Charlie disse, respirando fundo, fazendo parecer que era doloroso admitir aquilo.

— E Luke — Charlie continuou, estendendo a mão para o novo amigo em cumprimento —, não acho que você seja louco. Bem-vindo ao grupo e pode contar com a gente para dividir essas coisas!

— Obrigado, Charlie — ele agradeceu, apertando-lhe a mão em retribuição —, aliás, gostei do nome!

— Costumava ser Charlotte — Charlie respondeu, meio sem graça com o elogio —, mas achei que o nome deveria acompanhar a minha mudança.

— Eu não te conhecia antes, mas você parece estar ótimo agora! — Luke disse, deixando-o ainda mais sem jeito.

— Obrigado — Charlie agradeceu com as bochechas parecendo estar em brasas.

— Seja bem-vindo, Luke — Annie disse sorrindo, tentando livrar Charlie do embaraçamento —, eu sou a Annie.

— Obrigado, Annie! — ele respondeu e olhando para Chris, completou: — Você tem razão, cara, o sorriso dela é muito bonito!

— Não adianta mudar de assunto, gente — Eve disse, olhando para Chris, que a agradeceu com o olhar —, eu ainda estou apavorada com esse negócio de ver fantasmas.

— Que tal se a gente investigar a história do orfanato? — Christian sugeriu — Talvez tenha um modo de acabar com isso. Nos filmes de fantasmas, eles geralmente querem algo dos vivos e só descansam depois que conseguem o que querem.

— Eu não sei se quero envolver vocês nisto — Eve disse, cabisbaixa.

— Escuta aqui, Evelyn Meredith Brooks — Annie disse, colocando ênfase no nome completo, como sempre fazia quando queria que prestassem atenção nela —, se isto está acontecendo com você, nós já estamos envolvidos. Não ouse pensar que existe algum modo de nos deixar de fora da sua vida, porque não existe, está bem?

— Está bem! — Eve respondeu, se jogando na direção dela em um abraço.

— Qual é, meninas — Chris protestou, abrindo os braços —, este abraço tem que ser coletivo!

— Venham cá, então! — Annie disse, rindo e os chamando com um aceno de mão.

— Você também, Luke — ela continuou, vendo que ele permaneceu no mesmo lugar —, e pode ir se acostumando aos abraços coletivos!

— Não será difícil de me acostumar — Luke disse, assim que envolveu e foi envolvido pelo abraço —, isso é muito bom!

Eles desfizeram o abraço e seguiram para os computadores, onde fariam as pesquisas sobre o Orfanato de São Bento e sobre visões mediúnicas. Luke parecia estar bem acostumado com aquilo, inclusive já tinha ligado as visões a eventos sobrenaturais. No início ele chegou a procurar a ajuda do padre da instituição onde estava, mas foi encaminhado pelo sacerdote para assistência médica, onde foi diagnosticado com estresse pós traumático e começou a fazer o uso de remédios, até que os outros órfãos começaram a hostilizá-lo e ele resolveu fugir, procurando um lugar onde não fosse taxado de louco. Vendo os novos amigos pesquisando também, ele sorriu, acreditando que enfim tinha encontrado o lugar que procurava.

O Orfanato de São BentoOnde histórias criam vida. Descubra agora