Piloto: A mudança

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Caro leitores,
Hoje vou contar-vos uma história sobre uma rapariga normal a quem várias coisas estranhas aconteceram.
O seu nome era Daniela.
Eu sei, um nome normal, comum posso até dizer, dado por uma mãe normal à sua filha. Viviam numa cidade normal e tinham uma vida normal com os problemas normais do dia a dia de uma família com mãe solteira normal.
Um dia, a sua mãe avisou-a que iriam se mudar pois tinha arranjado um emprego melhor mas, como todas as crianças normais que é avisada que vai mudar-se da cidade onde cresceu e onde criou raízes assim subitamente, ao início ela não levou a notícia a bem. Trancou-se no seu quarto por umas horas. Mas, ao fim ao cabo, acabou por aceitar.
Daniela, por mais que lhe perguntasse, a mãe se recusava a lhe dizer para onde iam viver.

-É tão irritante, Ju. Ela não me diz para onde vamos por mais que eu insista.- falou Daniela frustrada para sua amiga. -Fala apenas para fazer as malas.
Juliana deu uma risada.
-Só promete não esquecer de mim e de todo o mundo dessa cidade. -estendeu o mindinho de promessas.
-Eu prometo.- falou fazendo uma promessa de mindinho.

O dia da viagem chegara. Depois de dias a fazer as malas. As malas estavam no carro. As caixas da mudança iam chegar dois dias mais tarde que elas.
Ela levava já o fato de Halloween na mala. Ela, com muita ajuda da sua mãe, fez um vestido daqueles da altura das princesas. Daniela ia vestida de Lucy Pevensie. A rapariga amava muito os livros das Crônicas de Nárnia. Tinha a coleção toda exceto pelo último livro.
Elas foram para um aeroporto. Elas iam para fora do país, concluiu Daniela, mas quando foram para a linha que dizia ‘Hawkins, Indiana, North America’ ela percebeu que não iriam sair só de Portugal, iriam sair da Europa.
Viagem de avião longa. Bla, bla, bla. Leu um pouco, dormiu um pouco, petiscou batata frita e algumas bolachas e bebeu a sua lata de Coca-Cola.
Quando chegou ao destino, a mãe acordou-a. Devia ser para aí meia-noite. 
Apanharam um táxi até à nova casa. Não dava para ver muito bem pois estava escuro, portanto só dava para ver o que era iluminado pelos postes de iluminação da rua. Era uma pequena rua com casas muito bonitas. A mãe da miúda girou a chave na porta de uma casa pintada de um laranja-tangerina e a porta era cor de um tom escarlate que era diferente das outras. Mais colorida mas mais pequena.
Quando se acendeu as luzes pelo interruptor que estava na parede, ela olhou e viu que as mesmas estavam vazias e  eram de um azul claro calmante e bonito. Tinha dois pequenos quartos no segundo andar com uma casa de banho cada, uma casa de banho no andar de baixo e uma sala de estar que estava interligada com uma cozinha.
Foram logo deitar-se nas camas improvisadas com alguns cobertores e almofadas que trouxeram e outros que os anteriores donos da residência deixaram.
O dia seguinte seria o primeiro dia de escola da Daniela e por causa do nervosismo de entrar numa escola nova a meio do primeiro semestre levou-lhe bastante tempo para conseguir finalmente adormecer.

No dia seguinte, Daniela acordou cedo. Tão cedo que ficou irritada por não poder ter dormido um pouco mais antes de ir para a escola.
Ah, o Halloween. Uma data em que os mais novos se vestem de quem gostariam ser e vão pedir doces a estranhos (algo que não faz muito sentido pois cresceu a ouvir a sua mãe outros adultos a dizerem para nunca aceitarem doces de estranhos). Um dia com o objetivo de ser assustador e divertido.
Daniela vestiu seu disfarce. A mãe fez um lindo, simples e rápido penteado. Ela cobriu com um pouco de maquilhagem o número gravado a tinta permanente na sua pele. Sua mãe nunca lhe explicou o que a tatuagem '012’ significava, era tipo um assunto tabu. No entanto, ao mesmo tempo, a sua mãe também fazia questão de que ela escondesse-a de tudo e todos. Por causa de uma sensação de que a mãe falava aquilo para sua proteção, ela nunca chegou a desobedecer-lhe (mas já o havia considerado).
Antes de saírem, a mãe fê-la tirar um monte com a câmera polaroid que ela me havia dado para tirar fotos de tudo o que eu quisesse me lembrar da cidade onde cresci, fosse algum amigo ou algum lugar que me trouxesse boas recordações, e foram para esses pequenos papéis coloridos que lhe mostravam a sua casa por 12 anos que ela olhou antes de sair do carro quando chegaram ao edifício pertencente à câmara municipal daquela cidade.
A menina e a mãe entraram na escola e, após falarem com o diretor, o mesmo direcionou Daniela à sala onde teria a sua aula tínhamos enquanto deixava a mãe a assinar os documentos solicitados para a inscrição da nova aluna.
Ela entrou na sala após o diretor ter a cortesia de lhe abrir a porta. Ele falou algo ao professor e foi embora.
-Rufar de tambores Dustin - falou o professor para um miúdo da fila da frente de cabelos castanhos encaracolados que começou a tamborilar na mesa criando um ritmo enquanto o professor falava - Para se juntar a esta nossa viagem da curiosidade, a nossa mais recente passageira: Daniela!
Ela olhou em volta. Devia haver para aí uns 20 miúdos. E todos, sem exceção, olhavam para Daniela. Ela sentiu o seu rosto tomar uma cor enrubescida e subitamente o chão da sala pareceu um lugar muito interessante de fixar o olhar.
-Podes-te sentar ao lado do Will, por favor.
O professor apontou para um lugar vazio na segunda fila ao lado de um rapazinho com o cabelo com um corte à tigela e vestido do que lhe pareceu um dos gêmeos brincalhões do Senhor dos Anéis.
-E, Byers, se te for possível, gostaria que orientasse a vossa nova colega por este novo mundo.
Ao tirar o caderno de ciências e o estojo, ela não percebeu que estava aberto e acabou por que o seu conteúdo se espalha-se pelo chão da sala fazendo num grande alarido.
Daniela abaixou-se para apanhar o seu material escolar e o menino abaixou-se para ajudá-la.
Ele sussurrou:
-Oi! Eu sou o Will.
-Isso eu já tinha percebido- sussurrou de volta a brincar e ele desviou a cara porque deve ter percebido que ficou vermelho tomate - Estava só a brincar- sussurrou a ruiva- Já agora, eu sou a Daniela.
-Isso eu já tinha percebido- imitou o que a ruiva dissera antes e deram ambos uma pequena e silenciosa risada- Já que és nova, no próximo intervalo posso mostrar-te a escola. E, se quiseres podes vir almoçar comigo, tenho a certeza que os meus amigos não iriam se im-
-Sr. Byers, Srs. Silva, poderiam fazer o favor de ouvir a minha aula agora e conversar no intervalo?
-Sim, professor- responderam em coro, e terminaram de apanhar os lápis e canetas.
Ela olhou para o Will e assentiu, e disse sem falar: Obrigada.
Will foi a primeira pessoa que fez Daniela sentir que aquela cidade poderia ser seu novo lar.

O sino tocou. Daniela nunca esteve tão ansiosa por um intervalo. Aquela hora parecia ter durado horas.
Will agarrou a mão dela e guiou-a para fora da sala. Para fora da confusão que se gera dentro da sala para a confusão que se gera nos corredores. Daniela odiava aglomeramentos, muito barulho, demasiadas pessoas, especialmente sendo todas estranhas para ela.
O rapazinho levou-a para uma parte com menos agitação e anunciou:
-E então que comece a vossa exploração dos terrenos desta  escola, sua majestade Lucy, a valente.- esta foi a forma que ele escolheu para perguntar do que é que ela estava vestida.
-Em frente, meu caríssimo Peregrin Took.
Ambos começaram a gargalhar e o Will começou a apresentar-lhe a escola.

Já no fim do intervalo, quando Will estava a levar Daniela para a sala onde teriam a aula de história, eles gargalhavam por causa de alguma piada que algum deles falou e, então, os seus três amigos apareceram:
-Onde é que te meteste, cara?
-Estivemos este tempo todo a te procurar. Onde é que estavas?
O miúdo com a pele mais escura olhou para o que estava ao lado do Will e viu uma rapariga com cabelo cor de fogo em uma simples e longa trança em V, de olhos azuis céu, pele perfeita e macia e lábios rosados como uma rosa e de aparência macia. A linda rapariga usava um vestido em estilo medieval nas cores preto e amarelo que lhe ia até ao chão e lhe definia as suas curvas do corpo em desenvolvimento. Eles sabiam seu nome: Daniela, era a nova menina da turma.
O rapaz escuro cotovelou os outros dois e apontou para a ruiva que corou e tentou se esconder do mais recente amigo.
-Estive a apresentar a escola à Dani.- ela corou pelo apelido que Will lhe deu ao apresentá-la aos amigos- Posso te chamar assim? Dani?
-Claro, Will- murmurou ainda um pouco corada.
-Este é o Lucas,- apontou para o miúdo moreno que reparou nela ali primeiro que os outros- o Dustin- apontou para o miúdo de cabelo encaracolado que fez o rufar de tambores na secretária no inico da manhã- e o Mike- apontou para o miúdo de cabelo negro com sardas.
-Vão entrar ou não?- falou a professora de história.
E foram para a aula.

Após uma hora de aula tivemos um intervalo de cinco minutos, onde Daniela ficou a saber que os quatro estavam mascarados dos quatro Hobbits de Senhor dos Anéis.
E passado mais outra hora de aula foi a hora de almoço. Era o seu primeiro dia e já tinha alguém com quem comer.
Foi bastante divertido. Ela estava bastante tímida ao início mas sentia-se cada vez mais à vontade, mais incluída naquele grupo.
Quando estavam a voltar para a sala de aula. A ruiva estava a cantarolar uma música que não lhe saía da cabeça: 'Hey, teacher, leave them kids alone / All in all it's just another brick in the wall'
BANG
Daniela quase pulou com o susto do som mas mais ninguém teve reação.
-Daniela! Hello! Terra chama Daniela!- Daniela olha para Dustin que está a abanar a mão à frente da cara- Estás bem? Do nada paraste e ficaste paralisada…
-Vocês não ouviram?- pergunta ela.
-Ouvir o quê? Chamaram-nos?- pergunta Mike e Lucas, respectivamente.
-Vocês não ouviram aquilo? Parecia quase o som de uma pistola disparando.
-Como assim?- Will questiona.
-Aquele barulho…Ah, deixem para lá- ela fala e só então repara que tem uma pinga de sangue que escorria do nariz, algo que ela rapidamente limpa antes que alguém visse.
-Tens a certeza?- Will está intrigado tal como os outros, ela acena com a cabeça- Está bem.
Daniela sabia que algo estava errado ali. Ela sabia que não estava maluca, mas… um tiro de pistola? Porquê um tiro de pistola?
"Que raio é que se passa comigo?"

Rosa Vermelha - Will ByersOnde histórias criam vida. Descubra agora