— Eu sei que você não me ama.
A frase pairou no ar, que parecia se extinguir lentamente. Jéssica apertou o controle em suas mãos, sem realmente tocar em botão algum. Cansado de esperar uma resposta, Luiz levou sua mão esquerda até as mãos dela e, empurrando seus dedos em busca de espaço, apertou o botão de pause. Sua mão direita permanecia abraçando-a, ainda que, naquele instante, ela parecesse mais distante do que nunca — mas era também o mais próximo que estiveram em meses.— Eu te amo — Jéssica disse, mas nem ela mesma acreditava nisso. Pensou em virar seu rosto para o do marido, mas o abaixou ainda mais — Você é tão incrível, tão atencioso. Sempre se preocupa comigo. E me faz rir, eu adoro como você me faz rir. E você é tão bonito, e inteligente, e...
— E mesmo assim você não me ama. — secretamente, ela ficou grata que ele a cortou, pois sentia que iria começar a chorar. Ao mesmo tempo, não sabia como explicar ao companheiro como se sentia, e o pânico começava a se instaurar em seu peito. Seria esse o fim de seu casamento de apenas alguns meses? — Tudo bem, eu juro que não tô chateado com você. Eu só... acho que deveríamos conversar sobre isso. Não quero que você fique infeliz por estar ao meu lado.
Percebendo que não conseguiria fugir do assunto, a mulher suspirou. Levantou o rosto e encarou o homem ao seu lado, que, ao perceber as lágrimas em seus olhos, se virou levemente, colocando uma das pernas no sofá para tentar ficar de frente para ela, e segurou seu rosto com uma das mãos, secando com o polegar uma lágrima que não resistiu a cair.
— Você não precisa ter medo de conversar comigo. Você sabe disso, não sabe? Sabe que eu nunca te julgaria. Nunca ficaria com raiva de você, também. Na verdade, acho que eu devo começar te pedindo desculpas. — Ele segurou as duas mãos dela, que tentava acalmar os milhões de pensamentos para prestar atenção no que viria a seguir — Eu acho que sempre soube que você não se sentia da mesma forma que eu.
"Eu só... eu fui egoísta. Passamos dois ótimos anos namorando, e você parecia sempre tão feliz. E eu estava sempre tão feliz. Nunca imaginei um dia encontrar alguém que me faria tão bem. Que me entenderia, que me faria querer ser a melhor versão de mim. Nunca imaginei que pudesse sentir um sentimento tão forte quanto o que sentia por você, e por isso te pedi em casamento. Eu queria poder passar todos os meus dias ao seu lado, não importa se iríamos construir uma família ou adotar 50 bichos, eu só queria estar com você.
E claro que eu notei as mudanças quando te pedi em casamento. Notei como você passou a ficar nervosa, até desconfortável quando falava sobre. Mudava de semblante, desviava do assunto. Sabe, eu cheguei a pensar em romper com tudo. Mas eu preferi fingir que não via. Quero dizer, é comum, não é? As pessoas ficam nervosas com casamentos. É uma grande decisão. E talvez o problema não fosse eu. Talvez você não quisesse um evento tão grande. Talvez você tivesse medo de que as coisas fossem mudar entre nós.
Mas nos casamos, e você continuou diferente. Eu fui tão... burro. Tão egoísta. E eu te asseguro, de verdade, que não estou chateado com você. Você não é obrigada a me amar. Mas eu queria que se sentisse confortável em falar sobre isso comigo. Eu ter passado cinco meses fingindo que não via explica o porquê de não ter tentado. Me desculpa. Mas foi tão doloroso. Dor, esse é o sentimento. Te ver tão distante. Eu percebi que eu te amo tanto, mas tanto, que eu não posso te ver passando por isso. Não quero que se sinta assim comigo. Preciso que você seja feliz, mesmo se for longe de mim."
Luiz também chorava, mas, por mais que sentisse o instinto de secar o líquido que escorria por seu rosto, ele não queria soltar a mão de sua amada, com medo de ser a última vez em que a segurava assim.
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Eu sei que você não me ama
Short StoryQuando Luiz interrompe o filme que estão assistindo para afirmar que sua esposa não o ama, Jéssica se vê entre conflitos sobre como funcionam seus sentimentos e o que fazer com o seu tão recente casamento.