Minha Primeira Dança

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- Camila, tem certeza de que quer ir? - Normani pergunta.

Ela está jogada na cama mexendo no celular, provavelmente jogando aquele jogo estúpido de sempre. Eu solto o ar dos pulmões depois de terminar a aplicação do batom na boca.

- Sim, Shawn disse que nem vai dar muita gente. - Olho minha boca no espelho em minha frente, passando os lábios um contra o outro.

- Naquele dia do jogo nem tinha muita gente e você...

- No dia do jogo não eram só as pessoas, eu tava nervosa também. - Arrumo os fios de cabelo atrás da orelha e tento ignorar o aperto no coração e o leve embrulhar do estômago ao lembrar do último ataque de pânico que tive no jogo da escola.

Essa é a razão da principal preocupação de Normani comigo essa noite. Ela acha que a festa de Shawn pode ter muita gente, como se ele fosse algum universitário dando uma daquelas festas horríveis de fraternidade. Bom, espero que não seja. Ele não é de dar festas assim e também não é como se a casa dele fosse uma balada. Mesmo assim, Normani continua perguntando se eu tenho certeza de que quero ir. Eu gosto de festas, só não gosto de tumultos e Shawn sabe disso, ele até me disse para ficar tranquila quanto à isso. Eu posso até ter um ataque lá caso ele esteja mentindo, mas quando passar eu esfolo ele vivo.

- Se a Lauren vai, é claro que ela vai querer ir. - Dinah está calçando os saltos perto da minha cama. Arremesso a primeira coisa que vejo na minha frente nela, que foi o meu rímel. - Ai, fodida!

- Parece até que meu mundo gira em torno dela, é aniversário do Shawn se você não sabe, eu iria de qualquer maneira. - Volto a me olhar no espelho da penteadeira. Tão linda.

- Quem acredita nessa fanfic, meu pai? - Normani se levanta da cama. - Já estão prontas? Vamos logo, tô com fome.

- Quem já está por lá? - Eu arrumo meu cabelo pela milésima vez essa noite.

- Vi que Harry postou no stories umas fotos, tinha o Zayn, Louis, Harry... Aquele pessoal de sempre.

- Ela quer saber se a Lauren já está lá, burrona. - Dinah revira os olhos com um sorriso.

- Ai, nada a ver. - Eu digo com raiva, porque odeio que Dinah esteja certa.

Dinah se levanta e fica atrás de mim no espelho.

- Nossa, quem são essas gostosas? - Ela dá um tapa na minha bunda e caminha em direção à porta junto com Normani.

Solto uma risada enquanto me levanto para seguí-las. Minha mente me leva até Lauren rapidamente. O que será que ela vai estar vestindo? E será que ela vai mesmo? As chances de eu ganhar um bolo são grandes. Pior que não tenho como me comunicar com ela desde que ela quebrou o celular, Normani até sugeriu que eu mandasse uma carta e eu como sou emocionada facilmente escreveria uma.

Queria conversar com ela por cartas e perguntar o que não tenho coragem frente a frente, se ela está realmente bem e se tem algo que a perturba. Tenho coragem de falar coisas sujas e imorais, mas perguntas pessoais e intímas relacionadas à alma e aos pensamentos me assustam um pouco. Mas algo me diz que por trás da máscara feliz e boba de Lauren há algo obscuro. Espero estar errada.

Deixando as minhas paranoias um pouco de lado, no andar de baixo minha mãe listou um série de coisas que eu não deveria fazer nessa festa, as principais foram: não beber, não chegar em casa bêbada e não deixar ninguém me embebedar. Ela leva essas coisas de alcoolismo muito a sério por conta do meu pai. Ele não bebe faz tempo, mas minha mãe acha que tenho a mesma inclinação que ele quando se trata de vícios. Falando no meu pai, ele nem chegou do trabalho ainda. Ainda bem, porque provavelmente ele seria a pessoa que iria me barrar de ir à festa. Como mamãe ama o Shawn, ela sempre me deixa ir a qualquer lugar com ele. Ele poderia estar me convidando para uma orgia em Paris que ela me deixaria ir numa boa. Só que sem bebidas, Camila.

Quando saímos de casa, um vento gelado me atingiu bem na cara. Encolhi os braços e corri até o carro, entrando e logo ligando o aquecedor.

- Cacete, não trouxe nem uma jaqueta. - Reclamei fazendo uma careta enquanto as outras duas entravam.

Dinah no banco do passageiro e Normani atrás.

- Volta lá pra pegar. - Normani sugere, arrumando a gola da blusa.

- Ai não, preguiça. - Ligo o carro.

- Pai nosso que estais no céu... - Dinah começa a rezar assim que dou partida no carro.

Só não a mando calar a boca porque realmente sei que precisamos de uma oração comigo no volante.

- Ai, o Harry já tá apressando a gente. - Normani comenta com os olhos no celular.

- Odeio quando ele faz isso. - Reviro os olhos.

Ultimamente todos nossos rolês entre amigos da sala de aula envolvem Harry de alguma forma. Ele sempre é o primeiro a chegar no lugar e fica enchendo o saco no celular de quem falta chegar. Nosso trio sempre se atrasa pra tudo. Tem vezes que eu consigo me arrumar na hora, mas aí Dinah aparece dizendo que acabou de acordar, ou Normani aparece em cima da hora dizendo que está indo tomar banho, ou eu que até esqueço dos rolês e começo a me arrumar quando todo mundo já até chegou no lugar.

- Pergunta dela se tem alguém interessante lá. - Dinah diz, segurando seu celular na frente do rosto e fazendo poses para selfies.

- O Liam.

Eu e Normani começamos a rir. Depois disso quase atropelei um ciclista, mas conseguir desviar.

- Ai, vão se ferrar. - Dinah revira os olhos.

- Ele ainda não desistiu? - Pergunto, vendo que já entramos no bairro onde Shawn mora. Ele realmente mora bem perto da minha casa, só estamos indo de carro por conta do frio de hoje.

- Já sim, dei o fora nele naquele dia.

- Você só disse que tava doente e não queria sair. - Normani se meteu. - Isso não é um fora. Com os caras você tem que ser clara, parece que eles nunca se tocam quando a gente não tá afim.

- Não quero ser grossa com ele. - Ela faz um bico. - E ele nem me manda mais mensagem, então deixa isso.

- Eu acho vocês dois fofinhos. - Dou de ombros.
Liam Payne é realmente o tipo ideal de Dinah, nunca vou conseguir entender como ela não se apaixonou por ele. Ele tem tudo que ela sempre quis num cara, sabe tocar violão, tem uma voz bonita, é educado e engraçado, é um morto de fome que nem ela e não é galinha. Único defeito que consigo perceber nele é que ele é homem, de resto é praticamente perfeito. Mas como Dinah sempre foi uma idiota com dedo podre, ela não sente nada por ele.

- E vamos de destruir a casa do ex-ficante.- Normani comenta quando eu quase invado o jardim ao passar a marcha errada. Desligo o motor com o carro em cima da grama mesmo, Shawn nem vai saber que fui eu quem derrubou a caixa de correio dele.

- De que adianta a Camila ser nossa motorista porque ela não bebe, se ela dirige pior do que um bêbado? - A minha grande amiga que estou prestes a jogar embaixo do carro comenta.

- Dinah, cala essa boca que você fica toda hora pedindo carona. - Saio do carro sentindo novamente um frio arrebatador nos ombros e no pescoço. Inferno de frio.

- Vamos entrar logo.- Normani sai nos puxando até a porta da casa enorme de Shawn. Antes mesmo de batermos, um Shawn vestido num casaco velho e com um boné na cabeça aparece abrindo a porta.

- Meninas! - Ele sorri todo feliz, abraçando cada uma de nós.

- Oi! Feliz aniversário! - Respondo sorrindo também, mesmo que esteja congelando de frio na entrada.

- Obrigada. - Seus olhos se fecham com o sorriso largo. - Podem entrar, fiquem a vontade. - Ele abre espaço para que possamos entrar. - Já tem comida e bebida na cozinha.

Nem é preciso ele falar duas vezes, Dinah já está explodindo como um raio na direção da cozinha. Realmente não tinha muita gente ali. Algumas pessoas estavam reunidas na sala espaçosa, ao redor dos sofás e da mesa de centro. A cozinha também contava com pelo menos umas oito pessoas que nunca vi na vida conversando, também tinha gente perto da escada. Tudo muito civilizado.

Zayn estava perto das duas grandes caixas de som na sala, mudando as músicas. Shawn estava perto da janela na sala conversando com uns garotos do time de basquete, sempre espiando pra ver se alguém iria chegar. Notei que quase todo mundo está segurando um copo na mão.

Normani já está conversando com Hailee as amigas dela. Isso, me abandona mesmo. Então vou até a cozinha também, por lá Dinah está em uma conversa que me parece super constrangedora com uma garota da escola, que eu até sei o nome, mas não consigo nem lembrar agora. Sei que ela está mais vermelha que um tomate enquanto Dinah fala que nem uma matraca na sua frente. Em cima do balcão só tem um monte de porcaria pra comer, batata frita, batata chips, doritos, bolinhas de queijo e coisas gordurosas desse tipo. Vou beliscando algumas coisas, esperando ansiosamente que alguém interessante apareça e me distraia.

Ninguém aqui sabe de quem eu estou falando.

Fico um tempo na cozinha comendo algumas besteiras e bebendo refrigerante. Acho que Lauren talvez nem venha. Eu não consegui falar com ela ontem, já que ela faltou e nos dias anteriores mal consegui falar com ela no intervalo ou na sala de aula por conta das provas que eu tinha que estudar em cima da hora, pois sempre deixo pra estudar um tempo de aula antes do teste. Fazem quatro dias que não a beijo. E parece que quanto mais tempo passa, mais eu quero. Isso está começando a ficar estranho, mas não vou me afastar de qualquer maneira.

Já se passou cerca de uma hora. As pessoas já estão bem animadinhas por aqui, Hailee já está tentando dar selinhos nas amigas dela, já tem gente dançando na sala, Dinah já veio aqui me encher o saco pedindo pra tirar fotos dela com Shawn pra postar no instagram e Normani está na pista dançando. Não gosto disso. As pessoas estão começando a se amontoar na sala, o som parece estar aumentando e verberando as batidas do meu coração. Me encosto no balcão e respiro fundo.

- Ei, Camila, olha pra mim. - Sinto a mão gelada de Dinah nas minhas costas. Ela está agitada, um hálito leve de bebida sai de sua boca e ela tem as pupilas dilatadas. - O que foi?

- Nada, só o som que tá muito alto. -Faço uma careta.

- Quer que eu peça pro Zayn abaixar? - Ela se inclina pra falar mais perto do meu ouvido.
Apenas faço que não com a cabeça.

- Eu só vou ficar aqui mesmo. - Olho pra ela, a vendo concordar com a cabeça. - Eu tô de boa, sério.

- Tá bom. - Ela retira a mão das minhas costas. - Qualquer coisa me chama.

- Tá. - Observo ela se afastar em direção à sala. Ela se aproxima de Normani e começa a dançar animadamente, tomando o copo da mão dela e o virando na boca. Nego com a cabeça, já sabendo como essa noite vai terminar: Dinah no maior chororô e eu e Normani cuidando da embriaguez dela. E sempre assim, ela bebe dois copos de qualquer coisa e simplesmente surta.

Respiro fundo algumas vezes até conseguir estabilizar meu coração, que nesse momento já tinha se acelerado de maneira bem incômoda. Tenho evitado festas nos últimos meses justamente por isso, mas sei que hoje é um dia especial para Shawn e além do mais, achei que já estaria melhor desses ataques. Começo a observar as pessoas dançando na pista para tentar me distrair. Felizmente funcionou.

Estava apoiada no balcão olhando Harry dançar feito uma lombriga enorme perto de Normani quando Shawn entrou pela porta com o braço estendido ao redor do ombros de Lauren. Na mesma hora que percebi que Lauren estava ali, meu coração deu uns pulos como se eu não a visse há meses. Que idiotice. Coração estúpido e idiota, eu acho bom você parar. Não parar realmente, porque se não eu morro. Tem que parar de ser idiota por essa garota.

Depois da leve arritmia que com toda certeza foi causada pelo frio que está fazendo hoje (eu sei que não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas não consegui encontrar outra desculpa melhor, era isso ou admitir que meu coração acelerou por causa dela) me desencostei do balcão e até chequei o hálito rapidamente antes de arrumar o cabelo. Eu espero que não tenha nenhum pedaço de comida nos meus dentes.

Lauren está totalmente confusa. Ela olha ao redor sem entender nada e apenas sorri e acena para o que Shawn está dizendo. Depois ele olha em minha direção e aponta, fazendo com que Lauren olhe pra mim. Talvez seja impressão minha, mas acho que vi seus olhos brilharem quando me encontraram. Espero que não seja impressão. Lauren está vestindo um suéter bege com jeans e um cachecol cinza está enrolado em seu pescoço, ela segura o skate velho em uma das mãos. Ela anda minha direção, mas antes tropeça num sapato jogado no chão. Não consigo evitar a risada.

- E aí. - Ela diz ainda meio travada.

- Achei que não ia vir. - Levanto as sobrancelhas.

- Quase não vim. - Lauren suspira, entrando na cozinha e olhando as bebidas. Ela deixa o skate escorado na parede. - Nossa.

- Ia me dar um bolo? - Cruzo os braços, observando-a pegar algumas batatas.

- Eu achei que o aniversário era do Shawn? - Ela questiona sinceramente, enfiando as batatas na boca.
- Você viria se eu não estivesse aqui? - Cerro os olhos pra ela.

- Uh... - Lauren mastiga as batatas, as bochechas se expandindo e ficando totalmente fofinhas. - Boa pergunta.

- Camila! Camila! - Dinah invade a cozinha e quebra totalmente minha de troca de olhares com Lauren. Ela está inteiramente agitada, ofegante e até mesmo suada.

Ela se joga em cima de mim em um abraço espalhafatoso que quase me derruba.

- Ai, merda. O que foi? - Pergunto ao segurá-la pela cintura.

- Ainda seremos amigas depois que o terceiro ano acabar, né? - Ela me questiona, o olhar desesperado e necessitado, como se aquilo fosse uma questão de vida ou morte. Percebo que essa idiota está prestes a chorar. Olho pra Lauren rapidamente antes de voltar para Dinah.

- Sim? Claro que vamos. - Balanço a cabeça como se a ideia de nos separarmos depois do fim de ano fosse a mais ilógica do mundo. E realmente é. Não consigo me imaginar tendo outros melhores amigos além de Normani e Dinah.

- Porque isso agora?

- Hailee começou a falar que as amizades do ensino médio sempre acabam. - Ela respondeu e sua voz tremeu no final. Ótimo, o choro vem aí.

- Você sabe que eu te amo muito, não é? - Ela então volta a me apertar em seus braços. Dinah não é lá a mais grudenta de nós, mas com certeza é a mais emotiva.

- Vou sentir muito a sua falta, Mila. - Ela agora funga em nosso abraço.

Consigo ouvir Lauren mastigando um Doritos daqui.

- Lauren! - Dinah de repente pula e se solta de mim. O choro totalmente esquecido. - Você veio! - Ela vai até Lauren e a abraça também.

Lauren arregala os olhos ao receber o abraço, mas o devolve na mesma intensidade.

Olhando essa cena consigo perceber que nunca abracei Lauren. Ela deve ter um abraço bom, ainda mais que ela é maior do que eu, então conseguiria me aconchegar bem nos seus braços, que também são longos e podiam me envolver por completo. Ai, Camila, quem te aguenta com toda essa melação?

- A Camila passou o dia perguntando se você vinha, muito chata, ela não cala a boca. - A grande imbecil começou a falar. Felizmente, Lauren parece estar em outro mundo, viajando na maionese enquanto Dinah fala. Essa é a única vez que agradeço pela lerdeza dela.

- Tá bom, tá bom. Chega. - Nego com a cabeça e vou empurrando a chatonilda para a sala sem nem conseguir olhar na cara de Lauren. - Vai lá dançar, vai, ridícula.

Ainda bem que tinha uma música bem animada tocando nas caixas de som, fazendo com que Dinah voltasse a dançar junto com outras meninas reunidas no meio da sala. As janelas abertas faziam com que o ar gelado entrasse e passeasse pelo ambiente, infelizmente vindo de encontro ao meu corpo friento. Eu até pediria para Shawn fechá-las, mas percebi que todo mundo está dançando e suando, e o vento frio tem servido para aliviar o calor. Não quero ser chata então resolvo calar a boca.

-E você? Não dança? - Lauren já está ao meu lado na sala observando todo aquele amontoado de gente.
Eu espero mesmo que ela não me peça para dançar com ela agora, porque apesar de não gostar de dançar no meio de gente suada, eu aceitaria. Você sabe bem como é, no momento de conquista a gente faz tudo pela pessoa. (Cale a boca e não tente pensar que estou fazendo tudo que ela quer porque na verdade sou uma bobona, todo mundo aqui sabe que não é bem assim. Só um pouco.)

- Ah, não nessas circunstâncias aí. - Aponto o dedo para a imagem horrorosa de Harry tentando uma dança estranha com Liam. - Já você eu sei que gosta de dançar.

Dou uma cotovelada de leve em suas costelas, sentindo um arrepio nos braços pelo frio. Lauren me olha meio envergonhada. Olhando assim até parece que nunca peguei ela rebolando loucamente no banheiro da escola ao som da música que tocava em seus fones de ouvido.

- Nunca dancei numa festa assim com tanta gente. - Ela dá de ombros. Eu olho pra ela e tenho vontade de gritar: EU QUERO TE BEIJAR, PORQUE VOCÊ AINDA NÃO ME BEIJOU?

- Mas na escola...

- Na escola normalmente estou usando meus fones, estou no meu próprio mundo. - Lauren começa a palestrar. Eu fico olhando o movimento de sua boca. Incrível, caras. - Estou no meu próprio mundo, onde só toca The Killers e não...

Ela para por alguns segundos tentando decifrar quem está cantando. - Eu nem sei que música é essa.

- É Hello Bitches, da CL. - Eu respondo. - Hoje é um bom dia pra você descobrir músicas novas.

Olho pra pista vendo Dinah tentando beijar Normani. Nada de novo por aqui, felizmente. Ficaria preocupada se ela estivesse tentando beijar algum cara.

Normani só falta quebrar o pescoço tentando se esquivar das investidas. Louis Tomlinson está perto das caixas com Zayn dançando como se fizesse parte de algum daqueles boygroups daqui. Shawn está rindo tanto que parece que vai explodir.

Quando volto a olhar para Lauren, a vejo balançando a cabeça lentamente no ritmo da música, tentando até acompanhar a letra. O jeito como ela se atrapalha com as palavras é tão fofo que quero derreter aqui mesmo. Ela ainda não saiu do meu lado também, o que acho adorável.

- Gostou da música?

- Sim. - Ela dá um sorriso largo. Maldita, para de sorrir assim.

- Porque não tenta dançar com o pessoal? - A verdade é que faz um tempinho já que não vejo Lauren dançanda pela escola, a última vez foi naquele dia na aula de história. E eu adoro o jeito como ela dança como se estivesse tendo espasmos no corpo todo.

- Eu nunca... - Ela parece travar um pouco. - Nunca estive numa festa assim, eu... Nem é The Killers.

Ela realmente está preocupada por dançar ao som de qualquer música que não seja do tal The Killers.

- Que mal tem? - Dou um sorriso para tentar encorajá-la. - Ah, qual é, eu sei que você quer dançar.
Canto uma pequena parte do rap da música apenas de brincadeira para tentar deixá-la mais a vontade.

- Ok...- Ela se aproxima devagar das pessoas dançando na sala. Tento conter o riso com o jeito estranho dela tentando se encaixar naquele pequeno bolo de adolescentes se remexendo.

- Ela é engraçada. - Quase grito com o susto que tomei ao ouvir a voz de Shawn já ao meu lado. Ele está olhando a mesma cena que eu e sorrindo.

- E estranha. - Completo olhando Dinah dançando de uma maneira que a faz parecer um peixinho. Espero que ela não tente beijar Lauren.

- É, mas você tá caidinha por- -Ele para de falar assim que lanço meu olhar em sua direção.

- Calado.

- Ok.

Ficamos os dois em silêncio, apenas contemplando aquela atmosfera com uma música alta demais e um frio irritante que me faz bater os dentes hora ou outra. Lauren me lança um olhar meio sorridente, se mexendo timidamente no ritmo das batidas poderosas da músicas, quase como se dissesse "ei, estou conseguindo." Faço um gesto de joinha com as duas mãos, sem conseguir conter o sorriso nos lábios. Shawn dá uma risadinha ao meu lado.

- Não disse nada. - Ele arqueia uma sobrancelha ao que lhe lanço mais um olhar com as pálpebras cerradas.

Depois ele sai de perto de mim e vai para a cozinha. Ninguém precisa ficar me dizendo que estou caidinha por essa estranha, porque eu tenho conhecimento disso, tá bom? Por favor, não falar sobre.

Quando olho de novo para a sala, quase entro em estado catatônico ao ver Lauren rebolando vigorosamente ao som das batidas da música. Tudo bem, acho que vou morrer. Não quero nem começar a descrever o que estou vendo para não passar mal aqui nessa sala.

Garota desmaia de tanta vontade de sentar, entenda.

E sério, parece que vou mesmo passar mal. Normani diria que sou dramática, mas essa é a primeira vez que vejo Lauren dançar assim. Ela mexe os ombros e a cintura, e balança as pernas e também faz uma cara séria que quase me causou um derrame agora mesmo

Maldita, maldita, para agora.

Não consigo tirar os olhos dela, de cada centímetro das suas coxas que mesmo cobertas pela calça jeans me chamam muita atenção e também da cintura fina se requebrando em diferentes ângulos. Todos na pista de dança improvisada também parecem chocados. Eu até esqueço do frio por alguns segundos.

A música finalmenta acaba, porque Deus é bom. Outra música animada começa logo em seguida, mas Lauren trava de novo e vai se afastando das pessoas dançando. Ela volta para o meu lado ofegante e um pouco suada. Meu Deus, tenha piedade de mim. Tudo que essa garota faz eu só falto morrer, que ódio.

- Acha que ainda vai demorar pro parabéns? Eu realmente não posso demorar aqui. - Ela me olha passando as mãos pela calça jeans.

- Sério? Por quê? - Minha cara com certeza entrega a minha decepção. É óbvio que eu quero que ela fique mais, quero passar mais tempo com ela em algum lugar que não seja a escola ou algum encontro desastroso. Fora que hoje eu esperava pelo menos conseguir beijá-la.

- Eu preciso estar em casa logo, realmente não posso-

- Parabéns pra você, parabéns pra você!

Liam entra na sala segurando um enorme bolo redondo que tem uma foto da cara de Shawn no meio, junto de várias velas acesas e não consigo entender quase nada do que Lauren diz. A música parou nas caixas de som e agora todos batem palmas, inclusive eu e Lauren.

Dinah canta a letra da música de parabéns totalmente enrolada e quase cai por cima de Hailee numa tentativa de abraçá-la. A música termina e Shawn assopra as velas, com todo mundo gritando feito maluco ao redor dele.

Depois de dar um abraço nele, vejo Lauren na cozinha conversando com o Louis. Não quero ser grudenta nem nada, mas me aproximo mesmo assim querendo saber o que ele poderia estar querendo com ela.

- Eu acho que a Normani pegou. - Ele aponta para a sala e se afasta, onde todo mundo já está dançando novamente. Normani está lá no meio batendo na bunda de Hailee com o skate de Lauren. Elas parecem estar se divertindo muito. Eu quase não me diverti nessa festa, na verdade, eu quase não aproveitei.
Lauren olha pra mim sem saber muito bem o que dizer.

- Uh... Sua amiga pegou meu skate. - Ela coça a nuca.

- Eu preciso dele pra voltar pra casa.

- Você já vai? Lauren... Quase faço uma voz de bebê e imito um choro, mas lembro que ainda tenho alguma dignidade.

- Me desculpa, mas eu realmente tenho que ir. - Ela faz uma carinha triste, os lábios se pressionam juntos e seus olhos até perdem um pouco do brilho.

- Te levo em casa? A Normani pode te devolver o skate depois. - Olho para a sala, vendo agora Hailee deitada em cima do skate e sendo empurrada por Dinah pela sala. - Eu vou pegar dela depois e ter certeza que seu skate ficará bem.

- Tudo bem. - Lauren concorda. - Vamos?

Avisei para Normani que estava indo deixar Lauren e que depois voltaria, mas não acho que ela tenha entendido nada do que eu disse. Ela só concordou com a cabeça e disse que me entendia do fundo do coração dela. Dinah pareceu bem embriagada, o que eu com certeza odiei, mas não interferi. Lauren se despediu de Shawn com um abraço, que foi supervisionado por mim, porque nunca se pode confiar em homens, ainda mais quando eles parecem legais demais como Shawn.

Do lado de fora, o frio continua. Lauren parece não se importar, pois está muito bem aconchegada em seu casaco e cachecol. Enquanto isso estou quase sofrendo hipotermia ao lado dela, mas ela nem sequer se dá conta. Não se fazem mais pessoas que se preocupam com o seu bem-estar como antigamente.
Entramos no meu carro e Lauren fica encarando a caixa de correio que derrubei.

- Eu nem vi que isso tava aí. - Eu me justifico. - A falta de iluminação no jardim dá nisso.

- Aham, a falta de iluminação. - Ela finge que acredita enquanto eu dou ré com o carro. Um barulho alto irrompe em meus ouvidos.

- Merda, o que foi isso? - Paro o carro de novo.

Lauren se estica para olhar para trás.

- Você derrubou uma lixeira.

- Ah sim. - Ninguém liga para uma simples lixeira. Apenas volto a acelerar o carro. - Por que tem faltado tanto esses dias? - Olho pra Lauren rapidamente. Fico preocupada, ela realmente pode reprovar de ano por tantas faltas.

- Estou procurando um emprego. - Ela responde simples, olhando pela janela.

- Porque quer tanto trabalhar? - Acelero um pouco mais o veículo, tentando imaginar como alguém pode querer trabalhar quando ainda está no ensino médio. Isso é literalmente pedir para morrer de estresse.

- Bom, eu preciso ajudar nas despesas da casa. - Ela suspira. Sua voz está diferente. Acho que esse assunto a incomoda de alguma maneira.

-E sua mãe?

- Ela não trabalha. - Ela diz por fim, com um tom que parece querer encerrar a conversa ali mesmo.
Como ela tem vivido se sua mãe não trabalha? Tipo, de que dinheiro ela vive? Ela nunca fala do pai, então presumo que ele não seja presente. Talvez ele dê dinheiro a ela mesmo não morando mais com as duas. São tantas perguntas que quero fazer, mas não quero ser invasiva e ela não parece disposta a falar mais sobre a questão. Meu peito aperta imediatamente com a preocupação.

Quando paro o carro na frente do prédio dela, sem nem bater em nada, o que foi surpreendente, Lauren me lança um olhar descontraído, relaxado e até mesmo livre de qualquer perturbação.

- Me diverti hoje, apesar de ter sido rápido. - Ela dá de ombros, um sorrisinho brincando em seu rosto.

- Gosto de saber disso. - Tiro meu cinto de segurança e abro a porta do carro, logo sendo atingido por essa droga de frio maldito. Meu Deus, eu odeio tanto sentir frio.

Lauren também sai do carro e dá a volta no mesmo, parando em minha frente. Bato os dentes rapidamente com a geada que passeia pela rua naquela noite, não tem ninguém além da gente por aqui, o que até me assustaria um pouco por estar num bairro que não conheço a essa hora da noite, mas a mecha bagunçada de Lauren e a pontinha de seu nariz começando a ficar vermelha me fazem esquecer de qualquer coisa ruim que possa assombrar minha mente.

Ela dá um passo em minha direção e me envolve em um abraço, achei que ela me agarraria para um beijo (a gente sonha, né), porém o que recebo são seus braços longos ao redor dos meus ombros. Seu suéter fofinho e quente aquece meu rosto, seu corpo morno envia ondas de calor que são muito bem-vindas por meus braços e tronco.

- Você tá me sufocando. - Eu resmungo com a voz abafada, mas não quero que ela me solte.

- Estou te esquentando.

- E me matando.

- Prefere morrer de frio?

- Cala boca, Lauren. - Eu resmungo botando meus braços ao redor de sua cintura fina por dentro do casaco dela. Seu corpo é realmente tão quentinho, eu poderia morar aqui. Tá bom, isso foi muito gay.

Suas mãos longas correm por minhas costas, indo para cima e para baixo numa tentativa de aquecer o local. Fecho os olhos presa nesse abraço tão gostoso que eu até poderia dormir aqui mesmo, com o corpo quentinho de Lauren contra o meu, seu queixo descansando no topo da minha cabeça e seu cheirinho enchendo meus sentidos. Não sei dizer qual é o cheiro de Lauren, mas sei que é um cheiro que só ela tem, é quase como se fosse um perfume com uma essência dela mesma. Novamente, sou péssima em tentar descrever coisas abstratas.

Lauren começa a nos balançar de um lado para o outro devagar.

- O que você está fazendo? - Pergunto ainda com os olhos fechados.

- Estou dançando. Você dança em circunstâncias como essas?

- Que circunstâncias, Lauren?- Nós duas nesse frio maldito, agarradas numa rua deserta tarde da noite dançando sem música alguma? Sim, eu danço. Sim, eu sou uma idiota. - Posso abrir uma exceção. - Me afasto um pouco dela, mas bem pouco mesmo e começo a dançar lentamente.

- Você pisou no meu pé! - Ela reclama quando ela mesma acelera a dança e me faz pisar no pé dela.

- Você mereceu. - Acabo rindo também. Ela me segura com uma mão e me faz girar em meu próprio eixo.

Lauren acaba me soltando e começa a fazer uns passos de dança bem estranhos. Me sinto grata por não ter ninguém além de mim olhando isso. Nem parece aquela garota que estava rebolando de maneira fatal na casa de Shawn um tempo atrás.

- Achei que você ia dançar! - Ela se aproxima ainda fazendo os passos desengonçados. Ela me puxa pelos braços e eu acabo me rendendo por conta de sua alegria, que infelizmente me contagiou.

Não tem música nenhuma tocando, apenas duas adolescentes idiotas dançando no meio da noite num frio desgraçado, rindo que nem duas hienas e fazendo movimentos estranhos. Sou profissional em fazer o passo do robô e Lauren até me surpreende quando manda um moonwalker perfeito na calçada do prédio, o que me faz dar uma risada aguda e escandalosa.
Em meio as risadas e o vento gelado que bate em nossos cabelos, Lauren me abraça de novo. Ela anda abraçada ao meu corpo e se encosta na lateral do meu carro, sua risada fofa ainda soando em meus ouvidos. Ela tira seu cachecol do pescoço e o envolve ao redor do meu, fazendo um nó apertado demais.

- Ai, inferno. - Reclamo, afrouxando o aperto que ela. - Você quer me matar, não é?

- Obrigada, Camila. - Lauren responde ignorando totalmente o que eu disse. Ela se afasta um pouco para me olhar, seus grandes olhos redondos mirando cada centímetro do meu rosto.

- Pelo quê? - Não entendi realmente o motivo de sua gratidão.

-Não sei , só... - Ela dá de ombros. -É só que você realmente melhora meu dia, sei lá...

Ela olha para os lados, evitando meu rosto agora. Quero explodir com o quão adorável isso foi, mesmo que ela não seja boa com demonstrações de afeto, sejam elas verbais ou físicas. Já aviso desde agora, vou agarrar essa garota.

Apenas ergo os cantos da boca num sorriso.

- Oun...

- Para, é sério. - Ela encosta a testa na minha ainda me segurando pela cintura.

- Tudo bem, eu acredito. - Respiro em seu rosto. Ela encosta nossos narizes e eu estou prestes a explodir feito fogos de artifícios, pois já faz tempo desde que nos beijamos na biblioteca.

Lauren avança em minha boca com a mesma firmeza de sempre, o maxilar duro em constraste com os lábios macios e fofos. Me concentro inteiramente no beijo, sentindo as mãos dela abraçarem meu tronco, como um lençol quentinho se enrolando meu corpo. Deixo que ela conduza esse beijo da forma que ela desejar, só para ver o que ela faz. Sua língua acaricia meus lábios por breves instantes antes de entrar em minha boca, e eu só vou deixando que ela tome conta de mim por inteiro.

Minhas mãos se cruzam ao redor do seu pescoço fino, seu cabelo roçando em meus pulsos.

Já esqueci completamente o frio, o calor do corpo de Lauren me priva de qualquer outra sensação que não seja a de pleno bem estar. O seu beijo lento e firme me faz inclinar a cabeça para todos os ângulos que ela determina. Lauren dá um leve suspiro em minha boca antes de se afastar, seus lábios voltando aos meus segundos depois para começar outro beijo ainda mais exigente, mas que não deixa de ser delicioso.

- Estou com gosto de Doritos? - Ela pergunta contra meus lábios.

Sinceramente, melhor momento para fazer esse tipo de pergunta.

- Não.

- Mas eu comi muitos. - Ela agora beija o canto da minha boca com um biquinho nos lábios.

- Mas não está. - Reviro os olhos e sinto uma dorzinha aguda na bochecha. Lauren está mordendo-a.

- Elas parecem bolinhos. - Ela comenta voltando a morder a pele gordinha do meu rosto.

- Dói, Lauren... - Eu resmungo feito um bebê, mas ela continua mordiscando.

Depois de morder com pouca força minha bochecha direita, ela está pronta para ir para o outro lado quando meu celular começa a tocar no bolso.
Vejo o nome de Shawn piscar na tela quando pego o aparelho entre as mãos, ainda agarrada em Lauren.

- Camila, a Normani quer que você venha pra levar a Dinah pra casa. - Ele diz em meio ao barulho de música alta e muitas vozes falando ao seu redor.

- Ela tá muito mal? - Faço uma careta ao perguntar, já imaginando a situação que ela se encontra.

- Ela tava vomitando.

- Ai, caralho. - Suspiro. - Diz que eu já tô indo.

- Tá. - Ele encerra a ligação.

- Sua amiga? - Lauren me olha.

- É. - Guardo o celular no bolso, já me preparando para enfrentar a batalha que vai ser para cuidar de Dinah. - A gente se vê na escola?

- Aham. - Ela me solta e o frio me atinge novamente, mas dessa vez seu cachecol em meu pescoço ameniza a situação. Espero que ela esteja ciente que nunca mais ela vai ver esse cachecol em sua vida, pois agora é meu.

-Vê se não falta. - Abro a porta do carro e entro, abaixando o vidro para continuar falando com ela. Acho que vou conversar com Normani, talvez o pai dela possa dar aquela vaga para Lauren e assim ela não vai ficar perdendo aula enquanto procura por empregos.

- Vou tentar. - Ela se encosta na porta do carro e eu me inclino para dar um último beijo em sua boca já vermelha por conta do meu batom. - Talvez você queira limpar suas bochechas de gnomo.

Olho meu rosto no espelho retrovisor, minhas bochechas estão manchadas com o meu próprio batom, que foi espalhado graças aos lábios de Lauren e suas mordidas.

- Idiota. - Reviro olhos para ela.

- Tchau, Camilinha.

- Não gostei desse apelido.

- Você prefere Maria? - Ela ri.

- Aqui pra você, Lauren. - Lhe dou o dedo do meio e ligo o carro. Ela se afasta ainda rindo. Quando saio com o carro pela rua, ainda consigo ouvir Lauren gritando a palavra gnomo várias vezes.

Quando penso nessa noite, sei que foi uma das noites mais felizes de Lauren nos últimos meses.

O Encontro De Um Dólar - Camren (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora