03

11 1 0
                                    

22 de fevereiro de 2018.

Há cerca de um mês, Felix se mudou para a Coreia do Sul. O choque cultural foi grande, mas nada muito além do que ele esperava. Por ter uma família com linhagem coreana, já estava acostumado com algumas coisas, porém quando pisou em Seul a ficha finalmente caiu.

Ele estava em outro país. Em outro continente. E em poucas semanas estaria dentro do melhor internato da região. Teria que sobreviver lá dentro por dois anos para poder finalizar seu ensino médio. E teria que se aventurar em uma língua que não era a sua materna.

De fato um desafio, de fato uma aventura. E agora já era tarde demais para dar meia volta.

Durante os meses de janeiro e fevereiro, ele passou o máximo de tempo possível com sua família. Eles turistaram, comeram refeições deliciosas e visitaram parentes que não viam há anos. Foi tudo muito bom, um verdadeiro tempo em família.

Para seus pais e suas duas irmãs, aquelas foram férias perfeitas. Infelizmente, para Felix, aquilo era o começo de sua vida sozinho. Depois de deixarem ele no internato, sua família voltaria para a Austrália e ele teria que se virar na Coreia, podendo visitá-los somente no mês de setembro.

— Olivia, acho que não tô pronto para fazer isso. – Ele disse para sua irmã mais nova.

A família estava passeando pelo shopping, ambos andando um pouco mais atrás. Olivia olhava fascinada para as vitrines, querendo comprar tudo que estivesse na sua frente.

— Ora Felix, já estamos aqui, não tem isso de "não to pronto". – Ela falou vagamente, ainda hipnotizada em um headphone branco lindíssimo que estava exposto numa loja de aparelhos eletrônicos.

— Tô falando sério, acho que não vou conseguir, meu coreano é um lixo ainda. – Ele falou, um pouco alterado. Aquele era o último passeio, e no dia seguinte seus pais já estariam deixando-o no colégio. — E o fato de que vocês vão estar do outro lado do oceano não tá me confortando muito e...

— Ei, Felix.

Felix olhou pra frente, sua outra irmã lhe encarava com um olhar preocupado. Olivia parou de olhar para a vitrine e também olhou para Rachel, irmã mais velha dos dois.

— Vai ficar tudo bem. – Ela se aproximou do garoto, que não sabia por quanto tempo conseguiria segurar o choro. — Vai ficar tudo bem, eu te garanto que vai.

Ela o abraçou. Foi aí que Felix desabou nos ombros da irmã, as lágrimas escorriam pelas suas bochechas cheias de sardas, seus olhos apertaram e sua fala ficou trêmula. Olivia sentiu um pouco de culpa ao ver o estado que seu irmão entrou, pois não achava que ele estava assim tão nervoso.

A mais nova também se juntou ao abraço, Felix abriu espaço e se apoiou nas duas irmãs, e chorou como nunca. Elas eram uma parte importante em sua vida, eram seu porto segura... ter que deixá-las para trás, junto com tudo seu que ficou na Austrália, era de cortar o coração sensível do garoto.

Seus pais estavam muito à frente deles, nunca chegaram a ver tal cena entre os irmãos Lee. Mas não importava muito, no final das contas, Felix não queria chorar na frente deles também porque sabia que iria doer mais ainda.

Olivia involuntariamente começou a chorar, e isso trouxe uma certa alegria para Felix, algo que só alguém que tem irmãos pode sentir.

— Ah não chore também, você fica ridícula chorando. – Ele a provocou, saindo do abraço e enxugando as lágrimas do rosto da irmã.

— Cala a boca, eu nem sei porquê to chorando. – Ela replicou.

Rachel começou a rir dos dois, trazendo a risada para o trio. Ainda era um misto de tristeza e alegria, mas era sempre assim em momentos de despedida.

— Eu só to com medo, e se tudo der errado?

Rachel colocou a mão sobre o ombro dele e deu um sorriso singelo.

— Não vai dar, e se algo te aborrecer ou sair do controle, tudo que você precisa fazer é manter o controle e se acalmar. – Foi a vez dela de enxugar as lágrimas. — Aí você refaz o que errou e tudo fica bem. Qualquer coisa você liga pra mim e pode ter certeza que eu pego um voo pra cá o mais rápido que eu puder.

— E eu vou junto! – Olivia disse.

Felix sorriu e agradeceu as irmãs. Ele nunca esteve tão agradecido por ter elas em sua vida. Tinha consciência que ficaria meses sem vê-las pessoalmente, mas nos dias atuais a Internet aliviaria a saudade entre os três.

Tudo daria certo. Ele tinha que apenas ter confiança em si próprio.

[...]

A pequena viagem até o internato não durou mais que uma hora, mas a sensação que Felix teve era que estava dentro do carro há dias.

Ele levava duas malas com roupas e pertences, em sua mochila de costas tinha seus eletrônicos e diversos jogos que não podiam faltar em seu dormitório.

Será que o colega de quarto dele seria alguém legal? Será que ele gostava de jogar? E se ele fosse o seu completo oposto?

Isso ele descobriria logo logo.

Olivia e Rachel ficaram no hotel, pois Olivia disse que não queria deixar Felix e voltar sem ele, preferia se despedir antes do que ter que se despedir na frente de todos os outros alunos. Rachel também se despediu antes, pois tinha que ficar cuidando da irmã para não deixá-la sozinha.

A mãe de Felix lhe dava instruções intermináveis sobre como se comportar lá dentro, coisas sobre manter uma boa etiqueta e ser responsável durante... bem... aqueles momentos...

O pai de Felix dirigia com a atenção redobrada, não porque estavam na estrada, e sim porque seu coração também apertava um pouco diante de toda a situação. Ninguém queria deixar Felix ali, nem seus pais, nem suas irmãs... ninguém.

Mas ele tinha que ir. Aquilo poderia mudar a vida do garoto, além de incorporar seus currículo e abrir portas para ele ter uma excelente vida adulta. Era necessário.

Aquela mudança precisava acontecer.

A vegetação não havia mudado quando eles chegaram nos portões do internato, tudo era rodeado por uma vegetação densa. Era como se aquela instituição tivesse sido construída no meio do nada.

Ao chegar no estacionamento, Felix viu diversas outras pessoas, umas da sua idade, outras com a aparência mais velha e outras mais novas, todas com suas malas e famílias saindo dos carros. Não era muita gente, mas ele foi informado que a chegada dos alunos acontecia em um período de duas semanas. Felix decidiu que queria ir no domingo, para ter uma semana de adaptação antes do início das aulas.

Todos desceram do carro, seu pai o ajudou com as malas e sua mãe o enchia de beijos e abraços apertados. Felix já tinha passado pelo momento-emocional então estava um pouco mais tranquilo.

— Ah filho, qualquer coisa que você precisar, pode ligar para mamãe que eu resolvo ok? – Ela o arrastou para mais um abraço, ele sorriu timidamente — Ah meu bem... meu filhinho precioso.

— Vamos amor, ele precisa ir. Tenho certeza que ele vai saber se virar, já está na idade.

Seu pai fechou o porta-malas e botou as duas malas de rodinhas na frente do filho. Ele o puxou para um abraço e deu um "xero" na sua cabeça, tentando conter a emoção.

Após alguns minutos de puro abraço, beijos e despedidas carinhosas, Felix disse um último "tchau" para seus pais.

Ele se virou e seguiu os outros alunos que também carregavam malas. 

The Prince and... the Prince | hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora