Planejando a fuga do desgosto

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- Bom Dia, meus queridos e responsáveis alunos - diz o Sr. Stephen em cima do palco do auditório, na diária leitura dos novos regulamentos de Nunca Mais. - Algum voluntário para ler nosso "contrato social". Só para deixar bem explicado... - ele ajeita se óculos e continua seu discurso. - Essa regras, regras não. Essas leis são inspiradas nas ideias dos filósofos contratualistas. Alguém conhece? - Sem deixar ninguém responder, ele prossegue em sua fala. - Para vocês sobreviverem... Há muito perigo lá fora, crianças - ele mostra a cicatriz um pouco acima do quadril. - Para vocês sobreviverem eu criei essas leis, assim vocês abrem parte de sua liberdade e eu os mantenho em segurança, que é a minha função - ele diz olhando diretamente para mim. Pelo visto eu o inspirei a escrever esse discurso - Sr. Thorpe, poderia fazer o favor de ler as leis?

Xavier acena com a cabeça e anda em direção ao palco.

- É estritamente proibido a saída de alunos das localidades de Nunca Mais, em virtude do confinamento que ocorrerá em um breve período de tempo, que estenderá enquanto não houver a certeza da segurança dos moradores do nosso prestigiado colégio. Há uma restrição para a saída dos alunos da permanências de Nunca Mais, sob condição de estarem acompanhados de funcionários, os quais tenham essa função... - diz Xavier. Não pude deixar de notar que ele me observou durante toda a leitura, espero que ele saiba que não tenho intenção de ser mais que amiga dele, de ninguém, na verdade.

Assim que ele terminou de ler todas as regras, como a proibição de clubes não regulamentados na escola (Beladona) e proibição de qualquer ser que não seja estudante ou funcionário (mãozinha), Xavier veio ao meu encontro.

- A Enid me contou - ele diz, após sorrir para mim. - Sobre o seu plano - sussurra.

- E, então? - pergunto.

- Eu tenho uma condição.

É comum quererem algo em troca de um favor. Mas não posso negar que estou surpresa, esperava que o Xavier faria esse favor de bom grado para tentar se aproximar de mim, apenas para nos tornamos amigos, claro. Mas nada mais surpreende de verdade depois dos acontecimentos do último semestre. E de qulaquer forma, ele não deve falar para mim terminar com alguém, acho que já espalhou por aí que eu não finalizei meu último trabalho.

- Qual condição?

- Você vai ter que ir na próxima festa.

- Por que você está tentando me torturar?

- Porque eu ainda gosto de você, Wandinha.

- Eu não quero ser mais que sua amiga.

Nem de ninguém, penso.

- Então, amigos? - ele pergunta sorrindo e esticando sua mão em direção a mim.

Algo em mim diz que ele não desistiu dessa ideia de ser mais que amigo meu, mas resolvo ignorar esse pensamento. Se ele quiser se iludir, não posso fazer nada.

- Amigos - digo, apertando sua mão como fazem após um negócio fechado. - Eu aceito sua condição. Mas...

- Claro que teria um "mas" - ele fala decepcionado.

- Mas vocês terão que fazer algo tão grande e escandalosa a ponto que o Sr. Stephen não note minha saída - sussurro para que nosso plano não seja estragado.

- Pode ficar tranquila. Já pensamos em tudo, Wandinha.

- Tá bom - digo, indo em direção a sala de aula.

- Espera, Wandinha. Vamos juntos até a sala. Vamos ter a mesma aula agora.

Não respondo, permitindo que ele me acompanhasse.

Amor e desgosto / Wandinha e Tyler (Wednesday)Onde histórias criam vida. Descubra agora