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3:37 A.M

Minha cabeça está latejando, meu rosto encharcado e vermelho. As responsáveis?  As minhas lágrimas, quentes que não se cessam. Eu estava de novo tendo uma recaída, outra vez tomando sei lá quantos comprimidos para dormir de uma vez.
Simplesmente não sei quando eu me tornei assim, deprimido e precisando se dopar pra parar de pensar por pelo menos 10 minutos. Eu simplesmente não aguentava ter que conviver comigo mesmo. Eram tantas coisas ao mesmo tempo, uma ansiedade explosiva que me perturbava o tempo inteiro, sem falar na falta de vontade de viver que me rodeava e me atormentava todo santo dia, um cansaço extremo e uma falta de apetite doentia.
Acho que o responsável por isso tudo é meu vô, que além de ser a melhor pessoa do mundo, deixou uma cartinha fodida dizendo o quanto se orgulha do moleque que me tornei e o quanto ele me amou.
Ele achou uma ótima ideia colocar essa carta em seu pescoço, que ficou presa lá graças a corda que envolvia sua garganta.

Toda vez que eu pego essa carta com respingos das lágrimas dele que ficaram manchadas no papel, eu simplesmente desabo. Eu já até tentei esconder ela enquanto estava chapado, mas quando acordei no outro dia, procurei incansavelmente o papel escrito pelo senhor que já se foi.
Eu o amava tanto, era o único na família que fazia questão de me entender e me acolher. Mamãe tinha sido morta e papai simplesmente sumiu do mapa. Tios e tias meus simplesmente não se interessavam em cuidar de mim ou saber se eu estava bem. Minha vovó, coitada, estava doente e internada.

Acho que comecei a me drogar por volta dos 15/16 anos, não tenho certeza. Me dopava para tentar esquecer o fato de que eu só tinha meu vô, já que eu não tinha amigos e nem namorado. Pra esquecer que eu sou um ninguém, um humano totalmente inútil, sem noção, sem utilidade, alguém que ninguém ama, que jamais poderá ser amado e muito menos amar também.

Minha vida na escola não era complicada, ninguém implicava comigo e eu ia bem academicamente até meus 13 anos, que foi quando papai desapareceu. Aí desandei na escola, não só nela como na vida.

Eu tinha um amigo, o Taehyung. Ele era muito adorável e de vez em quando perguntava se eu queria passar o recreio com ele.
Era bom passar o tempo com ele, ele era bom.
Perdi meu bv com ele e, ah, ele beijava tão bem. Sempre carinhoso, me dizendo que eu era o melhor e que eu era incrível.
Mas como nada na minha vida é feliz, meu vô adoeceu e eu mudei de cidade por causa do tratamento do velhinho, e nunca mais o vi. Acho que ele foi o meu primeiro amor.
Já que estamos falando sobre isso, queria falar que depois do Taehyung, não consegui me relacionar com mais ninguém direito por mais de 3 meses. Depois tudo ou ficava monótono, ou eu me afastava, ou a pessoa se afastava, ou simplesmente parávamos de nos ver. Acho que mais umas 3 pessoas tentaram algo comigo, mas nunca deu certo. Eu sei que sou uma pessoa irrelacionavel.
Quem que vai querer ficar com alguém que se afasta do nada, é desligado na vida, tenta suicídio frequentemente, se droga, é fechado, frio, nunca responde ou liga de volta, e nunca dá de volta o que recebe? Ninguém. E eu não os julgo, jamais faria isso. Eu não seria meu amigo, tampouco me namoraria.
E...

9:37 P.M

Abro os olhos, está tudo embaçado. Tem algumas macas do meu lado e algumas enfermeiras...?
O que? Como?
Tento me levantar mas minha cabeça está pesando 10 kilos. Tem um cateter em meu braço mutilado, indicando que eu estou tomando soro.
Nada parecia fazer sentido. Minha garganta doía e quando tentei falar, não saiu nada.

Uma mulher de jaleco aparece, com um sorriso no rosto e uma prancheta nos braços.

Mas o que?

– Olá, Jeon Jungkook. Já acordou, hm? Como se sente?

A moça pergunta simpática e visivelmente preocupada.

– Eu... – pigarreio e passo a mão no pescoço, massageando a garganta – Tá tudo meio embaçado e minha cabeça está pesando tanto... Quem me trouxe? O que eu estou fazendo aqui?

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⏰ Última atualização: Jan 17, 2023 ⏰

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