Capítulo 1

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Acordo assustada quando sinto algo molhar meu rosto. Pisco algumas vezes, tentando focar minha visão em algo e conseguindo enxergar a silhueta de Deimos. Ele segura um copo enquanto me encara atentamente, causando certo desconforto no meu estômago.

— Vou soltá-la para que possa se alimentar. — ele avisa, ameaçando se aproximar. — Mas se tentar alguma coisa, te mato na hora.

— Está de manhã? — pergunto para mim mesma, confusa demais.

— Começo da tarde. — Deimos responde, me fazendo arregalar os olhos. — Você dormiu por doze horas.

— O que?! — me espanto, sentindo uma dor horrível no pulso ao me mexer. — Meu pulso...

Ele me encara por alguns segundos antes de finalmente me soltar. Solto um gemido de dor quando meu pulso é libertado e grito assustada quando Deimos pega ele com certa brutalidade.

— O que está fazendo? — pergunto aterrorizada e ele avalia meu pulso.

— Não quebrou. — ele diz.

— E como você sabe? É médico? — pergunto sincera, o vendo negar com a cabeça.

Apenas observo ele ir até a maleta de primeiros socorros que deixo na cozinha, antes de voltar e arrastar uma cadeira para se sentar à minha frente.

— Vou enfaixar agora. — ele olha para mim de um jeito suave e me sinto estranha sob seus olhos verdes intensos.

É como uma floresta sombria.

— Você matou minha gata. — digo com os olhos marejados.

— Eu não matei sua gata.

— Matou sim! — ameaço me levantar e Deimos segura minha coxa.

— Estava fugindo junto a um colega de cela. Ele seguiu fugindo quando eu...

Seu pomo de adão oscila e me pergunto o que ele queria dizer.

— Quando você? — o encorajo a continuar.

— Quando eu te vi.

Seus olhos se encontram com os meus de uma maneira tão intensa que quase perco o ar. Quase posso sentir sua respiração em contato com a pele do meu rosto e fecho os olhos quando sua mão aperta minha coxa.

— Você é aquele psicopata que o jornal alertou, não é?

— Não sou psicopata.

Deimos se levanta e vira de costas, parecendo esquecer que estou livre das amarras. Sem pensar com clareza, sou rápida em correr até a porta dos fundos da minha casa. Agradeço a Deus por ela estar aberta e corro floresta adentro, enquanto escuto os gritos de Deimos atrás de mim.

Tento não olhar para trás assim que consigo passar por uma clareira. Deimos continua atrás de mim, e já posso sentir as lágrimas quentes deslizarem por meu rosto.

— Acho melhor correr, boneca, porque quando eu te pegar...

Eu me viro um milésimo de segundo para conferir o quão longe ele está de mim, quando de repente sinto meu corpo despencar no ar. Tudo gira enquanto meu corpo cai em um pequeno desfiladeiro, e apenas peço a Deus para que Deimos não consiga me encontrar.

Sinto o ar sair dos meus pulmões assim que meu tórax bate contra uma pedra, me fazendo quase desmaiar de dor. Uma dor aguda se forma na minha nuca, me fazendo ter certeza que também bati em algum lugar por sentir um líquido quente no local.

Minha vista está turva e não sei quantas horas ou minutos eu passo quase desmaiada, apenas pareço voltar a realidade ao sentir dois braços fortes me retirar do chão. Meu corpo tenta protestar, mas estou fraca demais para isso.

— Me ajuda...

Não sei se a pessoa conseguiu entender de tão baixa e fragilizada que minha voz saiu.

— Não deveria ter fugido de mim, doce nêmesis.

Reconheço a voz que tanto temo falar, mas, antes que eu possa ao menos tentar escapar, todos os meus sentidos desligam e me envolvo na escuridão tranquila e sombria.

Dear KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora