Capítulo 1 - White

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9 de Março, 1994

Não tenho exatamente certeza do que estou fazendo, tampouco controle sobre o que quer que seja isso... Só sei que hoje, quando fui à papelaria comprar um caderno novo para substituir o diário anterior (dessa vez escolhi um muito bonito, de couro marrom e fecho dourado, com quase 150 folhas de gramatura alta), o vendedor me perguntou se eu gostaria de gravar algo na capa. Num impulso, eu lhe disse que sim. A segunda pergunta foi "o que vai querer escrever?", e acho que naquele momento, pensando agora, foi quando eu devo ter perdido o juízo. Não levei nem um segundo para responder, já que a palavra que rolou de minha língua saiu tão certeira, tão naturalmente, que eu nem ao menos hesitei, e quando me toquei do que tinha feito, não havia mais volta.

E que diacho de palavra era essa? Parece tão idiota quando escrevo agora, e talvez um pouco (MUITO) humilhante, mas acho que não me importo, por que sinto que não tenho muita escolha; sabe aquela sensação de déja vù, de quando uma situação ou uma imagem parecem familiares mesmo sendo inteiramente novas? Um pedaço do passado costurado ao presente? Foi isso que eu senti... Quando a palavra escapou da minha boca antes que eu pudesse detê-la, eu soube ali que estava (perdão pelo palavreado) fodido.

Eu lhe disse um nome, mas não foi o meu. Foi o nome dele. O nome que se parece com um sussurro do vento na hora mais fria da noite. O nome que puxa em minha mente a imagem imaculada de sua face, coroada com um sorriso de pérolas e olhos de âmbar... até o seu cheiro ficou impregnado nas minhas memórias, apesar de eu não ter mais tanta certeza quanto à sua exatidão; algo entre sândalo, madeira e canela. O nome que eu ouvi pela primeira vez apenas dois dias atrás, mas que sei — apenas sei — que vou levar dez vidas para esquecer. E esse nome é o de PARK JONGSEONG.

Falando sério, ok, primeiramente: ONDE É QUE EU ESTAVA COM A CABEÇA? (Isso é uma pergunta retórica. Eu sei por onde minha cabeça estava passeando.) Que coisa mais idiota a se fazer! Ridículo! Absurdo! Não me arrependo — algo que me irrita profundamente, mas ainda assim eu não me arrependo. Infelizmente, isso contribui para minha teoria maluca de que havia algum tipo de complô celestial para que eu fizesse isso, alguma profecia escrita nas estrelas ou qualquer coisa parecida. Talvez os deuses tivessem jogado nos dados, apostando as possibilidades como numa corrida de cavalos (Ele vai gravar o nome dele! Não, ele não vai!), e um lado sempre acaba ganhando. Bom para o lado vencedor hoje, não é mesmo?

A questão é: agora eu tenho um caderno — não, um DIÁRIO — com o nome de um garoto que sabe que eu existo há apenas 48 horas, estampado na capa, e em lindas letras douradas e garrafais. Eu não tenho uma utilidade imediata para ele, a não ser justamente a função de diário que estou lhe empregando no momento, mas sinceramente, acho que esse não é meu pior problema. Acho que meu pior problema é que existiu, sim, um motivo para que o nome dele tenha sido a primeira coisa em que eu pensei naquele momento — e se for para me expor completamente ao ridículo aqui, posso até arriscar dizer que é a única coisa em que eu tenho pensado há dois dias. E esse motivo é tão simples quanto estúpido: eu estou completamente apaixonado por Park Jongseong.

Nunca tinha sentido isso antes (exceto talvez por aquela única vez no ensino fundamental, mas acho que vou deixar essa história pra depois) e é bom. É muito melhor do que eu imaginava que seria. Sinto que poderia pular de um prédio — o que eu não vou fazer, é claro. Mas poderia. Acho que estou enchendo linguiça à essa altura, então vou contar como tudo aconteceu.

Tudo começou na verdade um mês atrás. Eu, Sangwon, Jake, casa dos meus pais. A propósito, Sangwon é meu irmão mais velho com um total de 2 minutos e 30 segundos de vantagem. (Isso era pra ser irônico. Somos gêmeos.) E Jake era nosso vizinho, que é metade australiano e deve estar nesse exato momento a caminho de sua terra natal para fazer faculdade. Enfim. Estávamos em casa, nossos pais tinham saído, e os dois jogavam videogame na sala enquanto eu fazia uma pipoca para levar para o meu quarto e ver um filme online com Sunoo. Ah, e Sunoo é meu melhor amigo desde o ensino fundamental, e ele é — e isso é uma citação direta— "gay desde o nascimento". OK, isso foi muita informação de uma só vez, mas prometo que vou explicar tudo depois, antes preciso chegar ao meu ponto principal. A campainha tocou, eu corri para atender, mas fui interceptado (!!!) pelos dois garotos que estavam há menos de um segundo praticamente acampando no meu sofá.

Loving Him Was Red | JAYWONOnde histórias criam vida. Descubra agora