Capítulo 04

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Logo na primeira semana, Murilo estava perdidamente apaixonado por Tereza: era algo verossímil e até inevitável para ele. Ele que observava atentamente Tereza , em toda beatitude de seus gestões, como limpava a mesa e arrumava a casa, como mantia tudo limpo, como uma profissional pelo qual fosse designada com amor. Seus cabelos , ah, seus cabelos, como queria toca-los , sentir nas próprias mãos a maciez, cheirar aquele cabelo, sentir o perfume ... Cada movimento seu e de seus cabelos , trazia primavera em qualquer inverno, e o corpo quente como o verão jogava Murilo em um poço de desejos reprimidos; a incumbência, daquele enorme segredo, tomou proporções inimagináveis para Murilo. Aquele segredo pelo qual se revelava nos olhos, nos gestões. Fingir que nada acontecia, que nada existia, era um esforço descomunal. O novo segredo que agora tinha e que carregava como Cristo que carregou a cruz, cruz pelo qual seria crucificado e morto. No trabalho logo se adaptou a nova rotina, o serviço não era tão pesado, o horário não era ruim. As quatro da tarde já estava no restaurante Bonaparte com o irmão, durante a semana, fechava meia noite e meia ou uma da madrugada, nos finais de semana duas ou no máximo três da manhã. Na primeira semana de trabalho, logo notou que não teria muitos amigos, as pessoas no geral sequer diziam seu nome, era sempre chamado de, o irmão do Maurício. Não era descolado como o irmão, todos conheciam e admiravam Maurício, ele era o mais respeitável do trabalho, todos tinha extrema confiança. Isso causava em Murilo certo desconforto.
Os dias iam passando, nas ruas , no ônibus ,em casa, no trabalho, Tereza estava lá para assombra-lo, ela completamente mefistofélica. Não existia saída, tudo que queria era ao menos tocar seus cabelos, sentir , um abraço, mãos dadas, todos esses devaneios infantis. Estava entregue, estava perdido

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