Decisões

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Theo já ouvira muitos barbaridades nos seus 12 anos de vida. Muita cobrança dos pais, pressão pra ser o melhor garoto da pequena e pacata Vila em que viviam. Theo deveria sempre ser um exemplo. Desde sempre teve de tirar notas boas na escola, vivia na Igreja e era até coroinha da mesma (Comia as óstias e tomava o vinho) mas no altar era um santo. Theo desde que nascerá já tinha a missão em  fazer trabalhos filantrópicos. Até uma vez sua mãe o obrigou a doar alguns brinquedos, inclusive um avião que ele ganhara de aniversário de sua avó que havia falecido há mais ou menos dois anos e ele era bem apegado a ela.
Em meio a tantas cobranças, exigências e frustrações, Theo nunca ouviu um eu te amo vindo de sua mãe ou pai e isso o frustrava muito. Seu único conforto era saber que todo dia pela manhã ele se encontraria com seus amigos e juntos planejariam mais um grande dia, recheado de aventuras.
Quando Guto apareceu em sua casa, numa noite fria de Julho com uma conversa estranha, Theo percebeu que embora acostumado em ouvir tanta coisa negativa, aquilo que Guto acabara de dizer, o surpreendeu de uma forma nunca vista antes. Nem mesmo as vezes que o pai o punia por ele não gostar de esportes, ou da vez que o pai o humilhou por ele ter quase reprovado em Educação Física.
Conforme Guto ia falando, Theo ia assimilando cada palavra, mas uma não saia de sua cabeça, FUGIR. Theo entendia o amigo, entendia que Guto estava sofrendo há anos, e ainda mais agora que o padrasto de Guto o queimara com cigarro. No entanto, fugir pra outra cidade, parecia uma ideia apavorante. Mas Theo é pequeno demais pra conseguir conter o amigo, muitas vezes ele mesmo já pensou em fugir. Um bom exemplo foi a vez que ele acertou uma pedra no carro novo da mãe, ele apanhou e ficou de castigo por semanas, é claro que no meio do castigo ele fugia pra fumar nas escadas da igreja com sua galera.
Guto seguiu falando sua decisão, até que então ele resolve comunicar a seu grande amigo que ele tem um plano, vulgo promessa de se reencontrarem no dia 15 de Setembro, no meio da mata, aos pés da maior árvore existente ali, o Ipê branco. O plano consistia na aventura de Theo, Fred e Lincoln pegarem a estrada até a mata, acamparem por lá e assim rever Guto que na esperança dele, naquele futuro que ele estava imaginando, ele estaria bem e feliz, com sua nova vida, sendo respeitado e admirado por ter passado pelo que passou e continuar firme.
Aos poucos Theo conseguiu digerir cada instrução de Guto, até porque a data dava certo com uma programação interna da escola, onde os alunos passariam algumas noites lá. Seu peito encheu-se de uma esperança. Seu amigo iria embora, buscar uma vida melhor, mas a ideia de poder rever ele em mais ou menos 3 meses parecia  reconfortar o coração de Theo, que naquele mesmo momento começava a pesar, sentindo cada vez mais a falta do seu amigo.

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