VII

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Imani Ember

Com os pés apoiados em cima da grande mesa do conselho, observo meu pai girar de um lado para o outro em um silêncio torturante enquanto espera pela chegada da mamãe.

Meu pai sempre foi um homem apaixonado pela minha mãe, um amor digno de um conto de fadas, nunca a excluiu de nada e sempre a tratou como sua igual, porém, minha mãe por outro lado, sempre se colocou em uma posição inferior a dele, sempre deixou bem claro de que era submissa a ele e que por ordem da natureza todas as mulheres deveriam ser assim, mas, meu pai faz questão de a escutar e valorizar tudo o que ela diz, nunca tomando uma decisão sem antes pedir o conselho de sua amada rainha.

Sempre achei minha mãe problemática, mas, não a culpo, não sei se ela enlouqueceu desse jeito com o tempo ou foi só eu que nasci e provoquei esse efeito, afinal, ela perdeu seis filhos por minha causa.

Sempre pensei bastante sobre as consequências da nossa vida. É tolice pensar que podemos fazer o que quisermos de graça, sempre há um preço para tudo o que fazemos, seja boa ou ruim a consequência virá.

Então, penso em algo que aconteceu no passado, não sei nada sobre o passado da minha mãe, isso porque ela nunca foi o tipo de mãe que me acolhia em seus braços e me contava uma história para dormir ou me contava suas aventuras do passado; ela foi o tipo de mãe que me cobrava perfeição e me enviava para diversos tutores e me jogava no colo de diversas babás.

Se para tudo o que fazemos há um valor a ser pago ou recebido, eu com toda certeza devo ser a conta que a minha mãe tem de pagar. Eu com toda certeza sou o acontecimento mais torturante da vida dela.

Observo minhas botas limpas e perfeitamente novas, enquanto brinco com o babado do vestido vermelho cheio de camadas que estou usando.

Após demorar dez minutos fazendo um penteado no meu cabelo extremamente volumoso e rebelde, me demorei escolhendo um vestido para usar, particularmente vestidos com certeza são uma das minhas coisas favoritas no mundo, é como se me desse uma classe a mais e realçasse ainda mais a minha beleza, então não pude deixar de usar um vestido vermelho, já que o vermelho é a minha cor favorita.

Porém, a combinação de botas e vestidos com certeza não está dentro do padrão de moda que foi imposto pela minha mãe, ela ficaria maluca se visse.

Então, antes que ela entre como uma criatura feroz, resolvo retirar os pés de cima da mesa e arrumar minha postura, erguendo os ombros e alinhando minha coluna.

Analiso meu pai, o rei Daren; a coroa de ouro com rubis descansava em sua cabeça careca, seus olhos grandes são iguais aos meus; sua barba está perfeitamente alinhada, impecável; sua pele preta como o céu noturno brilha com os raios de sol que entram pela enorme janela da sala do conselho; seus músculos revelam seu treino diário e a sua postura é digna de um rei e apesar de caminhar nervoso pela sala, seus passos não deixam de exalar magnificência.

Ouço passos apressados ecoando pelo corredor por trás da porta.

É ela...

Engulo em seco e verifico minha postura, teria de estar perfeita.

- Onde está essa garota?- A rainha Jana vocifera, abrindo as duas enorme portas do conselho e entrando apressadamente na sala, sem conseguir esconder sua cólera.

- Aqui, mamãe!- A respondo firmemente, escondendo meu medo.

Quando seu olhar se volta para mim, noto seu desgosto. Ela começa a caminhar com classe, vindo em minha direção, com seu vestido verde escuro em sua silhueta esbelta. Apesar de estar fervendo de raiva, ela a esconde com perfeição, usando uma máscara de indiferença; fora os olhos do meu pai, o resto saiu da minha mãe, as maçãs altas; a boca delineada e carnuda; os cabelos volumosos e rebeldes. A diferença entre nossos cabelos é que enquanto prefiro os meus livres, os dela, sempre estão presos em um elegante coque apertado.

Rainha da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora