Bejeweled

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Uma cerimônia de parceria não era o melhor momento para Azriel realizar uma autoavaliação de suas ações passadas. Ações essas completamente desprovidas da sua inteligência habitual, diga-se de passagem.

Que a Mãe o proteja de sua própria estupidez.

Mas era exatamente isso que ele estava fazendo durante a cerimônia do seu irmão. Buscando descobrir quando e porque ele havia transformado a própria vida em um desastre.

Seu primeiro pensamento foi que as coisas começaram a dar errado quando ele escolheu correr atrás de uma garota que já tinha parceiro. Ele sabia disso, tinha plena consciência que aquilo era errado e que sua teimosia acabaria voltando e o mordendo bem na bunda.

A verdade é que ver seus irmãos, as únicas pessoas que sempre estiveram ao seu lado, pessoas por quem ele estava disposto a sacrificar a própria vida sem pensar duas vezes, encontrando suas parceiras e sua felicidade foi surreal. Alguns poderiam dizer que o illyriano estava simplesmente com inveja de Cassian e Rhys, pela Mãe, como ele queria que fosse apenas isso.

"Um laço de parceria é uma coisa extremamente rara", era o que todos diziam. "Praticamente impossível de acontecer".

Azriel não era mais um garotinho quando ouviu pela primeira vez essas histórias, ele ainda poderia se lembrar de como se sentiu quando descobriu sobre esse amor mágico e incondicional, esse destino implacável, sem mais abandonos ou rejeições, alguém que ficaria para sempre do lado dele. Naquele momento ele foi tomado por um sentimento que jamais soube descrever, era uma grande confusão de alegria, medo, encanto e principalmente esperança.

A primeira vez que ele pensou ter encontrado sua parceira foi com Mor, passou quase trezentos anos com a certeza de que ela era a única fêmea possível para completar esse lugar na vida dele, a luz para sua escuridão. Gradualmente (de forma muito mais lenta do que ele gostava de admitir) Azriel aceitou que a loira não era e nem desejava ser sua parceira, a esperança que queimava no peito do Illiryano foi gradualmente se esvaindo.

Depois surgiu Elain.

E é nesse momento que Azriel começa a demonstrar que não era a cabeça mais pensante de Velaris como todos supunham. Quando a conheceu a garota ainda era humana e não chamou muito a atenção do mestre espião, ele já havia visto outras humanas antes, aquela não era muito diferente das outras.

O dia em que as irmãs Archeron foram obrigadas a entrar no caldeirão foi caótico e extremamente doloroso para todos. Azriel se lembrava da dor, de ver seus amigos tentado protegê-lo, Cassian caído ao seu lado com as assas destruídas e se arrastando para tentar salvar a mais velha das irmãs, Lucien Vanserra falando algo sobre sua parceira e então nada mais.

Quando acordou já em Velaris e suas sombras contaram tudo o que haviam presenciado naquele salão, a inveja e a insatisfação começaram a corroer suas veias. Como poderia a Mãe escolher Lucien Vanserra para ser parceiro de uma Archeron?

O tempo passou e Azriel ficou cada vez mais próxima de Elain, os momentos que passaram juntos fizeram com que o rapaz tivesse ainda mais certeza do erro que a Mãe havia cometido.

Como era possível que Rhys e Cassian encontrassem suas parceiras e sua felicidade em duas irmãs Archeron e ele não? A Mãe o estava abandonando também? Ele não era merecedor de uma parceira?

Os questionamentos tiraram as já raras noites de sono do illiryano, que em busca de uma distração se afundou em missões que o mantivessem longe de casa. Até que o treinamento com as sacerdotisas começou.

Ele nunca iria admitir o quanto amava dar aulas para aquele grupo de pessoas.

Observar como elas aprendiam, pensar em novas estratégias para quando uma delas apresentava uma dificuldade, ver cada uma delas se tornar autoconfiantes e capaz de se defender.

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