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Gotham era sombria

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Gotham era sombria. Era como se algo pesado e macabro pairasse sobre a cidade. Bastava colocar os pés no lugar para sentir a diferença. Até a atmosfera da cidade parecia ser diferente, como se fosse um universo à parte do resto do mundo.

Gotham não era um destino de férias. Ninguém em sã consciência colocava os pés na cidade por opção. Não era um lugar para passar nem que fosse um único dia, morar então era loucura.

E Bruce Wayne se considerava meio louco. Desde a morte dos pais, algo dentro dele havia mudado. Ele não sabia dizer exatamente o que, mas tinha certeza de que naquele dia algo havia morrido ou nascido dentro dele. Talvez o Batman houvesse nascido naquele dia. Gotham conhecia o vigilante mascarado há apenas dois anos, mas o Batman existia há muito mais tempo.

Seus pensamentos corriam soltos enquanto observava novamente as imagens gravadas pelas lentes de visão de detetive. Anotando cada detalhe, sem deixar passar nada. Aquela ação era extremamente necessária, pois sabia que seus olhos poderiam ter deixado algo passar, devido à falta de sono. E analisar toda aquela cena era ainda mais necessária por causa do novo assassino de Gotham, que havia matado o prefeito e deixado charadas.

Bruce havia descido até ali horas antes, logo após a reunião com os contadores. Na madrugada, ouviu o barulho do elevador e não precisou virar para saber de quem eram os passos e a bengala que ecoavam pela caverna.

— Imagino que tenha visto o noticiário - falou Alfred.

Wayne negou com a cabeça, sem desviar os olhos do caderno em que escrevia, pouco interessado no que Alfred falava, pois supunha que fossem mais notícias sobre o assassinato do prefeito. Os noticiários só falavam daquilo.

— Sobre o Carter Godwin.
— O quê? — questionou confuso, com a voz em tom baixo.

Bruce continuou com a expressão firme, mas sentiu uma leve agitação no peito ao ouvir o sobrenome Godwin.

— Foi assassinado — contou Alfred, fazendo com que Bruce finalmente o encarasse —Pelo mesmo assassino do prefeito.

Naquele momento, a cabeça de Bruce só se lembrou de um nome e um rosto. O nome e o rosto de uma pessoa que ele evitava ao máximo recordar.

Mas naquele momento, foi inevitável. Havia uma conexão entre os Wayne e os Godwin. Uma conexão antiga. Ligados não só por negócios, mas também por amizade. Amizade que Bruce havia destruído há alguns anos. Além disso, conhecia Carter Godwin, assim como toda a família Godwin, embora a família tivesse ficado reclusa nos últimos anos, sem nenhum tipo de aparição pública.

Naquele mesmo momento, o toque do celular que Bruce usava para se comunicar com Gordon ressoou pelo ambiente. Wayne lançou um olhar rápido a Alfred antes de colocar o celular no ouvido.

— Imagino que já esteja sabendo da morte do Carter Godwin — falou Gordon, sem cerimônia.
— Sim — confirmou Bruce, com a voz rouca e fria.

Aquele arranjo entre ele e Gordon já existia há dois anos, então Bruce apenas ficou em silêncio, o que era suficiente para Gordon entender o que ele queria.

— Você tem uma hora antes do comissário aparecer na cena do crime.

Gordon desligou em seguida e Bruce pegou a mochila, onde seu traje se encontrava. Ele caminhava em direção à sua moto quando ouviu Alfred.

— Você sabe que ela vai estar lá, não é? —falou o homem.

E Bruce sabia. Mesmo que não admitisse nem para si mesmo, não sabia se estava preparado para ver o rosto de Quinn Godwin depois de tantos anos.

— Ela estando ou não, não vai haver a menor diferença- respondeu, colocando o capacete e subindo na moto.

Saiu da caverna em alta velocidade, tentando pensar o mínimo possível. Logo chegou em um túnel abandonado, onde vestiu seu traje e seguiu para a mansão dos Godwin. Ainda a uma distância da mansão, pôde observar a multidão que estava reunida no portão. Bruce seguiu para a porta dos fundos, onde encontrou Gordon o esperando.

— O comissário vai aparecer logo, vamos!

Gordon guiava Bruce pelos corredores da casa, mas o que ele não sabia era que Wayne conhecia aquela mansão como a palma de sua mão. Estar ali trazia uma sensação tão familiar que surpreendeu Bruce, mesmo estando longe há anos. Cada canto trazia uma lembrança diferente, porém com uma única pessoa.

Começou a avistar diversos policiais, que se voltaram para ele com feições de desagrado, não mais curiosidade, já que o tinham visto na casa do prefeito para investigar.

Ao passar pelo salão da mansão, avistou rostos conhecidos, rostos que não via há anos. River e Rosalie Godwin. O garoto que não era mais a criança que Bruce costumava conhecer, chorava enquanto conversava com os policiais, juntamente com sua mãe, que parecia tentar consolá-lo.

Aquele era o garoto que Bruce viu nascer, que implicava e que ensinou a andar de skate. E aquela era a mulher que o tratava como filho, que o abraçava e dizia para deixar a porta aberta sempre que ia em direção ao quarto de Quinn.

Quando Bruce percebeu que seus pensamentos chegaram a mulher, logo os repeliu. Voltou a andar em direção ao escritório onde o corpo se encontrava.

Ao entrar no escritório, começou a analisar todo o ambiente. Logo seus olhos pousaram no corpo de Carter. O Batman não podia demonstrar emoção, mas Bruce estava sentindo tudo. Ao ver como o velho amigo de seu pai havia sofrido, com mãos decepadas e pescoço quebrado.

Gordon virou-se para ele e entregou um cartão com outra charada. Métodos e repetições. Pelo jeito, estavam realmente lidando com um serial killer.

Quem me faz não diz que faz. Quem me tem não sabe que tem. E quem sabe não me quer ter de jeito nenhum. Quem sou eu?

— Dinheiro falso. — respondeu Bruce, devolvendo o cartão — A resposta para a charada é dinheiro falso.
— O que ele está tentando nos dizer?! —questionou-se Gordon.

Muitas coisas, pensou Bruce. Depois de analisar todo o lugar, Bruce deduziu que o homem não havia sido morto ali e que o assassino havia entrado por outro lugar.

Bruce logo saiu do escritório e passou a andar pelos grandes e vastos corredores da mansão, tentando descobrir a entrada. Ao avistar uma porta conhecida, de um cômodo bastante frequentado por ele, Bruce engoliu em seco e, sem parar para pensar, abriu a porta.

Mesmo na escuridão, conseguia enxergar que nada havia mudado desde a última vez que estivera ali. Caminhou lentamente até o porta-retrato que estava ao lado da cama, e o pegou. Eram versões dele e de Quinn quando mais jovens. Lembrava-se do momento da foto. Dos fios loiros voando por conta do vento, dos olhos azuis a fitando e da fragrância de flores dela.

— Olá, Bruce.

Aquela voz. Bruce sentiu todos os pelos do seu corpo se arrepiarem. Era uma presença familiar, mas ao mesmo tempo desconhecida. Bruce não sabia se conseguiria encarar, mas começou a virar-se lentamente, sentindo seu coração bater cada vez mais rápido.

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⏰ Última atualização: Aug 19, 2023 ⏰

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𝗖𝗔𝗧𝗛𝗔𝗥𝗦𝗜𝗦, 𝚃𝙷𝙴 𝙱𝙰𝚃𝙼𝙰𝙽Onde histórias criam vida. Descubra agora