Capítulo 5

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Depois de tudo Enid conseguiu ficar ainda mais grudada na amiga. Acompanhando Wednesday em todos os lugares possíveis, carregando seus livros e sua mochila, só pra escutar que somente os fracos carregam suas próprias coisas. E por mais que Wednesday odiasse admitir, ela gostava de ter Enid junto dela, aquele imã invisível que puxava as duas pra perto parecia ficar mais forte a cada momento que ela passava com a loirinha.

"Toma." – Enid fala calmamente jogando um pacotinho de Fini na mesa de Wednesday. Elas estavam no meio de uma aula sobre plantas carnívoras e Wednesday olha em sua direção, observando sua oferta.

"Do nada isso?" – ela pergunta suspeita. – "Colocou veneno nisso por acaso?"

"Você não comeu nada de manhã e saco vazio não para em pé." – Enid responde, empurrando saquinho pra perto de Wednesday.

"Como sabia que eu gosto desse?" – Wednesday continua suspeitando. Enid revira os olhos.

"Chutei. Você não comeu nada mais cedo e tem mania de esquecer que está com fome então só aceita e pronto." – ela coloca o saquinho nas mãos de Wednesday antes de voltar sua atenção pra aula.

"Mas eu não tô com fome." – Wednesday retruca, devolvendo o saquinho pela mesa.

Enid vira devagar pra ela, estreitando os olhos. – "Não perguntei."

Seu olhar faz Wednesday se mexer desconfortavelmente na cadeira e, pela primeira vez, ela quebra o contato visual primeiro, olhando pra frente com vergonha. Ela alcança a bala na mão de Enid e pega pra ela, olhando pro saquinho como se não soubesse o que fazer com aquilo. Ela olha de relance pra Enid e se surpreende ao perceber que ela ainda a observava, indicando o saquinho com o olhar e esperando a reação de Wednesday. Ela hesita por um momento antes de obedecer e abrir o pacotinho e pegar uma das balas. Enid assiste todos seus movimentos até que Wednesday dá a primeira mordida, finalmente voltando sua atenção pra aula com um sorriso. Mastigando a bala devagar Wednesday aprecia o sabor, tentando lembrar quando foi que Enid descobriu que ela gostava desse Fini.


E não parou por aí, todo dia Enid fazia questão que Wednesday estivesse bem alimentada, trazendo lanches e refeições pra ela quando Wednesday não queria ir até a cantina pra pegar, pois seu tornozelo ainda a incomodava um pouco. No começo Wednesday reclamava quando Enid trazia as coisas, a repreendendo por gastar seu dinheiro com ela. Mas depois de alguns dias recebendo esse tratamento, ela simplesmente aceitou calada enquanto Enid colocava uma marmita em sua mesa. Wednesday parou brevemente de digitar e Enid se virou pra sair dali, mas parou quando escutou um leve "valeu..." – acenou com a cabeça e seguiu seu caminho pro outro lado do quarto.

Em algum momento a hora da escrita de Wednesday chegou ao fim e ela se esticou, estendendo os braços por cima da cabeça, e após estalar as costas, ela voltou a atenção ao seu redor. Enid estava sentada na cama assistindo alguma coisa no seu celular com volume detestavelmente alto enquanto uma tempestade com trovões caía lá fora.

"O que você tá assistindo que precisa estar tão alto assim?" – ela pergunta com um tom de irritação.

"É esse reality show aqui..." – Enid começa a tagarelar sobre as regras e como os participantes tinham que passar por certos desafios e competir um contra o outro.

"Parece péssimo." – a gótica responde, destampando sua comida e começando a comer devagar. Ela se mantém de costas pra Enid, mas sua audição focada em escutar o que acontecia no reality show.

Enid olha pra garota sentada feito estátua na mesa, normalmente Wednesday lia enquanto comia, mas ao invés disso estava sentava quieta, os movimentos incrivelmente lentos, como se estivesse tentando não fazer barulho. Uma lâmpada se acendeu na cabeça de Enid, que abaixou o volume do celular e olhou na direção da morena, observando ela virar brevemente a cabeça pra tentar escutar melhor o som mais baixo. Um sorriso se abriu no rosto de Enid, que deu uma risada.

"Ei, vem cá assistir comigo." – ela oferece cruzando o quarto e se jogando na cama de Wednesday. Ousada.

Wednesday olhou pra garota curiosamente, mas decidiu não comentar sobre a invasão de sua cama.

"Eu preferia, literalmente, morrer." – ela diz seca, mas se levanta pra descartar a marmita e o garfo de plástico no lixo antes de se sentar em sua cama ao lado da loira, fazendo questão de deixar um espaço entre as duas. Enid sorri pra si mesma, aumentando um pouco o volume e dando play. As duas assistem juntas, Enid fazia comentários de vez em quando, ou soltava um suspiro surpresa, ou uma reclamação quando alguém que ela gostava era eliminado. Wednesday, pelo contrário, não estava dando importância, na verdade, estava mais focada na proximidade das duas. Parecia que Enid estava emanando um cheiro como ondas, invadindo o nariz de Wednesday, a deixando com um sentimento quente e nojento no peito.


Enquanto a chuva caía lá fora e os trovões estalavam no céu, ela não conseguia segurar o sono que estava a tomando. Talvez fosse seu subconsciente, talvez não, mas de algum jeito ela se moveu encostando seu braço em Enid. A loira vira pra olhar pra ela, olhos quase brilhando no escuro do quarto, mas os olhos da menor que já fechavam foram forçados a abrir e continuar assistindo o programa. Wednesday sempre foi fria, pele fria, comportamento frio. Mas quando se encostou em Enid, que era tipo o sol e tudo que é bom, sentiu todo o calor que ela radiava se esvair pro seu corpo. Apenas um pequeno toque a deixou completamente relaxada, algo que ela nunca permitiu de outra pessoa. O calor foi de seus braços até seus dedos do pé, a abraçando e, finalmente, chegando a sua mente. Em algum lugar na parte de trás de seu cérebro, seu eu lógico deve estar pensado que merda é essa que tá acontecendo e por que Enid tinha esse poder sobre ela. Como ela conseguia fazê-la se sentir tão segura, tão protegida? Mas o sono eventualmente vence e ela diz pra si mesma que vai só descasar os olhos por um momento, mas quando eles fecham ela começa a deslizar e suas bochechas descansam delicadamente nos ombros de Enid e a garota apaga.

Enid trava, não ousando mexer um músculo sequer com medo de que Wednesday acorde. Ela olha pra morena dormindo e aquele novo sentimento retorna, uma possessividade que ela ainda não estava acostumada. Sua mente estava transbordando só de pensamentos sobre a garota, ela não queria que isso acabasse nunca, se ela morresse agora com Wednesday ao seu lado ela morreria feliz. Pensa o quão raro e frágil é esse momento, se qualquer outra pessoa visse a morena nessa situação com certeza teria um fim cruel. Menos Enid. Ela quer proteger esse lado de Wednesday, o lado vulnerável e mole que só ela tinha permissão de ver. Imaginar Wednesday se abrindo pra qualquer outra pessoa desse jeito faz seu estômago revirar e ela sente um grunhido interno. Seu lobo interior se agita colocando outros pensamentos em sua cabeça. Wednesday pertencia a ela, e ela tinha que protegê-la. E só de pensar que Wednesday pertencia a ela, assim como ela pertencia a Wednesday, estava a deixando louca, e assustada. Wednesday era dona de si mesma, mas seu lobo gritava que ela também era da Enid. Ela deixa esses pensamentos de lado por agora, aproveitando a paz que substituiu o nervosismo em seu corpo. E descansando a cabeça em Wednesday gentilmente ela se sentiu em paz.



Créditos: Chaos_of_the_valkyries no AO3

Tradução por: mim

Por essa eu não esperavaOnde histórias criam vida. Descubra agora