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Revisado.

Era manhã. Seis da manhã exatamente. Salvador estava começando a despertar e os raios ainda fracos de sol preenchia aos poucos toda a cidade.

Os trabalhadores, escravos do sistema capitalista que os aprisiona na pobreza, caminhavam até seus empregos para mais um dia cheio. O comércio era aberto, crianças acordavam para ir a escola, bêbados passavam as noites em seus bares, acabando com as chances que nem tinham de ter uma vida decente. Mas nem eles acreditavam nisso. Se estão ali, é porque o destino fodeu com eles de uma forma péssima e pelo visto o único ponto de escape que encontraram foi a bebida. São seres humanos que perderam a esperança na história horrível que Deus entregou ao seu povo.

Entre a população, duas mulheres que passeavam pela cidade estavam comentando sobre um certo homem, cujo este caminhava pelas ruas da capital baiana.

— Olhe, Lisbela. — Vera cutucou a amiga — Lá vem ele.

— Hein? Ele quem? — Lisbela franziu o cenho.

— Menina tola... — murmurou revirando os olhos — Seokjin, o homem a quem te falei ontem! Não lembra?

— Ah, sim! — sua face clareou como se uma lâmpada tivesse sido acesa na cabeça — Eu me recordo!

Os olhos das amigas miraram à Seokjin como se fosse inevitável. Suspiraram quase perfeitamente sincronizado, numa confissão discreta do quanto a beleza natural do homem nas conversas as atraía e nenhum som fora proferido delas pois ele estava a passar e se contentaram em apenas admirá-lo.

Os fios ondulados de cor acastanhada eram repartidos na esquerda, quase ao meio. Uma parte da franja bem modelada caía por cima de seus olhos asiáticos também castanhos. Vestia uma camisa social na cor aveia, com as mangas da blusa dobradas até os cotovelos, deixando à mostra o antebraço e também, o último botão aberto deixava exposto a pele macia e cheirosa do pescoço e um pouco de peitoral. A camisa foi colocada dentro da calça larga de cintura alta na cor marrom mogno, com um cinto preto acentuando a cintura bonita. Os sapatos sociais também pretos estavam em uma condição perfeita e quase reluzentes de tão bem cuidados.

O conjunto de peças que ele escolheu era consideravelmente despojado mas ainda sim, aquele homem parecia mais elegante do que qualquer um. Os ombros largos tão bem valorizados, os dedos longos cerrados no punho e a expressão fechada lhe entregavam um ar de seriedade. O jeito de caminhar, por mais apressado que seja contava sempre com a postura reta. Ele arrancava olhares de pessoas, moças e até moços por onde quer que passasse. Seokjin era belo como um príncipe.

— Puxa, Vera... Ele é realmente tão rabugento assim como você diz? — Lisbela pergunta genuinamente.

Porém não esperava uma terceira voz lhe respondendo fazendo-a saltar de susto.

— Se for para ir me difamando logo de manhã cedo, peço para que pelo menos espere eu passar. — Seokjin disse ríspido. — Mas será possível que eu não tenho um minuto de paz!

— Ah, senhor! M-Me desculpe, e-eu não-

— Tenha calma, Homem. A menina só me fez uma pergunta. — Vera interrompe a amiga, ficando na frente dela.

— 'Tu não tem vergonha nessa cara não, Dona Linguaruda?

— Do quê? De dizer o que o senhor tem de belo equilibra com o fato de ser um cavalo? Não mesmo, sou bem sincera. — Vera empinou o nariz e Lisbela se escondia atrás da mulher.

— Pois acorde, viu? — ele arqueou a sobrancelha —  'Tá sonhando muito ao ponto de confundir sinceridade com essa babaquice de falar dos outros como se fosse santa.

O Sapateiro | NAMJIN Onde histórias criam vida. Descubra agora