No fun

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Adrienne estava sentada na cama, olhando os dois braços cheios de bandagens, e coberta nas pernas por um edredom grosso. Usava um blusão enorme e calcinha e apenas isso. Não podia dizer que sua dignidade estava em um de seus melhores dias, mas tinha conseguido se vestir sozinha enquanto William resgatava as bandagens - agora em seu braço - do fundo de um armário.
Quando ele entrou, trazendo uma pequena travessa, ela se ajeitou na cama. Havia um copo, com algo quente e esfumaçando, e im prato, que ela logo viu, tinha banana e morangos picados, e um pão torrado com manteiga. O copo, ela notou, parecia leite com chocolate e ao lado do copo, dois comprimidos. Adrienne não conseguia lembrar de alguém fazendo isso por ela antes, e sentiu-se estranha quando ele depositou a comida ao lado dela.
- O que são esses? - Perguntou olhando os remédios.
- Um relaxante muscular e um remédio para dor de cabeça, imagino que vá precisar.
Ela concordou, em silêncio. Agora, a sobriedade estava bem alta, e ela pegou um morango do prato e colocou na boca, olhando para o prato com atenção.
- Quer me falar dos seus braços agora? - Ele perguntou.
- Não há muito o que falar... não é nada criativo. Ajuda a me acalmar.
- Sente dor quando os faz?
- Na hora... pouco. Depois, bastante. É como eu lembrete, de que estou viva.
- Pode conversar comigo, quando precisar se acalmar. Vou fazer o melhor para ajudar com isso... vamos descobrir um modo.
- Por quê está fazendo isso? - Ela perguntou olhando para ele. - Você não tem obrigação alguma, e eu não vou fico em um lugar por muito tempo.
Ele queria falar muitas coisas, mas não era o momento.
- Você precisa e merece. E eu fico feliz em poder fornecer. A pergunta é: por quê eu não faria? - Sorriu. - Tome os remédios.
- Eu preciso continuar a investigação.
- Sim... mas não esta noite. - Concordou ele. - Esta noite, você vai comer e dormir.
- Você é virgem? - Ela imaginou a pergunta na sua cabeça, mas talvez pela bebida, a pergunta saiu dos seus lábios antes mesmo dela perceber a intimidade ali.
- Hum... - Ele disfarçou o choque da pergunta direta. - Não, não sou. Tive uma vida antes do sacerdócio. Você é?
- Não.
- Remédios, Ade. - Ele reforçou, vendo ela finalmente pegar o primeiro comprimido.
- Sinto muito... por ter vomitado e tudo mais.
- Vamos conversar sobre isto depois. - Ele falou. - Agora eu quero que descanse.
- Eu posso me cuidar sozinha... agradeço o que fez por mim hoje...
- Eu vou te parar aí. - Ele interrompeu. - Eu lhe dei a oportunidade de negar minha ajuda, você foi incapaz de fazer isso. Apesar da sua luta interna, você está aceitando relativamente bem tudo... e seus braços e sua atitude me mostram que você não apenas precisa, mas que pode ser vital para você receber minha ajuda. Eu lhe dei a chance de negar, Ade... agora não estou mais lhe pedindo nada. Compreendo que esteja desconfortável, envergonhada e que seja difícil estar na sua posição. Você tem direito de sentir tudo isso. Mas, entenda uma coisa, agora já estou aqui, e eu não faço algo pela metade.
- Podemos conversar... eu posso... conversar com você, mas quero manter minha privacidade.
- Uhum... a resposta é não.
- William, eu não estou...
- A resposta é não, Adrienne. Entendo que sinta vergonha e que não goste, mas não terá privacidade, e nem mesmo se cuidará sozinha.
- Mas eu...
- Não, Ade. - Falou mais firme. - Eu vou ter acesso ao seu corpo, e tratar dos ferimentos...e vou continuar tendo acesso aos seus cuidados, enquanto julgar necessário.
- Você não pode. - Negou. - Já falei que não!
- Seus braços me dizem o oposto. - Suspirou. - Lamento, Ade. Sei que é difícil, mas vai se acostumar.
- Você não pode ficar tomando essa decisão por mim! Eu não vou ficar tomando banho com você! Eu sou uma mulher, tenho minhas necessidades de privacidade e preciso dela!
- Para se cortar?
- MEU DEUS, WILLIAM! - Gritou, colocando a comida de lado. - Eu preciso me depilar, eu menstruo, eu uso o vaso!!! Eu não estou pedindo, eu preciso de privacidade.
- Primeiro, baixe o tom comigo. Segundo, só um idiota daria uma gilete na sua mão. Quer se depilar? Me avise e veremos o que fazer. Terceiro, que bom que você menstrua. Eu fico feliz, lidaremos com isso e não é nenhum monstro de sete cabeças, já vi sangue antes. Quarto, eu também vou ao vaso e não vejo problema com isso.
- Não pode estar falando sério. Eu já permiti que me desse banho uma vez, eu não vou permitir que me veja no banheiro.
- Adrienne, eu vou lhe ver no banheiro... vou lhe dar banho... e pode ter certeza, eu pretendo fazer um bom exame em você amanhã. Inteira.
- EU NÃO QUERO ISSO!
- Adrienne, tudo bem. Não quer? Arrume suas coisas e vá embora hoje. Faça isso, e entenderei que você não quer. Se ficar, é sob meus termos.
- Você é um idiota. - Bufou de raiva.
- Sei disso. - Sorriu. - O outro comprimido.
- Não estou afim.
- Ou você toma ele, ou eu ficarei feliz de pegar um supositório para dor e colocar em você.
Irritada, Adrienne pegou o comprimido e colocou na boca. Ele não ia ficar mandando nela assim... não ia mesmo!
- Feliz?
- Muito. Tome o leite.
Adrienne começou a tomar o leite, e ele sorriu.
- Vou te deixar descansar. Amanhã desça com o canivete, que você no meu escritório as 8. - Deu um beijo no cabelo dela. - Se sentir qualquer coisa pode me chamar.

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